Bloomberg — A China até agora parecia imune à inflação debilitante que aflige as outras grandes economias do mundo, mas isso pode ter começado a mudar com a disparada dos preços da carne suína.
O governo chinês iniciou uma campanha para esfriar o mercado da principal proteína animal consumida no país, cujos altos custos ameaçam as metas de inflação e complicam os esforços para estimular o crescimento. Os futuros de carne de porco em Dalian atingiram seu nível mais alto em um ano, e no atacado, os preços alcançaram uma máxima de seis meses.
Pequim vem tentando conter os preços das commodities há mais de um ano após a pandemia, e mais recentemente a guerra na Ucrânia, causarem escassez de todo tipo de matéria-prima, desde cobre a carvão. Mas o aumento da carne suína parece ser o início de um ciclo doméstico bem estabelecido que geralmente dura três ou quatro anos. O Goldman Sachs (GS) estima que a alta pode empurrar o aumento dos preços ao consumidor acima da meta de 3% do banco central.
Em um sinal de que as autoridades estão ficando preocupadas, o principal planejador econômico do país disse que estuda a venda de carne suína dos estoques estatais para evitar que os preços subam muito rapidamente, segundo comunicado na terça-feira. Também pediu que grandes criadores de suínos mantenham a produção normal e não segurem mercadoria.
As autoridades têm uma vasta experiência em tentar domar o mercado de suínos nos últimos anos, depois que os preços atingiram um recorde em 2019, após um surto nacional de peste suína africana, uma doença fatal para os animais. Podem tentar gerenciar o tamanho de rebanhos diretamente com os produtores, incentivar os bancos a emprestarem aos criadores e liberar estoques. Mas estarão trabalhando contra forças poderosas.
“Quando todo mundo acredita que os preços vão subir, eles tendem a acumular e as coisas podem sair do controle”, disse Lin Guofa, chefe de pesquisa da consultoria Bric Agriculture. “Mas uma vez que as expectativas se revertem, os preços também podem mergulhar mais fundo.”
A carne de porco mais cara tem um impacto imediato nos orçamentos familiares já sobrecarregados pelas restrições da política Covid Zero que atingiram a economia. Além desse impacto direto, a carne suína é o maior componente alimentar do índice de preços ao consumidor, o que amplia o efeito da alta.
Em maio, os preços da carne suína na cesta do índice ainda estavam mais baixos do que há um ano. Se não fosse isso, os preços ao consumidor teriam subido 2,4% em vez de 2,1%, mas esse efeito pode se inverter à medida que os preços continuam a subir.
Leia também
Empresa de criptos investida da Coinbase congela saques e demite 30% do quadro
Mercados voltam do feriado hesitantes; medo de recessão guia as operações