Bloomberg Opinion — O bilionário investidor Ken Griffin está ajudando a construir a “Wall Street do Sul”. Após anos de especulação, Griffin – simpatizante do governador da Flórida, Ron DeSantis, está levando seu fundo de hedge e sua formadora de mercado de Chicago para Miami, reforçando o status da região como destino atrativo para empresas de finanças e investimento.
A chegada das empresas Citadel e Citadel Securities marca um acontecimento animador para uma região que batalhou para estabelecer uma identidade econômica fora do setor de comércio e de turismo – que paga muito pouco. Por anos, a cidade foi um local onde pessoas abastadas passavam suas férias e adquiriam imóveis, mas não era o local onde elas trabalhavam. Isso levou muitos dos jovens talentos de Miami a deixar a cidade.
Agora a região também se tornou um local de trabalho, mas essa mudança ocorreu em um momento delicado para uma das cidades menos acessíveis e mais desiguais dos Estados Unidos, e agora as autoridades devem garantir que o boom dos fundos de hedge não ocorra em detrimento da acessibilidade da cidade para seus residentes comuns.
A inflação já está em um patamar excepcionalmente complicado no estado. Os aluguéis na região metropolitana de Miami aumentaram 41% no último ano, maior percentual entre as grandes regiões metropolitanas monitoradas pela CoreLogic, devido em parte à oferta limitada e à demanda adicional das pessoas que se estão se mudando para a área. No site de pesquisa de imóveis Zillow, os aluguéis típicos da região metropolitana de Miami são comparáveis aos de Los Angeles, mesmo com os níveis de renda sendo 25% mais baixos. Enquanto isso, o coeficiente de Gini de Miami – uma medida da desigualdade da área – está no mesmo nível do da Colômbia.
As autoridades, incluindo a prefeita do Condado de Miami-Dade, Daniella Levine Cava, do partido democrata, e o prefeito da cidade de Miami, Francis Suarez, um republicano não partidário, devem garantir que a cidade construa moradias mais acessíveis para que os moradores da classe trabalhadora possam morar perto do núcleo urbano e não sejam forçados a se mudar para em bairros e moradias vulneráveis que não conseguem acompanhar os desafios da mudança que está ocorrendo na cidade. Eles também devem redobrar os esforços para melhorar o precário sistema de transporte público do condado, afetado por décadas de atrasos e promessas não cumpridas. Se as autoridades falharem nestas tarefas, Miami poderá deixar de ser viável para as pessoas da classe trabalhadora que a construíram, incluindo os muitos imigrantes da América Latina que conferem ao sul da Flórida um clima diferente de qualquer outra cidade nos Estados Unidos.
É claro que não dá para culpar as pessoas por quererem se mudar para um lugar com clima quente o ano todo, cultura rica e sem impostos de renda estaduais. Além da Citadel, os recém-chegados mais recentes incluíram a Ark Investment Management, de Cathie Wood, que foi para São Petersburgo; a Elliott Management, que está em West Palm Beach; e a DoubleLine Capital, estabelecida em Tampa.
A revolução do trabalho remoto permitiu que pessoas físicas e jurídicas pudessem fazer escolhas de vida que antes não eram possíveis, e os fundos de hedge com poucos ativos – que normalmente são administrados por algumas pessoas que trabalham em seus computadores – naturalmente foram os primeiros a se mudar. Griffin também é o principal doador do governador DeSantis, e ele não escondeu seu desprezo pela criminalidade e pela liderança política do estado de Illinois, que decidiu deixar para trás.
É claro que o sul da Flórida também tem muitas cidades problemáticas e ainda tem um longo caminho a percorrer para ser considerado uma verdadeira alternativa aos grandes centros financeiros, incluindo Nova York. Embora seja fácil para trabalhadores de colarinho branco e chefes de fundos de hedge trabalhar remotamente, outros fatores ainda impedem que as pessoas deixem os centros financeiros tradicionais. Um receio comum é que não há vagas disponíveis nas melhores escolas particulares da região. O mercado vai se adaptar para atender a essa demanda, mas isso vai demorar. Com base nos dados mais recentes da Securities and Exchange Commission, a comissão de valores mobiliários do país, a Flórida tinha apenas 1,8% dos ativos regulatórios geridos dos EUA, ante 1,3% antes da pandemia.
Ainda assim, é evidente que os dados oficiais subestimam o crescimento cada vez maior do setor, em parte porque não incluem os inúmeros escritórios satélites. Também não dá para negar que empresas grandes e influentes como a Citadel ajudarão a melhorar o impulso da região. Isso significa que Miami – uma cidade com foco no estilo de vida por excelência – finalmente tem uma chance de manter seus talentos e reverter a fuga de cérebros do passado. Mas durante o processo, a cidade deve proteger as pessoas da classe trabalhadora que fizeram do sul da Flórida o que ele é.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Jonathan Levin trabalhou como jornalista da Bloomberg na América Latina e nos EUA, cobrindo finanças, mercados e fusões e aquisições. Mais recentemente, ele atuou como chefe da sucursal da empresa em Miami. Ele é analista financeiro certificado pelo CFA Institute.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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