Bloomberg — Uma das maiores gestoras de recursos independentes do Brasil, com mais de R$ 30 bilhões em ativos sob gestão, a Ibiuna Investimentos tem seguido à risca um mantra antes da eleição presidencial: adotar uma postura “cautelosa e defensiva”.
Fundada em 2010 por dois ex-diretores do Banco Central, a Ibiuna tem operado com exposição reduzida aos ativos domésticos em termos relativos, em meio à incerteza sobre qual será a política fiscal e econômica vigente a partir do ano que vem.
Nem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que lidera as pesquisas de opinião – nem o presidente Jair Bolsonaro devem dar grandes sinalizações sobre os seus planos antes de outubro, segundo Rodrigo Azevedo, sócio-fundador da gestora junto com Mário Torós.
“Não há visibilidade para fazer uma aposta grande em Brasil neste momento”, disse Azevedo, que foi diretor de política monetária do Banco Central entre 2004 e 2007. “As coisas podem balançar muito por aqui e, ao mesmo tempo, vemos um monte de oportunidade quando olhamos para o resto do mundo.”
Enquanto os preços dos ativos parecem atrativos – a Bolsa brasileira negocia no menor múltiplo desde 2008 e a curva de juros futuros sugere que a Selic ficará acima de 12% pelos próximos 12 meses –, as apostas construtivas são contrabalanceadas por dúvidas sobre a trajetória fiscal do Brasil e a perspectiva de volatilidade elevada durante a corrida eleitoral.
Lula, que tem mantido uma vantagem sobre Bolsonaro nas pesquisas recentes, ainda não deu muitos detalhes sobre suas propostas econômicas. Enquanto o ex-presidente tem defendido um aumento nos gastos públicos e a revisão de algumas reformas aprovadas nos anos recentes, aliados dizem que ele será fiscalmente responsável. Alguns investidores concordam, apostando que o pragmatismo de Lula deverá prevalecer.
A recente onda de gastos do governo Bolsonaro, por outro lado, levanta dúvidas sobre se a agenda de austeridade defendida pelo ministro da Economia Paulo Guedes perderá ainda mais espaço em um segundo mandato. Na última sexta-feira (24), os juros futuros dispararam após o anúncio de uma nova versão da PEC dos Combustíveis com impacto fiscal de R$ 34,8 bilhões. Os questionamentos têm ajudado a levar o prêmio de risco do Brasil medido pelo CDS de cinco anos para o maior nível em cerca de 24 meses.
“Tem tanto prêmio no Brasil ainda que dá até para perder o primeiro movimento”, disse Torós, que substituiu Azevedo no BC na segunda metade da década de 2000.
A Ibiuna apostou na alta das taxas de juros em países como México, República Tcheca, Polônia e Alemanha, dada a visão de que os formuladores de política monetária precisariam correr para vencer a luta contra a inflação. Tem funcionado: o fundo foi um daqueles que tiveram fortes ganhos com a antecipação da escalada dos yields nos Estados Unidos no começo do ano.
Posições tomadas em juros
Enquanto a posição nos EUA foi reduzida, ainda há espaço para tomar juros em algumas geografias, segundo Azevedo. As posições da Ibiuna estão mais concentradas em economias desenvolvidas, ele disse, adicionando que o próximo grande debate deve ser quando será hora de virar a mão.
“Há uma chance grande de eu estar bastante aplicado em 2023, mas a história básica é como eu navego esses próximos seis meses, e aí está um pouco ‘data dependent’”, disse Azevedo. “A nossa percepção é a de que a inflação fez o pico, mas, na hora em que ela cair, você vai descobrir que ela vai cair muito menos – precisando de uma ação mais incisiva do banco central ainda.”
A Ibiuna, que tem um time de cerca de 60 pessoas, recentemente contratou o ex-Verde Asset Management e O3 Capital Noman Khan para sua estratégia macro. O fundo multimercado carro-chefe da casa subiu 25% nos últimos 12 meses, mais do que o triplo do retorno de uma cesta de pares locais.
“A eleição amplifica as incertezas de maneira gigante, e não sabemos quem vai ganhar nem o que o vencedor vai fazer”, disse Azevedo. “Em algum momento, haverá um posicionamento – e vamos descobrir se é bom ou ruim. Até lá, a gente espera.”
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