Bloomberg — Mesmo sob a sombra de grandes guarda-sóis no coração de Madri, ainda fazia calor. As mesas externas dos cafés e dos restaurantes estavam vazias.
“Junho é um dos melhores meses para nós, portanto uma onda de calor agora não é boa para os negócios”, disse o gerente Daniel Benito, enquanto ajudava uma garçonete a reorganizar grandes ventiladores e borrifava o chão com água para tentar resfriar o espaço. “É simplesmente impossível planejar e administrar um negócio com um clima tão extremo.”
A temperatura na capital da Espanha se aproximou de 40ºC no começo desta semana, em uma onda de calor prevista para se espalhar pela Europa nos próximos dias. O clima quente é comum nos países mais ao sul do continente, mas essas altas temperaturas geralmente ocorrem no final do verão, a partir de agosto.
Um sistema de alta pressão paira sobre a Europa, retendo o calor em um efeito chamado de “cúpula” ou “domo de calor”. Pessoas em Paris, Roma e Londres se preparam para condições tórridas.
“A onda de calor se intensificará ao longo da semana”, disse Mika Rantanen, pesquisador do Instituto Meteorológico Finlandês.
O clima escaldante é outro exemplo do impacto da mudança climática, já que a dependência dos países da queima de combustíveis fósseis torna o planeta mais quente. É a segunda vez em menos de um mês que as temperaturas superam os 40 graus na Espanha, um calor incomum para esta época do ano, com a agência meteorológica do país emitindo dezenas de alertas em todo o país. Em Córdoba, a temperatura máxima poderia chegar a 43ºC, de acordo com a agência.
“Cada onda de calor no clima atual é reforçada ou impulsionada pelas mudanças climáticas”, disse Rantanen.
Além disso, o calor pode pressionar os já voláteis mercados de commodities. Os preços da energia na França e na Alemanha subiram à medida que as temperaturas impulsionam a demanda por eletricidade para operar aparelhos de ar condicionado.
Há também o risco de que as colheitas de grãos sejam reduzidas ainda mais na Europa Ocidental e, particularmente, na França, na Espanha e em Portugal, de acordo com análises da Agritel, com sede em Paris. As colheitas de trigo estão se aproximando e os campos na França, principal produtor, já foram ameaçados por uma das primaveras mais quentes e secas do século, reduzindo ainda mais as condições em um momento em que a oferta global está pressionada por causa da guerra na Ucrânia.
Em Paris, os aparelhos de ar condicionado se esgotavam nas prateleiras enquanto os moradores se preparavam para temperaturas que poderiam chegar a 37ºC no sábado (18), segundo a Meteo France.
“Fizemos um grande pedido quando a previsão passou a apontar uma onda de calor”, disse Alan Charles Angel, funcionário de uma loja de eletrodomésticos, enquanto descarregava uma carga de aparelhos de ar condicionado e se preparava para buscar mais.
Partes da França estão sofrendo com uma seca que pode piorar durante a onda de calor e aumentar o risco de incêndios florestais.
Na Itália, as temperaturas podem chegar a 40ºC nos próximos dias, segundo o centro de previsão meteorológica Meteo Giuliacci. Temperaturas tão altas podem ser perigosas para pessoas vulneráveis, incluindo idosos e crianças pequenas.
Giancarlo Penza, da comunidade de Sant’Egidio, é responsável por um programa que atende milhares de octogenários em toda a Itália, principalmente em Roma. Ele afirma que os membros estão em alerta máximo. “Não esperamos que os idosos peçam ajuda. Nós entramos em contato para garantir que eles estejam bem, que tenham comida ou remédios suficientes para quando está muito quente para sair.”
A Grã-Bretanha também terá um período de altas temperaturas fora de época. As temperaturas no sudeste provavelmente atingirão um pico de 33ºC nestes dias, de acordo com o Met Office do Reino Unido.
“Esta é a primeira onda de calor neste ano, sendo que é incomum que a temperatura ultrapasse esses números ainda em junho”, disse Dan Rudman, vice-chefe de meteorologista do Met Office. “Muitas regiões também terão algumas noites quentes”.
-- Com Flávia Rotondi, Megan Durisin e Albertina Torsoli.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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