Caio Paes de Andrade será oficialmente o novo presidente da Petrobras (PETR3, PETR4), depois que o seu nome foi aprovado pela maioria dos integrantes do conselho de administração da estatal de capital misto nesta tarde de segunda-feira (27). Ele tomará posse nesta terça e o seu mandato irá até 13 de abril de 2023.
As ações preferenciais (PETR4) da Petrobras subiram mais de 6% nesta segunda, mas analistas relacionam a alta a um relatório de reinício de cobertura do Itaú BBA que apontou que o valuation considerado extremamente descontado acomoda até mesmo cenários “muito extremos e improváveis”. O preço-alvo foi fixado em R$ 43, com upside (potencial de valorização) de mais de 60% em relação ao fechamento na sexta-feira (24), segundo relatório assinado por analistas liderados por Monique Greco.
Os preços de fechamento foram de R$ 27,98, depois de alta de 6,43%; as ações ordinárias subiram 6,75%, negociadas no fim do pregão a R$ 30,98.
Ou seja, mais do que uma eventual guinada na política de paridade de preços da gasolina e do diesel em relação às cotações internacionais do petróleo ou de uma eventual manutenção do que tem sido praticado, analistas preferiram destacar como as ações podem se comportar.
Depois do fechamento do mercado, a petrolífera anunciou em comunicado que reiniciou os processos de vendas das refinarias Abreu e Lima (RNEST), em Pernambuco, Presidente Getúlio Vargas (REPAR), no Paraná, e Alberto Pasqualini (REFAP), no Rio Grande do Sul, no que pode ser interpretado como um aceno ao mercado na direção de uma política na contramão do peso maior do estado na empresa.
O plano de desinvestimento em refino representa cerca de 50% da capacidade de refino nacional, o que reduziria a dependência de todo o mercado em relação à política de preços da Petrobras.
Paes de Andrade representa nova tentativa do governo do presidente Jair Bolsonaro para encontrar uma solução para os preços dos combustíveis, que estão em trajetória de alta nos últimos meses acompanhando as cotações do petróleo. O assunto se tornou ainda mais importante às vésperas das eleições presidenciais, por causa do seu impacto negativo sobre a renda de famílias e empresas.
O executivo era secretário de Desburocratização do Ministério da Economia antes de ser nomeado presidente da Petrobras, em substituição a José Mauro Ferreira Coelho, que ficou apenas dois meses no cargo antes de renunciar na semana passada, já com o status de demissionário.
O próximo presidente da petrolífera é considerado uma pessoa de confiança do ministro da Economia, Paulo Guedes, e visto em Brasília como alguém que consulta especialistas em determinados assuntos sempre que necessário, de acordo com duas pessoas próximas a ele.
Desde que foi nomeado para o cargo cerca de um mês atrás, Paes de Andrade tem conversado com especialistas do setor, disseram essas duas pessoas, que pediram para não serem identificadas por estarem discutindo assuntos privados.
“Paes de Andrade tem forte formação educacional e uma formação profissional mais associada ao governo e a serviços públicos. Mas há muito pouco que podemos dizer sobre o que ele pensa sobre a Petrobras ou como ele vê a empresa posicionada para equilibrar seu papel como um grande player no mercado local de combustíveis ao mesmo tempo em que precisa atender aos interesses de todos os acionistas”, observaram os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Bruno Lima, do BTG Pactual (BPAC11), há um mês, por ocasião do anúncio de seu nome.
O próximo CEO da Petrobras é formado em Comunicação Social pela Universidade Paulista e possui pós- graduação em Administração e Gestão pela Harvard University e mestrado em Administração de Empresas pela Duke University. Antes de ser nomeado para a secretaria de Desburocratização, foi presidente da Serpro, a estatal de tecnologia da informação do governo brasileiro.
“Ressaltamos que o nome possui boas qualidades técnicas, mas não possui experiência no setor de óleo e gás. O novo CEO recusou uma entrevista para esclarecer se pretende alterar a política de preços da Petrobrás, mas respondeu por escrito que não recebeu nenhum direcionamento referente ao tema pelo governo”, escreveram os analistas Felipe Ruppenthal e Rodrigo Diniz, da Eleven Financial Research.
“Acreditamos que futuros reajustes de preços ocorram após um período mais longo que os últimos, para não repassar a forte volatilidade dos preços do mercado internacional. Enquanto isso, esperamos que as cotações da empresa continuarão sofrendo negativamente pelas incertezas referente à sua política de preços”, disseram os analistas da Eleven.
“Embora acreditemos que os mecanismos de governança da Petrobras tenham impedido até agora uma interferência mais direta em sua forma de fazer negócios, acreditamos que o evento [de troca de novo do CEO] corrobora nossa visão de que as ações da Petrobras permanecerão altamente voláteis, pois os investidores percebem um alto risco associado à continuidade do fluxo de dividendos”, escreveram os analistas do BTG Pactual no relatório.
“Além disso, achamos isso que ajuda a explicar por que a ação não conseguiu reavaliar e fechar a diferença de avaliação em relação a seus pares, mesmo após vários trimestres de resultados financeiros e operacionais positivos. Permanecemos neutros e preferimos investir no tema petróleo via outros ativos do setor”, concluíram os analistas do time de equity research do banco na ocasião.
- Atualizado às 20h11.
- Com a Bloomberg News.
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