Como ficam os NFTs em meio à queda massiva das criptomoedas

Seguindo o hype das celebridades, Snoop Dogg anunciou nesta semana a compra de dois NFTs - mas analistas alertam para ‘desaquecimento’

Como ficam os NFTs em meio à queda massiva das criptomoedas
26 de Junho, 2022 | 04:47 PM

Bloomberg — Eleito em 2021 como a palavra do ano, os ‘NTFs’ caíram no gosto de celebridades, como é o caso do rapper americano Snoop Doog, que anunciou na última quarta-feira (1) a compra de dois tokens não-fungíveis negociados em Etherium.

Outra entusiasta é Paris Hilton, que em 2019 lançou sua primeira coleção em NFT e afirmou publicamente investir em criptomoedas desde 2016. Mas embora este tipo de ativo colecionável digital tenha subido de valor nos últimos anos e atraído o investimento de muitos nomes conhecidos, além do gosto de colecionadores de arte e de investidores de risco, analistas chamam a atenção para uma demanda mais desaquecida, ainda que num ritmo menor e menos “traumático” do que as criptomoedas.

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Segundo Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, isso acontece por se tratar de um mercado com menos liquidez. “Existe esse mercado paralelo que exige menos liquidez. Por ser menor e ter explodido agora, com suporte de artistas e influências, é possível manter o mercado aceso ainda. Mesmo assim, a demanda desaqueceu”, explica Medeiros.

E uma pesquisa da Chainalysis confirma isso. De janeiro a abril de 2022, os NFTs movimentaram cerca de R$ 144 bilhões (US$ 30 bilhões). Embora o valor se aproxime do valor total de transações em 2021, R$ 192 bilhões (US$ 40 bilhões), as transações deste ano representam um volume muito menor, porém mais caro. A queda diária de negociações chega a 90% desde o início deste ano, segundo o NonFungible.

Brasil na “vanguarda”

Há quem faça dos NFTs um meio de vida. Adepto da comercialização de obras em NFT desde 2020, o artista digital sueco Kilian Merz, conhecido como KAM, terá uma de suas obras leiloadas em Etherium no Mobile Photo Festival 2022, que acontece de 14 de maio a 10 de julho de 2022, no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. “Como artista é possível fazer mais dinheiro de acordo com a oscilação dos preços, e as chances são maiores”, contou à Bloomberg Línea.

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Ainda assim, Merz diz que a lucratividade de uma peça depende principalmente do público e do quão conhecido o artista é, e não necessariamente apenas a complexidade de uma obra, seja ela uma imagem, ilustração ou desenho - como é o caso dos NFTs adquiridos por Dogg nesta semana. “Não tem receita pronta. Muitas vezes mesmo a arte mais complexa de NFT simplesmente não vende”, conta. Sua obra será leiloada no MIS com lances a partir de 1 Etherium, o que equivale a aproximadamente R$ 8.454,77 (US$ 1.779,38).

Um exemplo da “subjetividade” de cada peça é que, em janeiro deste ano, o jogador do Paris Saint-Germain e da Seleção Brasileira, Neymar Jr, divulgou o investimento de R$ 6 milhões (pouco mais de US$ 1,2 milhões) em compra de NFTs. Na ocasião, as duas artes adquiridas faziam parte da coleção “Bored Ape Yatch Club”, dois macacos coloridos entediados, parte de uma valiosa coleção. Em março deste ano, o retorno do investimento do jogador chegou a 24%.

Para Carlos Eduardo Gomes, Head of Research da Hashdex, o Brasil “com certeza está na vanguarda” das NFTs, e justamente pela ideia de propriedade digital ser relativamente nova, muito ainda pode ser feito, tanto do ponto de vista de quem investe neste tipo de ativo quanto para quem cria.

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Um levantamento da Hashdex sobre cultura digital afirma que “a arte digital tem sido um dos mais proeminentes entre todos os diferentes subsegmentos que surgiram no ecossistema de criptoativos”. O mesmo levantamento mostra que a maioria das negociações de NFTs vem da categoria “Artes e Colecionáveis”. Em 2021, o volume de negociação deste tipo de ativo de arte acumulou mais de US$15 bilhões, reportou o levantamento.

Medeiros, da Quantzed, reforça que NFT “não é ativo de hedge”, ou proteção, em português. “Posso afirmar que 99% das coleções criadas perdem o seu valor”, alerta.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.