Bloomberg — Todos os anos, a gigante de energia com sede em Londres, BP, faz um serviço necessário para economistas e analistas ao divulgar o relatório de Revisão Estatística Anual da Energia Mundial. Com publicações desde a década de 1960, o documento apresenta um conjunto de dados sobre consumo, geração de energia, fluxos comerciais e outros aspectos do sistema de energia global.
A publicação volta um olhar atento tanto para tendências de longo prazo quanto para mudanças de curto prazo. Estas são algumas delas:
1. Energia renovável: 13% da geração global de energia
Em 1985, a energia a carvão representava 38% da geração global de eletricidade. Energia hidráulica, 20%, nuclear, 15%, gás natural, 14%; e petróleo, um pouco mais de 11%.
Três décadas e meia depois, o carvão ainda representa 36% dessa fatia total, e o gás natural aumentou para quase 23%. Mas todas as outras grandes fontes de geração de meados da década de 1980 perderam participação relativa neste mercado.
Isso porque a energia renovável (eólica, solar, geotérmica, biomassa e pequenas hidrelétricas) cresceu de 0,8% para 13%. Em 2019, as energias renováveis ultrapassaram a marca de 10% e adicionaram mais 0,8% de participação de mercado – coincidentemente o mesmo valor que representavam globalmente em 1985 — em média por ano, desde 2010.
2. Energia eólica e solar agora acima da energia nuclear
Embora a geração de energia renovável não concorra exatamente com a energia nuclear, é possível ver que as renováveis têm saído na frente. Em 2020, toda a geração de energia renovável ultrapassou toda a geração nuclear. Em 2021, as energias eólica e solar ultrapassaram a nuclear em geração anual.
E o ano passado foi realmente um ano significativo para a energia nuclear. A geração nuclear aumentou mais de 4%, o maior aumento desde 2004, graças às demandas da China.
3. China é o maior importador mundial de gás natural
A BP acompanha o comércio de gás natural desde o ano 2000. No início do século, o Japão era de longe o maior importador de GNL do mundo, recebendo cerca de 75 bilhões de metros cúbicos por ano. A Europa como um todo foi o segundo maior importador, seguido pela Coreia do Sul. Até 2006, a China nem tinha começado a importar GNL ainda.
Porém, nos 20 anos seguintes, as importações de GNL do Japão atingiram um pico, impulsionadas pelo fechamento de muitas das usinas nucleares no país após o terremoto de Fukushima, em 2011. O volume de importação da Europa parecia destinado a se igualar ao do Japão, antes de cair e depois subir novamente, excedendo as do Japão em 2019. As importações da Coreia mais que dobraram, apesar de um declínio modesto no último ano.
A China importou 109,5 bilhões de metros cúbicos de GNL no ano passado, 1,3 bilhão a mais que a Europa. A Ásia foi responsável por 70% do comércio global de GNL na última década, período em que as participações da China no comércio global de GNL mais do que triplicaram.
4. China gera mais eletricidade renovável do que a Europa
Em 1965, os Estados Unidos geraram 13 terawatts-hora de eletricidade renovável, e a Europa gerou 3 terawatts-hora. Os dados sobre a geração renovável da China não aparecem até 1990, quando seus 0,1 terawatt-hora eram menos de 1/600 do que os EUA geravam.
Mas avançando rapidamente para 2016, a China ultrapassou os EUA e atingiu cerca de 60% da geração renovável total da Europa. Em 2021, a China passou a Europa, adicionando quase 290 terawatts-hora de geração total de eletricidade renovável em um ano. No ano passado, Japão e Índia geraram 302 terawatts-hora combinados.
Mas nem toda a geração de energia do ano passado foi positiva. O consumo de carvão, por exemplo, recuperou-se acentuadamente e ficou muito próximo do seu recorde histórico de 2013. O consumo de energia primária também atingiu um recorde histórico.
A boa notícia é que o consumo de energia primária per capita está mais ou menos estável há uma década, e atingiu seu pico há 15 anos nos países da OCDE. O consumo de carvão cresceu apenas 0,1% ao ano de 2011 a 2021, enquanto o de gás cresceu 2,2%. Durante esses mesmos 10 anos, a geração de energia renovável cresceu em média 15% ao ano.
O sistema global de energia é enorme e complexo, e o consumo maciço de combustíveis fósseis ainda é dominante. Mas a energia de carbono zero, no entanto, é a que mais cresce.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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