Bloomberg — A Zara lançou um vestido na semana passada como parte de uma coleção limitada de roupas. A peça custa US$ 90 e é feita parcialmente de emissões de carbono recicladas. Aliás, o vestido já está esgotado.
As emissões de carbono e outros gases de efeito estufa são as piores. O acúmulo desses gases nas últimas décadas está começando a remodelar cada canto do planeta de forma aterrorizante. Nas últimas semanas, houve inundações devastadoras no Parque Nacional de Yellowstone, incêndios florestais no Arizona e na Califórnia e temperaturas extremas no Texas. O ritmo desses eventos está pressionando as empresas a reduzir seus níveis de poluição.
A indústria da moda, em particular, é responsável por 2% a 8% das emissões globais de carbono, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. A dependência da indústria de plásticos para tecidos é grande parte do problema, mesmo que a própria indústria tenha tentado repaginar os materiais como sendo ecologicamente corretos e bons. A redução dessas emissões levou alguns varejistas como Zara a tentar novos produtos e ajustes na cadeia de fornecimento.
“O público está muito preocupado com a poluição causada pelo plástico e a crise dos resíduos plásticos; todos podem ver”, disse Veena Singla, cientista sênior do Conselho de Defesa de Recursos Naturais. “As pessoas querem ação e soluções, e vemos empresas de todos os setores da indústria reagindo a isso”.
Os novos vestidos da Zara incluem 20% de um tipo especial de poliéster feito com um ingrediente proveniente de emissões industriais de carbono. A empresa que ajudou a desenvolver e fabricar o tecido foi a LanzaTech. A CEO Jennifer Holmgren explicou a origem do tecido.
As siderúrgicas costumam queimar monóxido de carbono e dióxido de carbono na atmosfera, disse ela. A LanzaTech opera uma fábrica em uma usina siderúrgica, para pegar facilmente as emissões de monóxido de carbono e colocá-las em um reator, disse Holmgren – um processo chamado fermentação de gás. Então, uma cepa específica de bactérias dentro do reator devora as emissões e “defeca etanol, basicamente”.
“É como a levedura quando você faz cerveja e você entra com o açúcar e obtém o etanol”, disse Holmgren. “Aqui não o alimentamos com açúcar; alimentamos esse organismo com monóxido de carbono ou dióxido de carbono”.
O etanol da LanzaTech, que é quimicamente idêntico ao etanol derivado de combustíveis fósseis, é enviado para empresas que o transformam em outros produtos químicos usados em tecidos de poliéster ou em outros produtos, como garrafas plásticas.
O impulso climático de uma edição limitada de roupas é provavelmente minúsculo. Sem saber o número de vestidos vendidos – a Zara não quis compartilhar a informação e Holmgren não sabia – é difícil medir o quanto as coleções ajudam. “A pergunta de um milhão de dólares” sobre uma tecnologia tão emergente, segundo a analista de moda independente Veronica Bates Kassatly, é: Ela pode ser escalonada?
Holmgren afirma que sim. Além de duas fábricas da LanzaTech na China, uma das quais obteve a certificação da Mesa Redonda sobre Biomateriais Sustentáveis, sete outras fábricas devem abrir pelo mundo nos próximos anos. A LanzaTech já produziu mais de 30 milhões de galões de etanol desde o início de 2021, o que equivale a manter 150 mil toneladas de dióxido de carbono fora do ar. O objetivo é produzir 100 milhões de galões até o final de 2023. E embora as fábricas ativas usem apenas o monóxido de carbono como fonte, os planos são expandir e usar dióxido de carbono também.
A startup fez acordos com diversas varejistas, incluindo a Lululemon (LULU), a Coty, a Mibelle e a Migros. A cisão de nome LanzaJet vem produzindo um tipo de combustível sustentável para companhias aéreas.
“O combustível fóssil está em tudo que usamos, não apenas combustível ou energia”, disse Holmgren. Ela espera que os vestidos da Zara mostrem às pessoas “que para descarbonizar, temos que mudar de onde vem o carbono usado em tudo”.
Kassatly considera que, se o desenvolvimento e a tecnologia por trás dos tecidos da LanzaTech funcionarem conforme anunciado, seria um passo na direção certa – mas talvez não seria a melhor solução para o excesso e o desperdício da indústria da moda. “A solução óbvia não é produzir poliéster a partir de outro material”, disse ela, “a solução é produzir menos poliéster”.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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