Anaheim e São Paulo — A VidCon, maior conferência para criadores de conteúdo para redes sociais do mundo, volta a acontecer presencialmente depois de um hiato de três anos por causa da pandemia. E a edição de “retorno”, em Anaheim, cidade vizinha a Los Angeles, evidencia algumas das mudanças que ganharam força desde então.
Se antes o YouTube era a estrela da vez como canal, o destaque neste ano é o TikTok. Isso porque, além de ser o maior patrocinador do evento - pela primeira vez -, nesta edição ficou evidente a maior presença de TikTokers do que de YouTubers.
Mas não se trata de uma conferência apenas sobre TikTok - muito pelo contrário. Os painéis abordam estratégias e discussões sobre plataformas como Snapchat, Instagram, Twitter, Facebook e Twitch, além também daquelas dedicadas ao áudio, como Spotify, Apple Music e Tidal. E há espaço também para plataformas emergentes, como é a o caso da Be Real - uma espécie de antítese ao Instagram.
O evento, que começou na quarta-feira (22) e segue até sábado (25), tem lotado o Anaheim Convention Center, na Califórnia, desde o primeiro dia, com um público bastante misto, desde executivos em busca de negócios e aprendizados sobre como engajar seu público até fãs pertencentes à Geração Z.
Novo jeito de comunicar
A primeira edição da VidCon aconteceu em 2010 em uma iniciativa dos fundadores Hank e John Green, à época dois “vloggers” do YouTube. De lá pra cá, muita coisa mudou.
Hoje em dia, já não mais é novidade que jovens conseguem faturar milhões de dólares (ou de reais, no Brasil) com vídeos curtos produzidos de forma totalmente DIY (ou “faça você mesmo”). As edições mudaram, bem como o tipo de captação, o tempo de retenção e até a forma de comunicar. Mas o que isso diz sobre o cenário atual e o futuro do mercado de entretenimento?
São respostas que muitos dos executivos que participam do evento estão procurando. Isso porque a preocupação das marcas em ser “cool” é maior do que nunca.
Durante o painel “Connecting Brands To Culture”, ou “Conectando Marcas à Cultura”, em tradução livre, apresentado por Evan Horowitz, da agência Movers+Shakers, especializada em fazer ativações de marcas no TikTok, ficou claro que as marcas precisam subir uma “pirâmide cultural”.
Horowitz compara o processo com uma festa em que a marca precisa se adequar ao cenário. Para ele, “é preciso saber sobre o que as pessoas estão falando”, e algumas “ferramentas” são imprescindíveis, como memes, colaborações com criadores e até o uso de músicas em alta para ganhar relevância.
O painel “Crucial Conversations: Why NBC News is Reporting on Gen Z, Influencers and Internet Culture”, por sua vez, tratou sobre como e por que a NBC, tradicional rede de televisão e rádio americana, tem procurado se comunicar com o público mais novo na internet.
De acordo com o time de TikTok da NBC, conquistar a confiança desse público mais jovem pode ser algo desafiador, mas isso tem sido construído pouco a pouco por meio de conteúdos dedicados especificamente para plataforma. Ou seja, eles não adaptam conteúdos de outros lugares.
Com o tempo, esse time dedicado de uma das maiores redes de mídia dos EUA conseguiu fazer sucesso ao abordar temas pouco comuns no jornalismo tradicional, como o mercado de fotos de pés, por exemplo - sim, você leu certo. Além disso, no mercado em que a atenção é a principal moeda, o time da NBC não enxerga os “haters” como ameaça e consegue extrair aprendizados.
Para eles, é preciso encontrar a melhor forma de falar com sua audiência neste que é um cenário extremamente lucrativo, mas que demanda autenticidade.
Os influencers da Gen Z
Por falar em autenticidade, Khaby Lame, um senegalês de apenas 22 anos, se tornou o usuário com mais seguidores no TikTok sem emitir uma só palavra. Ele tem hoje 143,5 milhões de seguidores e gera dezenas de milhões de visualizações diárias em seus vídeos.
Lame trabalhava como operador de máquinas em uma fábrica em Turim, na Itália, até ser demitido em março de 2020, por causa dos impactos da pandemia de covid. Nos primeiros meses seguintes, ele começou a produzir conteúdo para o TikTok em que dançava ou jogava videogame. Mas o boom veio quando passou a usar o recurso “duet” da plataforma, gravando suas reações genuínas.
De acordo com o portal de entretenimento HITC, ele faturou impressionantes US$ 6 milhões em 2021 e pode dobrar o feito ainda em 2022. Sua receita vem principalmente de marcas que usam o TikTok para fazer propaganda. O segredo do sucesso? Autenticidade e humor simples.
Em setembro de 2021 Lame participou da Milan Fashion Week e, em janeiro deste ano, a BOSS anunciou que fechou uma parceria com ele. Na semana passada, lançaram juntos uma coleção de roupas.
Nomes de criadores como MrBeast, que tem pouco mais de 97 milhões de inscritos no YouTube, Jelly, com 22,7 milhões de inscritos no YouTube, Kallmekris, com 44,5 milhões de seguidores do TikTok, e Charli D’Amelio, com 142,5 milhões de seguidores do TikTok, também foram destaque na convenção.
D’Amelio, que faz sucesso com suas danças na plataforma, perdeu o posto de maior estrela do TikTok para Lame.
Mesmo assim, sua rápida ascensão, de 2019 pra cá, mostra a rapidez com que o TikTok dominou a indústria de criadores. De acordo com a Forbes, ela faturou pouco mais de US$ 17 milhões com conteúdo para a plataforma em 2021.
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