Turquia volta a ameaçar veto à entrada da Suécia e Finlândia na Otan

Obstáculo para ratificação dos pedidos dos países nórdicos é o descumprimento de promessas de combate ao terrorismo e extradição de suspeitos

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Bloomberg — A Turquia voltou a ameaçar vetar a candidatura da Suécia e da Finlândia à Otan mesmo com a aliança militar que abriu formalmente o caminho para que os países nórdicos se juntassem à organização.

A Turquia não vai ratificar a entrada dos países solicitantes na Organização do Tratado do Atlântico Norte se eles não cumprirem suas promessas de combater o terrorismo e extraditar suspeitos nos termos de um memorando de entendimento firmado em uma reunião da aliança em Madrid na semana passada, disse o ministro das Relações Exteriores, Mevlüt Çavuşoğlu, nesta segunda-feira (4).

“A Suécia e a Finlândia deverão obedecer ao documento; caso contrário, não permitiremos que se juntem à Otan”, disse Çavuşoğlu à emissora NTV.

Todos os 30 países aliados assinaram protocolos de adesão para a Suécia e a Finlândia em uma cerimônia em Bruxelas na terça-feira (5), convidando formalmente os países e permitindo seu acesso a quase todas as reuniões da Otan. O protocolo deve então ser ratificado pelos parlamentos de países aliados antes que os nórdicos possam se tornar membros da Organização.

O secretário-geral da Otan Jens Stoltenberg disse a repórteres que está contando com todos os aliados para garantir uma rápida ratificação e que espera que o processo demore “meses”.

Apesar do acordo em Madrid, a persistência da ameaça da Turquia ainda pode complicar o processo de adesão. O presidente turco Recep Tayyip Erdoğan vai passar por eleições presidenciais e parlamentares em menos de um ano. Se sua postura for considerada rígida, isso pode render o apoio de círculos nacionalistas.

Erdoğan afirmou na semana passada que o parlamento da Turquia não ratificará os pedidos da Suécia e da Finlândia se os países não mantiverem suas promessas sobre as questões de segurança da Turquia, acrescentando que a Suécia recentemente prometeu extraditar dezenas de pessoas que a Turquia considera serem terroristas e entregá-las a autoridades turcas para os devidos trâmites legais.

Promessas

“A Suécia prometeu nos entregar 73 pessoas”, disse Erdoğan. “Vamos monitorá-la e vamos tomar a decisão adequadamente”.

A ministra de Relações Exteriores da Suécia, Ann Linde, disse a repórteres em Bruxelas que “não há menção de listas ou números no memorando”. Ela acrescentou que “durante as negociações em Madrid, também não foi feita menção a números ou listas específicas”.

O acordo assinado pela Turquia, Suécia e Finlândia afirmava o seguinte: “A Finlândia e a Suécia tratarão os pedidos da Turquia para a deportação ou extradição de suspeitos de terrorismo com rapidez e cuidado, levando em considerações as informações, evidências e inteligência oferecidos pela Turquia, e estabelecerão as estruturas legais bilaterais necessárias para facilitar a extradição e a cooperação com a Turquia, de acordo com a Convenção Europeia sobre Extradição”.

A Suprema Corte rejeitou a grande maioria das solicitações de extradição da Turquia na última década, e o governo afirmou que as autoridades continuarão seguindo as leis suecas durante a avaliação de quaisquer pedidos.

Combate ao terrorismo

É importante combater o terrorismo, mas obviamente devemos fazê-lo segundo as leis da Suécia e as convenções internacionais”, disse a primeira-ministra Magdalena Andersson a repórteres no fim de semana. “Se não estiver envolvido com terrorismo, não há motivos para preocupação”.

Andersson, que não quis comentar sobre números específicos de pedidos de extradição, enfatizou que, segundo as leis do país os cidadãos suecos não podem ser extraditados. Diversas pessoas que supostamente estão na lista para extradição apresentada pela Turquia já haviam apresentado seus casos ao Suprema Corte, que rejeitou os pedidos.

Na tarde da terça-feira, o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, irá a Ancara para a primeira reunião entre os dois países em mais de uma década. A reunião terá como foco a invasão da Ucrânia pela Rússia, questões energéticas e como melhorar os laços corporativos. O encontro também marcará a melhora das relações depois que Draghi chamou Erdoğan de ditador no ano passado.

--Com a colaboração de Chiara Albanese, Natalia Drozdiak, Kati Pohjanpalo e Leo Laikola.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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