Bloomberg — Os investidores estrangeiros elevaram as apostas contra o real ao maior nível em mais de um ano, diante do aumento da incerteza sobre a trajetória das contas públicas e da deterioração da demanda global por ativos de risco.
Os não-residentes agora carregam posição comprada em dólar de US$ 32,1 bilhões, segundo dados da B3 sobre derivativos cambiais compilados pela Bloomberg. É a maior exposição à moeda americana dos agentes internacionais desde abril de 2021, quando o Banco Central ainda iniciava o ciclo de alta de juros. No fim de maio, a posição estava em US$ 25,8 bilhões.
Nas últimas semanas, a piora do humor global penalizou o real, ao passo que a mudança de plano de voo do Federal Reserve, que sinalizou um ciclo mais forte de aperto monetário, engatilhou uma liquidação dos ativos de risco. Como resultado, o dólar se fortaleceu e passou a operar acima de R$ 5,10.
Incertezas domésticas reforçaram a dinâmica. A percepção de risco fiscal se deteriorou, a princípio, com as medidas anunciadas pelo governo para limitar a cobrança de impostos sobre os combustíveis. O avanço da classe política sobre a Petrobras (PETR4; PETR3) após o anúncio de novo reajuste também levantou dúvidas sobre a política de preços da companhia, a cerca de 100 dias das eleições presidenciais. Agora, integrantes do governo e Congresso pressionam por ampliar gastos extrateto para R$ 50 bilhões, segundo fontes.
“O exterior ‘fez preço’, mas a parte doméstica idiossincrática tem pesado bastante”, diz o chefe de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Segundo ele, a aposta pessimista do estrangeiro também reflete um ambiente macroeconômico de crescimento modesto da economia brasileira e inflação de dois dígitos.
“Há ainda um cenário de implementação de políticas instável, como a questão fiscal, a Petrobras e o populismo de medidas antes da eleição pelo Congresso e o governo”, diz Ramos.
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