Bloomberg Línea — Há 28 anos nascia o real, como parte do Plano Real, um projeto que visava trazer estabilidade econômica em um cenário de inflação descontrolada. Um dos primeiros efeitos do plano foi fortalecer a então nova moeda brasileira, que acabou funcionando como âncora para estabilizar os preços. Mas, quase 30 anos depois, a força da moeda brasileira ficou para trás. Em junho, o real teve uma desvalorização de 8,5% frente ao dólar.
Mas não sobrou apenas para o real. A maioria das moedas da América Latina acabou fechando o mês de junho com o pior desempenho do ano até agora em 2022: praticamente todas ficaram no vermelho em relação ao dólar, em um momento de alta dos juros nos Estados Unidos.
Junho também foi marcado pelo aumento do nervosismo de investidores e por previsões crescentes de que os Estados Unidos caminham para uma recessão econômica, o que seria um cenário mais previsível no médio prazo dado que os juros estão em alta para tentar conter a inflação mais alta em 40 anos.
A notícia de que os gastos dos consumidores nos EUA caíram em maio pela primeira vez neste ano sugere uma economia um pouco mais fraca do que se pensava anteriormente.
A venda de ações se intensificou depois que os dados fracos sobre os gastos do consumidor alimentaram preocupações sobre a recessão, levando o S&P 500 - o principal índice de ações dos Estados Unidos - a sofrer uma das piores quedas neste primeiro semestre em mais de cinco décadas.
Ainda que as bolsas americanas tenham encerrado a sessão de 1º de julho em alta, os principais índices do país completaram sua quarta semana de queda nas últimas cinco.
Cenário local
O dólar ultrapassou a barreira dos R$ 5,30 ao longo da semana e, nesta sexta-feira (1), fechou com alta de de 1,28%, a R$ 5,32. Trata-se do maior patamar desde fevereiro.
Às vésperas das eleições, que historicamente trazem volatilidade aos preços dos ativos, o câmbio é a variável que mais evidencia e reflete a chamada percepção do risco brasileiro
A alta dos juros nos EUA se reflete no rendimento dos títulos do Tesouro americano, o que favorece a subida do dólar, com a atração de um número maior de investidores e capital.
No Brasil, a aprovação no Senado da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que institui um estado de emergência e abre a porta para um pacote de pagamentos sociais, driblando a âncora fiscal do Teto de Gastos, deu impulso ao movimento de disparada da moeda americana frente ao real. A proposta pode gerar um impacto de R$ 41,2 bilhões aos cofres públicos, segundo previsões.
Diante do cenário doméstico incerto e dos temores de recessão nas economias desenvolvidas, investidores em geral acabam buscando mais segurança em ativos em moeda forte, como o dólar.
E isso pode ser sentido também em outros países da América Latina, embora cada contexto seja bastante específico. O peso chileno foi a moeda com pior desempenho no mês de junho, com queda de 9,85% em relação à moeda americana. Na sequência veio o real, com baixa de 8,5%.
A única moeda a encerrar junho com valorização foi o peso uruguaio, com alta de 0,63% no período.
No ano, porém, o real acumula valorização de 7,34%, o que pode ser explicado pelo diferencial maior de juros em boa parte do primeiro semestre e também pela disparada no preço das commodities, já que o Brasil é grande produtor e exportador e isso traz mais capital para o país. O peso argentino, por outro lado, tem sido a moeda mais depreciada na América Latina frente ao dólar, enquanto o peso uruguaio continua mostrando resiliência e lidera o ranking como a mais forte até o momento.
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