Chile: como foram os 100 primeiros dias de Gabriel Boric no poder

Domingo (19) marcou 100 dias desde que o líder do partido chileno Apruebo Dignidad assumiu cargo de presidente do Chile

Entre erros e acertos, confira como foram 100 primeiros dias de seu governo
20 de Junho, 2022 | 02:23 PM

Bloomberg Línea — Gabriel Boric chegou a seu 100º dia no Palácio de La Moneda no domingo (19). O Presidente do Chile completou o período com taxa de aprovação de cerca de 32,8%, de acordo com a última pesquisa Pulso Ciudadano de Activa, publicada na primeira quinzena de junho e com margem de erro de amostragem de +/- 2,8%. A queda na popularidade foi a mais acentuada sofrida por qualquer líder chileno desde 1990 durante os primeiros dias de governo.

“Sabemos, compatriotas, que não será fácil alcançar nossos objetivos, que enfrentaremos crises externas e internas, que cometeremos erros e teremos que repará-los com humildade”, disse Boric em seu primeiro discurso como chefe de Estado em 11 de março, quando assumiu o cargo.

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Para Mario Herrera, analista político da Universidade de Talca, o balanço dos primeiros 100 dias de mandato de Boric foca em vários aspectos, incluindo a comunicação: “Houve dois erros. Por um lado, as declarações da ministra do Interior, Izkia Siches, que durante algum tempo ficou nas manchetes, e por outro lado, o timing da apresentação dos anúncios presidenciais”.

Siches se tornou uma das figuras mais controversas no início da nova administração. Em abril, a ministra se retratou após denunciar o fracasso na expulsão de migrantes, que acabou se baseando em informações falsas.

Herrera diz que embora houvesse anúncios importantes relacionados ao programa do governo Boric, como o aumento do salário mínimo ou um plano de recuperação econômica, estes foram ofuscados pelas notícias negativas associadas a seu governo. “O principal erro foi na área do Ministério do Interior, onde Siches cometeu várias gafes”.

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Situações complexas

Em seus primeiros meses de mandato, Boric teve que lidar com a violência na chamada macrozona sul do Chile. A princípio, o presidente encarregou Siches de ir a La Araucanía, numa tentativa de aproximar-se da área para iniciar um diálogo, mas, em vez disso, a ministra acabou encontrando com grupos violentos que a impediram de entrar em uma zona de conflito.

Depois de se opor ao Estado de Exceção imposto por seu antecessor – o presidente Sebastián Piñera – Boric aplicou esta medida e até a ampliou recentemente para controlar a violência na região da Araucanía e nas províncias de Arauco e Biobío.

“Algumas situações permanecerão latentes durante o resto de seu governo. Estas incluem o conflito na macrozona sul e a situação dos migrantes no norte do Chile, para as quais ele não consegue encontrar uma solução”, explica Herrera.

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Segundo o analista político, a solução para o caminho do diálogo está ficando para trás com os estados “limitados” de exceção, e poderia significar uma “mudança de estratégia”.

Viagens internacionais

As viagens internacionais de Boric contribuíram para o sucesso de seu governo, diz Herrera. “Em termos de política externa, pelo menos houve mais acertos que fracassos”, acrescenta ele.

Presidente chileno se encontrou com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau

Sua última viagem foi à América do Norte para participar da Cúpula das Américas. Boric reconheceu que sua impressão era de que tudo correu bem. As pesquisas mostrariam um ligeiro aumento em sua taxa de aprovação em uma das principais pesquisas, a Pulso Ciudadano, após a viagem, que incluiu reuniões com o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o Primeiro Ministro do Canadá, Justin Trudeau. “Isso melhorou o balanço de seu governo, e isso é importante porque normalmente os itens da agenda externa tendem a unir os chilenos”.

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Outra decisão acertada do novo governo foi o aumento do salário mínimo e as medidas de auxílio econômico pós-pandemia.

Processo constituinte

Os primeiros meses do mandato de Boric foram marcados pela etapa final do processo constituinte, o que também influencia sua agenda. “Embora, logicamente, exista uma associação ideológica entre o presidente e seu programa de governo e a Convenção Constitucional, a associação lógica entre as duas questões obrigou o presidente a se separar dela, enquanto seus ministros tentam se vincular mais ao conteúdo de uma nova Carta”, diz Herrera.

Em uma entrevista com o jornal El Mercurio, o Secretário-Geral da Presidência, Giorgio Jackson, disse que se a opção de rejeição triunfasse no plebiscito de 4 de setembro, eles teriam de rever os “melhores mecanismos para realizar” seu programa governamental, mas “muitas dessas reformas, com a atual estrutura constitucional, não poderiam ser realizadas”.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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Maolis Castro

Jornalista venezuelana no Chile com uma carreira em veículos internacionais. Foi correspondente do jornal espanhol El País em Caracas e colaborou para os veículos ABC, Wall Street Journal e DW. Trabalhou para o website de jornalismo investigativo Armando.info.