Bloomberg Línea — O unicórnio brasileiro de pagamentos Ebanx, que tem entre seus investidores a gigante global de private equity Advent International, anunciou a demissão de quase 20% de seus 1.700 funcionários. Já a colombiana Frubana, que arrecadou US$ 65 milhões da GGV, SoftBank e Tiger Global no ano passado, decidiu cortar a equipe brasileira em “menos de 3%”, segundo a empresa.
O Ebanx, rival da dLocal (DLO), com sede no Uruguai, obteve uma rodada de US$ 430 milhões da Advent no ano passado como preparação para um IPO, mas desistiu de abrir o capital no primeiro semestre deste ano por causa da volatilidade do mercado.
Ainda assim, no mês passado, a Advent, empresa de private equity com sede em Boston, conseguiu levantar um novo fundo de US$ 25 bilhões, o segundo maior fundo de private equity de todos os tempos.
Nos últimos dias, o Ebanx descontinuou seu produto de carteira digital Ebanx Go. Agora, as demissões vão desmembrar projetos inteiros em diferentes áreas da empresa.
O Ebanx se junta à lista de outros nove unicórnios da América Latina que demitiram recentemente: Kavak, VTEX (VTEX), Olist, Bitso, 2TM, QuintoAndar, Loft, Facily e Creditas.
O Ebanx disse, por meio de nota, que fez uma “revisão em sua operação, reforçando o foco no que sempre foi seu core business: pagamentos internacionais”.
“Estruturas foram reformuladas, alguns projetos estão sendo descontinuados e houve uma redução de cerca de 20% do quadro de mais de 1.700 funcionários do grupo EBANX. A decisão foi tomada com base no cenário atual do mercado de tecnologia como um todo, impactado de forma profunda e veloz pelo ambiente macroeconômico”, disse a empresa.
O Ebanx disse ainda que “mantém o compromisso com sua sustentabilidade e crescimento e que os funcionários impactados por essa reestruturação receberão, juntamente com a sua rescisão, um pacote de benefícios que inclui valores adicionais e extensão do plano de saúde, além do computador de trabalho”.
Procurada pela Bloomberg Línea, a Advent disse que não vai comentar as demissões.
Já a Tiger Global sofreu grandes perdas nos últimos meses e moveu cada vez mais seu braço de capital de risco para negócios de cheques menores. Antes disso, a Frubana e outras startups podiam contar com a gestora de Nova York para bancar valuations gigantescos em um ritmo de implantação rápido; no entanto, o dinheiro agora é escasso e os fundadores estão sendo instruídos a cortar custos. A startup brasileira ZAK, financiada pela Tiger, também demitiu funcionários nos últimos meses.
A Frubana é uma plataforma de e-commerce para restaurantes. Foi criada em 2018 na Colômbia com o objetivo de reduzir intermediários e custos. Além da Colômbia, a startup tem operações no México e no Brasil, onde pretende continuar operando. “Devido a mudanças na estratégia da empresa, houve uma redução de pessoal de menos de 3% do quadro brasileiro”, disse a Frubana.
Enquanto nos Estados Unidos a plataforma de dados de startups Crunchbase diz que mais de 21 mil trabalhadores de tecnologia já foram demitidos, aproximadamente 1.600 funcionários de startups foram cortados no Brasil nos últimos três meses, segundo o site Layoffs Brasil.
Foco nos mercados locais
Fundado em 2012 no Brasil, o Ebanx processa pagamentos internacionais em 15 países da América Latina. No ano passado, o Ebanx e outras startups da região desfrutaram do chamado “empurrão latino-americano”. Mas, agora, algumas empresas latino-americanas estão mais conservadoras em relação à sua presença geográfica, embora algumas ainda estejam expandindo (caso do QuintoAndar).
As empresas colombianas Merqueo e Tul estão saindo do México e do Equador, respectivamente. Os escritórios de comunicação da Merqueo na Colômbia e no México confirmaram que o aplicativo de entrega de supermercado sob demanda foi encerrado em 8 de junho no México.
Apesar de ter obtido US$ 181 milhões em uma rodada de investimentos Série B que permitiria expandir no Equador e no Brasil, onde já tem operações, a Tul descontinuou suas operações no Equador.
“Nos dói tomar essa decisão, mas hoje estamos enfrentando uma nova realidade de ter que buscar maior eficiência e focar em outros mercados para continuar”, disse Enrique Villamarin Lafaurie, cofundador e CEO da Tul.
Diferentemente da peruana Favo, empresa de social commerce que recentemente decidiu suspender as operações no Brasil devido a dificuldades financeiras causadas pelo cenário macroeconômico, a Frubana disse à Bloomberg Línea que sua nova estratégia de crescimento e expansão inclui continuar investindo no Brasil e fortalecer sua presença nas cidades onde atua: São Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Campinas.
A empresa liderada por Fabián Gómez conecta produtores a donos de restaurantes e funciona como um canal alternativo para o consumo imediato de produtos, artigos e insumos para a indústria.
No ano passado, a empresa fechou sua rodada da Série B para expandir na América Latina. Nos mercados em que atua, a Frubana alcançou “crescimento de 6 vezes o número de usuários, triplicou as vendas e ampliou sua oferta de produtos com novas categorias como proteínas, alimentos básicos e produtos embalados ao longo de 2020 até o primeiro trimestre de 2021″, disse a empresa.
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