Bloomberg — Os gastos do consumidor nos Estados Unidos caíram em maio pela primeira vez este ano e os dados dos meses anteriores foram revisados para baixo, sugerindo uma economia um pouco mais fraca do que se pensava anteriormente em meio ao avanço da inflação e aumento nas taxas de juros.
De acordo com dados do Departamento de Comércio dos EUA divulgados nesta quinta-feira (30), as compras de bens e serviços, ajustadas pelas altas nos preços, caíram 0,4% após um ganho de 0,3% revisado para baixo no mês anterior. Os gastos com serviços aumentaram enquanto os gastos com bens diminuíram.
O índice de preços de gastos com consumo pessoal – que o Federal Reserve usa para sua meta de inflação – subiu 0,6% em relação ao mês anterior e 6,3% ante maio de 2021. O núcleo do PCE (índice de preços de gastos com consumo, na sigla em inglês) subiu 0,3% em maio, abaixo do esperado. A alta foi de 4,7% em relação ao ano anterior – o menor ganho desde novembro.
Pesquisa da Bloomberg com economistas apontava para uma queda de 0,3% nos gastos ajustados à inflação em relação ao mês anterior e para uma alta de 6,4% do índice geral de preços ante o mesmo período de 2021. As ações americanas abriram em queda e os rendimentos do Tesouro diminuíram após os dados.
Sem ajuste de inflação, os gastos aumentaram 0,2% em relação ao mês anterior, enquanto a renda pessoal aumentou 0,5%.
Embora os gastos tenham decepcionado as expectativas, também mostrou que a demanda não está em colapso. A demanda por serviços mostrou-se resiliente, ressaltando uma mudança bastante esperada nas preferências dos consumidores de bens para serviços. Gastos com viagens internacionais, por exemplo, se fortaleceram em maio.
Mesmo assim, uma desaceleração nos gastos do consumidor – o principal motor da economia dos EUA – aumenta as preocupações crescentes sobre as perspectivas econômicas. O sentimento das famílias está no menor patamar histórico, os temores de recessão estão crescendo e o mercado de trabalho, embora ainda robusto, está mostrando alguns sinais iniciais de abrandamento.
“Os detalhes de hoje mostram um perfil muito mais fraco para os gastos nos primeiros cinco meses do ano e nos preparam para um crescimento mais fraco no segundo trimestre do que os dados sugeriam há apenas 48 horas”, escreveram, em nota, os economistas Tim Quinlan e Shannon Seery, do Wells Fargo & Co.
A inflação, embora mostre sinais de estabilização, ainda está corroendo os salários dos americanos. As famílias estão enfrentando preços crescentes em toda a economia, incluindo os custos quase recordes da gasolina.
O Federal Reserve, o banco central americano, que no início deste mês elevou as taxas de juros para o maior patamar desde 1994, levará em consideração os números mais recentes em sua reunião de julho ao decidir se aumentará novamente as taxas em 75 pontos base ou optará por um aumento mais branco, de 50 pontos base.
O que diz a Bloomberg Economics
Na quarta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que ele e seus colegas “esperam que o crescimento permaneça positivo”, observando que a economia está “bem posicionada para resistir a uma política monetária mais rígida”. Mas ele também reconheceu que a tarefa de evitar uma recessão se tornou mais difícil nos últimos meses.
“A queda nos gastos reais [acima da inflação] em maio – juntamente com as revisões para baixo nos dados de janeiro a abril – significa menos impulso para o consumo e para a economia de modo geral no segundo semestre deste ano. Os dados indicam um crescimento mais fraco em serviços diante de uma retração nos gastos com bens, com a inflação pesando sobre o poder de compra e o sentimento do consumidor.”
Economistas Yelena Shulyatyeva e Andrew Husby
Taxa de poupança
A taxa de poupança subiu ligeiramente em maio para 5,4%, a maior alta em três meses, mas ainda está perto do menor nível desde 2009. A alta inflação levou os americanos a reduzir suas economias desde o final do ano passado.
O índice de preços ao consumidor, que normalmente é mais latente do que o índice de preços PCE, saltou inesperadamente para uma nova alta de 40 anos em maio.
Os gastos com bens ajustados pela inflação caíram 1,6% no último mês – a maior queda no ano –, enquanto os serviços aumentaram 0,3%. Segundo o Departamento de Comércio americano, os gastos com veículos motorizados lideraram as baixas no consumo de mercadorias no período. Já os serviços foram impulsionados por habitação e serviços públicos, bem como cuidados de saúde.
Os salários e vencimentos aumentaram 0,5% no mês passado. Quando ajustado pela inflação, no entanto, a renda pessoal disponível caiu 0,1% – a terceira queda este ano.
Outros dados divulgados nesta quinta-feira (303) mostraram que os pedidos de auxílio-desemprego caíram um pouco na semana passada, embora tenham permanecido perto do nível mais alto desde janeiro.
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