Número de adultos com conta bancária na América Latina subiu 20% na pandemia

Covid acabou promovendo pagamentos digitais a ponto de 18% dos adultos brasileiros terem feito o primeiro pagamento digital nos últimos dois anos

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Bloomberg Línea — A inclusão financeira avançou durante a pandemia de covid-19, considerando que o distanciamento social e as quarentenas foram as principais ferramentas de governos em todo o mundo para minimizar o impacto do vírus durante os momentos mais complicados.

O vírus acabou impulsionando os pagamentos digitais ao ponto de dois terços dos adultos em todo o mundo agora fazerem ou receberem uma transação por esse meio, de acordo com o relatório Global Findex divulgado pelo Banco Mundial.

A América Latina e o Caribe foi uma das regiões que mais avançou no mundo em desenvolvimento: a proporção de adultos com uma conta aumentou 18 pontos percentuais em comparação com o aferido em 2017, última vez que o índice foi medido. Especificamente, 73% dos adultos tinham uma conta bancária em 2021 e, além disso, 40% fizeram um pagamento a um comerciante por um meio digital; 14% dos adultos fizeram isso pela primeira vez durante a pandemia.

“A revolução digital catalisou aumentos no acesso e uso de serviços financeiros em todo o mundo, transformando a forma como as pessoas fazem e recebem pagamentos, tomam empréstimos e economizam”, disse o presidente do Banco Mundial David Malpass em comunicado à imprensa.

Os países da região com maior número de adultos com uma conta são Venezuela, Jamaica e Brasil. No caso da Venezuela, o relatório enfatiza que a maior parte das contas são utilizadas para mandar ou receber remessas internacionais ou para receber pagamentos do governo.

Por sua vez, a ilha caribenha promoveu os pagamentos digitais de tal forma que está trabalhando em um plano para que seu banco central emita uma moeda digital. Richard Byles, governador do Banco da Jamaica, disse no evento da Bloomberg New Economy Gateway Latin America em maio que o dinheiro em espécie é “extremamente caro” por causa dos custos de distribuição ou segurança.

Byles acrescentou que o banco central do país tem um programa para digitalizar a economia, incluindo o pagamento virtual de serviços ou impostos, para facilitar a realização de negócios.

No Brasil, a maior economia da América Latina, o relatório destacou que 18% dos adultos fizeram seu primeiro pagamento a comércios digitais após o início da pandemia.

“Ao investir em infraestrutura pública digital e tecnologias para sistemas de pagamentos e identificação e atualizar as regulamentações para incentivar a inovação e proteger os consumidores, os governos podem aproveitar o progresso relatado no Findex e expandir o acesso aos serviços financeiros para todos os que precisam deles”, acrescentou Bill Gates, copresidente da Fundação Bill & Melinda Gates, que ajudou a financiar o estudo.

O Banco Mundial também destacou que a covid-19 elevou a adoção digital para 15% dos adultos latino-americanos, que fizeram seu primeiro pagamento de faturas de serviços públicos diretamente de sua conta pela primeira vez. Esse número é superior ao dobro da média dos países em desenvolvimento.

Além disso, o relatório destacou que 24% dos adultos na América Latina receberam um salário do setor público, transferência do governo ou pagamento de pensão em uma conta bancária. Especificamente, Argentina, Bolívia, Brasil, Costa Rica e Venezuela se destacaram, onde mais de 10% dos adultos abriram sua primeira conta em uma instituição financeira para receber esse dinheiro.

Há outros casos na região, como os da Colômbia, Equador, Honduras e Peru, onde cerca de 15% dos adultos pagaram uma conta de serviços públicos de sua conta pela primeira vez durante a pandemia (sem recorrer ao dinheiro físico) ou proporções em que 40% dos adultos fizeram pagamentos digitais em lojas usando um cartão, um telefone celular ou a Internet.

A estrada pela frente

Apesar do avanço, ainda existem obstáculos que impedem uma maior inclusão financeira na América Latina e no Caribe. De acordo com o relatório do Banco Mundial, seis em cada dez dos adultos que ainda não estão bancarizados dizem que os serviços financeiros são muito caros, enquanto 32% responderam que as instituições financeiras estão muito distantes quando citam razões para não ter uma conta.

De acordo com as contas da agência multilateral, há 81 milhões de adultos que, embora bancarizados, ainda pagam as contas de serviços públicos somente em dinheiro. No total, 150 milhões de adultos bancarizados fizeram pagamentos a comerciantes somente em dinheiro em 2021, incluindo mais de 50 milhões de adultos no Brasil e 16 milhões de adultos na Colômbia.

Isso “indica que há oportunidades para maior uso de pagamentos digitais por parte dos adultos bancarizados”, afirmou o relatório.

Vale ressaltar que globalmente, em 2021, 76% dos adultos tinham uma conta em uma instituição financeira, enquanto a proporção é de 71% nas economias em desenvolvimento.

O relatório incluiu Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, Jamaica, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru e Venezuela. O México não foi incluído pois a restrições contra covid-19 ainda estavam em vigor em 2021.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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