Bloomberg — Uma escassez inesperada de celulose empurra os preços da matéria-prima para níveis recordes sem perspectiva de alívio para os fabricantes de papel, segundo a Suzano (SUZB3), maior produtora mundial.
Paradas não programadas de produção nos principais fornecedores retiraram 1,65 milhão de toneladas de celulose do mercado até maio, mais que o dobro da média histórica anual por motivos semelhantes, disse Leonardo Grimaldi, diretor executivo da gigante brasileira de celulose, citando números de consultorias especializadas.
As interrupções no fornecimento são a principal razão para um aumento de 46% nos preços da celulose na China este ano, embora os preços em todos os mercados estejam em níveis recordes e o rali pode não ter acabado, disse Grimaldi em entrevista. Isso faz com que itens essenciais como papel higiênico, fraldas e embalagens de alimentos fiquem mais caros, piorando os problemas de inflação global.
O declínio da produção de celulose foi exacerbado por greves nas usinas da UPM na Finlândia, gargalos logísticos na América do Norte e Ásia e a guerra da Rússia na Ucrânia. Mais interrupções são prováveis com a continuidade da guerra.
Os fabricantes de celulose da Finlândia que dependem de madeira russa sofrem falta de suprimentos por causa das sanções contra a invasão da Ucrânia. As bétulas da Rússia são matéria-prima para 1,2 milhão de toneladas de celulose na Finlândia, disse Grimaldi, citando números de consultores globais.
“Esse é outro buraco no mercado de celulose de fibra curta, e não há como equacioná-lo”, disse Grimaldi. Incluir essa redução de oferta em um ano já apertado resultará em um impacto “gigantesco”, sem resolução no curto e médio prazo, disse. A demanda global por celulose de fibra curta totalizou 36 milhões de toneladas no ano passado.
O caos no transporte marítimo que atrasa embarques em todo o mundo também piora os problemas de fornecimento. Entre 1 milhão e 2 milhões de toneladas de celulose estão com entregas atrasada, disse ele. A logística global piorou com os controles mais rígidos de Covid e a falta de mão de obra, aumentando o tempo de viagem. As companhias de navegação não esperam que a situação melhore por pelo menos seis meses, segundo Grimaldi.
Novos projetos que teriam adicionado 3,6 milhões de toneladas de celulose ao mercado em 2021 e 2022 foram adiados, agravando a escassez, e as datas para o início dessas operações permanecem incertas, disse.
Embora os clientes da Suzano, com sede em São Paulo, tenham carteiras de pedidos cheias até setembro, as perspectivas de demanda enfrentam dois riscos: uma recessão global que pode reduzir o uso de papel e a capacidade dos produtores chineses de repassar os custos mais altos de celulose no segmento de impressão e escrita, de acordo com Grimaldi.
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