Neon aposta em social finance de olho em concorrência com big techs

Banco digital contrata André Madeira, fundador da startup de IA Meemo, como novo CTO em momento em que competição no setor se torna mais acirrada

Soluções customizadas a partir da inteligência de dados dos usuários devem predominar no setor financeiro, avalia o Neon
06 de Julho, 2022 | 11:05 AM

Bloomberg Línea — O aumento global das taxas de juros e a consequente redução de capital para startups não são os únicos desafios das empresas “novatas” no momento atual. Manter o crescimento diante da concorrência crescente é uma tarefa ainda mais premente. Para o Neon, um dos unicórnios brasileiros no setor financeiro, é momento de uma guinada estratégica que concentrará capital no desenvolvimento de tecnologia dentro de casa, em linha semelhante à adotada pelas big techs, as gigantes de tecnologia.

A fintech fundada por Pedro Conrade em 2016 acaba de dar início ao que descreve como grande reformulação de sua área de tecnologia. Para liderar a transformação pretendida, contratou André Madeira como CTO (Chief Technology Officer), um empreendedor que fundou a Meemo, uma startup de social finance com uso de Inteligência Artificial (IA) que foi comprada pela Coinbase no começo de 2021. O negócio foi apresentado à época como uma acquihire, ou seja, uma aquisição para incorporar capital humano.

PUBLICIDADE

“As fintechs atuais são mais fin do que tech. Não há tecnologia criada para finanças, mas adaptações do que já existe em outras áreas. O que vai acontecer é que as big techs estão entrando nesse jogo e a concorrência será muito mais feroz. E elas sabem trabalhar com usuários e dados em larga escala. E sabem como engajar o usuário no momento certo, com a oferta certa e a pegada certa”, disse Madeira à Bloomberg Línea.

“Para sobreviverem, fintechs terão que trabalhar com dados em larga escala, sistemas distribuídos, machine learning, Inteligência Artificial etc., senão vão ficar para trás. Cada vez mais, elas estão parecidas na oferta de produtos e serviços, como se apostassem em um commodity play.

“A relação das pessoas com o dinheiro é muito emocional, especialmente nas camadas de pessoas de menor renda. Conquistar a confiança por meio de produtos que sejam justos, úteis e de fácil entendimento é chave para criar uma conexão leal entre consumidores e produtos e serviços”, afirmou o CTO.

PUBLICIDADE

Segundo Madeira, o potencial de ganho do setor não está nem nas tarifas cobradas de bancos incumbentes nem no crédito, mas na geração de valor para o usuário a partir dos dados de seus hábitos financeiros. É o caminho trilhado por gigantes como Google, Facebook (Meta) e Amazon, apontou.

O executivo não informou quantos profissionais pretende contratar para a área de tecnologia e disse que esse aumento do quadro vai acompanhar a evolução dos principais projetos. Atualmente, o Neon conta com cerca de 1.800 trabalhadores.

O Neon é um dos maiores bancos digitais do país, com 15 milhões de clientes ao fim de 2021, atende pessoas físicas e microempreendedores individuais (MEIs). Em fevereiro, ou seja, pouco antes da redução de capital para startups no mundo, o Neon fechou uma captação de US$ 300 milhões (cerca de R$ 1,6 bilhão) em uma rodada Série D liderada pelo grupo espanhol BBVA.

PUBLICIDADE

Segundo o banco, a projeção é mais do que dobrar a receita neste ano em relação a 2021.

“Madeira tem uma carreira construindo e liderando times de engenharia e dados, por mais de uma década, no Google e no Snap, criando produtos escaláveis e altamente personalizados”, disse o Neon em nota.

Segundo o novo CTO, produtos financeiros já em desenvolvimento no Neon serão adaptados para que contem com o uso maior de soluções como inteligência de dados, enquanto a empresa se preparar para desenvolver do zero novas funcionalidades com a nova perspectiva de IA, por exemplo.

PUBLICIDADE

A virada do mercado para empresas de tecnologia tem levado fundadores a acelerar medidas que busquem reforçar as bases para o crescimento - caso do Neon - ou aumentar a eficiência da operação. Neste segundo caso, as medidas passam por demissões em áreas consideradas menos estratégicas. É o caso da Loft, que anunciou ontem (5) o segundo corte no ano como parte do plano de reforçar o negócio.

Leia também:

Passoni, ex-SoftBank: Passado o boom, empresas serão vendidas ‘por quase nada’

Exclusivo: David Vélez, CEO do Nubank: ‘não vemos necessidade de demissões’

Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.