China e EUA discutem fim das tarifas de importação impostas na era Trump

Governo americano vem expressando desejo de reformular sanções a produtos importados da China de forma que atendam às estratégias do país

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Bloomberg — Autoridades dos Estados Unidos e da China discutiram nesta terça-feira (5) as sanções econômicas e as tarifas dos EUA em maio a relatos de que o governo Biden está próximo de retirar algumas das contribuições comerciais impostas pelo ex-presidente Donald Trump.

O fim das tarifas e sanções e o tratamento justo das empresas chinesas são pontos de interesse para a China, disse o vice-primeiro-ministro Liu He à secretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen em uma videochamada nesta terça-feira, segundo declaração do Ministério do Comércio da China. A última vez que as duas autoridades haviam conversado havia sido em outubro.

Segundo a China, os dois lados discutiram a política econômica e a estabilização das cadeias de suprimentos globais, concordando que é importante que os EUA e a China fortaleçam a comunicação e a coordenação nessas áreas para benefício de ambos os países e do mundo. As negociações foram pragmáticas e construtivas, segundo a declaração.

Os EUA afirmaram que as negociações foram “francas e substanciais”, mas a transcrição oficial da reunião não mencionava tarifas nem sanções. No entanto, o documento afirmava que Yellen “mencionou francamente questões de interesse, incluindo o impacto da guerra da Rússia contra a Ucrânia sobre a economia global e as práticas econômicas injustas e não mercadológicas” da China.

O yuan offshore subia até 0,2% após a declaração da China, antes de reduzir os ganhos e praticamente ficar estável às 1h23 de Brasília. O índice de referência CSI 300 caía 0,4% na primeira parte do pregão, apresentando um desempenho pior que outros índices importantes da Ásia.

A videochamada entre as autoridades dos países ocorreu após relatos de que o presidente Joe Biden poderá anunciar o fim de algumas tarifas dos EUA sobre produtos chineses no valor de centenas de bilhões de dólares a partir desta semana. Com o aumento da inflação nos EUA, aumentam também as expectativas de que o governo alivie alguns impostos para ajudar a abaixar os custos de mercadorias corriqueiras.

Contudo, membros seniores do governo parecem estar divididos quanto à necessidade de suspender a aplicação de tarifas.

No mês passado, Yellen afirmou que o governo desejava reconfigurar as tarifas, que “realmente não eram projetadas para atender aos interesses estratégicos do país”. Em contraste, a Representante do Comércio dos Estados Unidos, Katherine Thai, chamou as contribuições de “vantagem” contra a China e questionou a eficácia da decisão no que diz respeito à inflação.

Desde a posse de Biden em janeiro de 2021, o governo não realizou negociações econômicas substanciais com a China nem garantiu concessões comerciais futuras. Em vez disso, a política econômica na Ásia teve como foco o início de um novo acordo comercial com aliados na região, que ainda está nas primeiras etapas.

Impacto sobre a inflação

Analistas afirmam que acabar com as tarifas teria um efeito insignificante sobre a inflação dos EUA e o comércio com a China; a possível recessão na maior economia do mundo é uma ameaça maior para o cenário da China.

O impacto negativo das tarifas sobre as exportações da China foi limitado, portanto, reduzi-las não trará um grande impacto”, disse Larry Hu, chefe de análise econômica da China no Macquarie Group. “O impacto sobre a inflação dos EUA também seria limitado – por exemplo, os preços nos EUA não aumentaram em 2019, quando as tarifas estavam em vigor”.

“O mais preocupante no curto prazo para as exportações é uma possível recessão nos EUA”, disse ele. “Com ou sem as tarifas, o crescimento da exportação na China vai diminuir”.

O Barclays estimou que, se houvesse uma retirada completa das tarifas, o efeito direto máximo sobre a inflação dos EUA seria uma redução única de 0,3 ponto percentual.

Comércio recorde

As tarifas não alcançaram o objetivo pretendido de diminuir as exportações da China e reequilibrar a relação comercial com os EUA. Embora a economia da China tenha sido afetada pelos lockdowns contra covid este ano, as exportações para os EUA nos primeiros cinco meses de 2022 aumentaram 15,1% em comparação com o ano anterior, após saltar quase 28% em 2021 e 8% em 2020.

As importações aumentaram 4% este ano até o momento, segundo dados oficiais, colocando a balança comercial bilateral no caminho para mais um ano recorde.

A China criticou repetidamente as sanções dos EUA sobre suas empresas, como a Huawei, e as tarifas sobre seus produtos.

As sanções americanas são “uma intimidação unilateral e protecionista em nome da manutenção da ordem global”, disse Shu Jueting, porta-voz do Ministério do Comércio da China.

Em junho, Shu disse que a China acreditava que o fim de todas as tarifas sobre produtos chineses beneficiaria sua economia, assim como os EUA e o mundo. “Com o aumento da inflação, quanto antes as tarifas sobre os produtos chineses forem retiradas, antes os consumidores e empresas poderão colher os frutos”, disse.

As tensões entre as duas maiores economias do mundo continuam aumentando desde que o ex-presidente Trump impôs tarifas sobre importações da China em 2018, sendo a maioria delas aplicadas depois que uma investigação concluiu que a China havia roubado propriedade intelectual de empresas americanas e as forçou a transferir tecnologia.

A China retaliou ao estabelecer seus próprios impostos sobre produtos americanos, e embora um acordo tenha sido estabelecido em janeiro de 2020, a China nunca atendeu às exigências pactuadas.

--Com a colaboração de Lin Zhu e Xiao Zibang.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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