Bloomberg Línea — A comunidade LGBT+ continua discriminada, mesmo com avanços na inclusão. Entretanto, a sociedade e as empresas estão percebendo cada vez mais o poder dos membros desta comunidade – sobretudo economicamente.
Segundo pesquisa realizada em 27 países em 2021 e publicada pelo Statista, sete em cada 10 pessoas se identificam como heterossexuais. Dos pesquisados em países como Brasil, Chile, Colômbia, Peru, México, China, Índia, Malásia, Rússia, África do Sul e Turquia, cerca de 3% disseram ser gays, homossexuais ou lésbicas, e 4% se identificam como bissexuais.
Cerca de 1% se identificou como pansexual ou omnisexual. Pansexualidade descreve pessoas que se sentem atraídas por outras pessoas independentemente de seu sexo biológico, gênero ou identidade de gênero, ao passo que a omnisexualidade refere-se à atração por todas as identidades de gênero e orientações sexuais.
Se o poder de compra da comunidade LGBT+ fosse somado em escala global, seria a quarta economia mais poderosa do mundo, com um PIB de US$3,9 trilhões anuais, estima a LGBT Capital, empresa que assessora negócios que desejam entrar no mercado LGBT+. Para fins de comparação, o PIB dos três maiores PIBs do G7 são: Estados Unidos, com US$ 20,4 trilhões; Japão, com US$ 4,9 trilhões e Alemanha, com US$ 4 trilhões, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Entretanto, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), as leis discriminatórias criminalizam relações consentidas entre pessoas do mesmo sexo em cerca de 77 países.
Atualmente, há poucos dados sobre o poder econômico do chamado mercado do pink money.
Mas o fundo da LGBT Capital assumiu a tarefa de compilar dados e calcular o impacto econômico que a comunidade tem sobre o mundo. Em 2020, a empresa publicou uma estimativa do quanto a população contribui para o PIB de diferentes países.
Levando em conta apenas os países da América Latina, a LGBT Capital estima que o PIB da comunidade é de US$ 96 bilhões no Brasil; US$ 66 bilhões no México; US$ 23 bilhões na Argentina; US$ 17 bilhões na Colômbia; US$ 15 bilhões no Chile; US$ 12 bilhões no Peru e US$ 3 bilhões no Uruguai.
Importância da diversidade
Em dezembro de 2020, era possível registrar e operar uma organização da sociedade civil relacionada à orientação sexual em 33 países da América Latina e do Caribe, enquanto a liberdade de expressão em questões de orientação sexual foi garantida em 97% desses países. Essas questões foram as duas formas de expressar a aceitação da comunidade LGBTQ+ na região, segundo o relatório LGBTQ+ Worldwide da Statista.
Enquanto os desafios permanecem, a adoção de crianças por casais do mesmo sexo só é possível em 15% dos países da América Latina e do Caribe.
A maior aceitação social fez com que o pink money – o poder de compra da comunidade – se tornasse um nicho de mercado altamente valorizado pelas empresas. Isto incentivou o surgimento de vários produtos e serviços destinados a esse público.
Por exemplo, no México, o estudo El consumidor LGBT mexicano, preparado pela Nielsen em 2019, indica que 61% dos pesquisados estão dispostos a comprar marcas que apoiam essas causas.
Da mesma forma, 53% dos heterossexuais comprariam produtos de marcas comprometidas com a diversidade e a inclusão.
E no ambiente corporativo, as empresas perceberam que a criação de ambientes diversos compensa. Equipes diversas tomam melhores decisões 80% do tempo em comparação com as não diversas, de acordo com a plataforma de negócios Cloverpop.
Outros dados de uma pesquisa da Deloitte indicam que as empresas que alcançaram a inclusão plena melhoraram seu desempenho em 17% e se tornaram 20% mais inovadoras.
No entanto, ainda há desafios. 70% dos mexicanos LGBT empregados percebem que não recebem o mesmo tratamento que seus colegas heterossexuais, segundo uma pesquisa da Turing, unicórnio de Palo Alto que conecta talento tecnológico com empresas.
De acordo com o Índice de Igualdade LGBT, que identifica os países mais LGBT-friendly do mundo, a América Latina é ainda mais tolerante do que os países considerados mais desenvolvidos, como a Itália, que tem uma pontuação de 64 pontos em 100, enquanto a Argentina, por exemplo, tem uma pontuação de 82 pontos.
O Uruguai é o país com a maior tolerância à diversidade sexual, com um índice de 87 pontos, seguido pelo Brasil e Argentina, com 82; Belize, com 78; e México e Chile com 77. O Panamá é um dos países com a menor tolerância para a comunidade LGBT – sua pontuação é de 46.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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