Bloomberg — Os banqueiros centrais mundo afora insistem que farão o que for preciso para combater a inflação com o remédio das altas de juros. E o mercado global de títulos já parece estar convencido.
Diferentes formuladores de política monetária intensificaram sua retórica na semana que passou, incluindo aquele que comanda o principal banco central do mundo: o Federal Reserve. Jerome Powell disse que o Fed assumirá o risco de uma recessão para conter as pressões de preços.
Investidores do mercado de títulos responderam levando para baixo um indicador de expectativas de inflação de cinco anos nos Estados Unidos para o menor nível desde outubro de 2021, apagando toda alta deste ano, que havia atingido um recorde.
Por outro lado, o mercado perdeu a confiança de que os bancos centrais podem alcançar o chamado “pouso suave”- soft landing - da economia americana e global, isto é, que vão conseguir desacelerar a atividade de forma gradual ao mesmo tempo em que contêm a inflação.
Dessa forma, investidores começam a precificar cortes de juros já no próximo ano nos Estados Unidos, no Reino Unido, no Brasil e na Austrália por causa das expectativas de recessão antes do que era projetado. No caso da maior economia do mundo, projetava-se uma contração da economia por dois trimestres seguidos no fim de 2023 ou no começo de 2024. Mas o fenômeno pode vir ainda este ano.
Foi o que alertou o ex-secretário do Tesouro americano, Lawrence Summers, em entrevista à Bloomberg Television. E isso, segundo ele, pode levar o Fed a mudar o curso do aperto monetário.
A volatilidade do mercado de títulos sobe à medida que os rendimentos - os yields - caem de máximas de vários anos alcançadas apenas duas semanas atrás.
O rendimento dos títulos do Tesouro americano de dez anos caiu abaixo de 3%, de uma máxima de uma década de 3,5% em 14 de junho. O rendimento do vencimento semelhante do Reino Unido recuou mais de 0,3 ponto percentual desde meados de junho, e na Austrália caiu mais de 0,5 ponto percentual.
“Com o ritmo de crescimento nos EUA em rápida desaceleração e um Fed comprometido em restaurar a estabilidade de preços, uma recessão leve, começando no quarto trimestre de 2022, é agora mais provável”, disse Andrew Ticehurst, estrategista de taxas da Nomura. “A inflação alta nos EUA parece ser um problema político e econômico, e não esperamos que o Fed vá cambalear.”
Os mercados agora apostam que uma recessão nos EUA convencerá Powell a cortar o custo do dinheiro em meio ponto percentual já no segundo semestre do próximo ano. O dilema do banco central americano foi ressaltado na última quarta-feira (29), quando os dados mostraram uma contração mais profunda do PIB no primeiro trimestre e um rebaixamento dos números de gastos dos consumidores.
As previsões de inflação também foram revertidas. A taxa de equilíbrio de cinco anos - um indicador das taxas médias de inflação anual no período - caiu para cerca 2,6%, mais de 100 pontos base abaixo do pico acima de 3,7% em março, e está mais próxima da meta de inflação de 2% do Fed.
As cotações de commodities também estão esfriando, alimentando especulações de que o aumento nos preços das matérias-primas pode estar chegando ao pico, à medida que surgem sinais de que choques de oferta elevaram os custos o suficiente para inibir a demanda. E a deterioração dos dados contribui para a liquidação nos mercados de ações, com o S&P 500 em baixa de mais de 20% neste ano.
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