Esquerda ganha força na Argentina com nova ministra da Economia

Silvina Batakis, até então do Ministério do Interior, foi membra do governo de extrema esquerda de Daniel Scioli, da província de Buenos Aires

Por

Bloomberg — O presidente argentino, Alberto Fernández, escolheu a economista de esquerda Silvina Batakis como a nova ministra da Economia do país no domingo (3), depois que a renúncia de seu antecessor no sábado aprofundou uma crise política que pressiona a economia e nos mercados.

A porta-voz de Fernandez, Gabriela Cerruti, confirmou a decisão à Bloomberg News. Batakis, até então membra do ministério do Interior e com perfil pouco conhecido, foi uma surpresa aos especialistas. Ela não respondeu a um pedido de comentário da Bloomberg News na noite de domingo.

Batakis herda uma longa lista de desafios econômicos e o programa de US$ 44 bilhões do governo com o Fundo Monetário Internacional. O anúncio encerrou mais de um dia de suspense e incerteza provocado pela renúncia de Martin Guzman após dois anos e meio no principal cargo econômico.

Não ficou claro no domingo à noite se Fernandez faria outras mudanças no gabinete. O presidente do Banco Central, Miguel Pesce, confirmou à Bloomberg News que permanecerá em seu cargo.

A segunda mulher a ocupar o cargo de principal chefe econômica do país, Batakis foi ministra da Economia da província de Buenos Aires de 2011 a 2015 sob o então governador Daniel Scioli, líder de coalizão de extrema esquerda que recentemente se tornou ministro da Produção. Mais recentemente, ela atuou em um cargo de segundo nível no Ministério do Interior do país.

A nomeação foi feita depois que Fernandez se reuniu por horas no domingo com o líder da Câmara, Sergio Massa. A vice-presidente Cristina Fernandez de Kirchner, que critica publicamente o presidente e sua equipe econômica, falou com ele no domingo à noite por telefone, informou a mídia local.

“A nomeação de Batakis parece sinalizar que o equilíbrio de poder pendeu para o lado kirchnerista”, escreveu Diego Pereira, economista do JPMorgan (JPM), em relatório aos clientes no domingo. “Esperamos uma postura fiscal mais expansiva e, potencialmente, uma renegociação do programa do FMI.”

Os mercados estarão atentos a pistas sobre a agenda econômica de Batakis, o programa do FMI e como ela planeja navegar em uma coalizão governante dividida que encerrou o mandato de Guzmán.

Batakis também pode representar uma virada em direção a políticas econômicas de extrema esquerda, dado seu histórico.

“É uma vitória para Cristina”, diz Camila Perochena, analista política e professora da Universidade Torcuato di Tella, em Buenos Aires. “Para os mercados financeiros, é um impacto terrível.”

A Argentina está atualmente lutando contra a inflação em mais de 60%, com quase 40% da população vivendo na pobreza e a economia prevista para entrar em recessão este ano. O banco central tem reservas de caixa escassas que está lutando para acumular em meio à baixa credibilidade e altos preços das importações de energia e os títulos do país são negociados em território em dificuldades.

Leia também

Tesla começa a contratar de novo após corte de vagas no mundo todo

Mercado começa a prever queda do juro já em 2023. Saiba o que isso significa