Varejistas e seguradoras vão oferecer banda larga. Essa é a nova aposta do BTG

Nova companhia de fibra ótica controlada pelo banco prevê investir R$ 30 bi até 2025, conta o CEO da V.tal, Amos Genish, em entrevista à Bloomberg Línea

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São Paulo — Em breve, redes varejistas e empresas de e-commerce vão oferecer o seu serviço de banda larga com a sua marca para os consumidores. Essa é a aposta da V.tal (referência à palavra Vital), a nova empresa de fibra ótica controlada pelo BTG Pactual (BPAC11) a partir dos ativos da Oi com a ambição de se tornar uma gigante no setor, segundo contou o CEO da companhia, Amos Genish, à Bloomberg Línea.

“Todos querem usar a fibra para lançar a banda larga com a marca deles”, disse Genish ao revelar que já está em negociações com algumas das maiores redes varejistas, seguradoras e e-commerces do país sobre seus planos de se tornarem um “digital player” baseado na tecnologia de fibra ótica - seria uma espécie de Broadband as a Service.

Genish acaba de assumir a V.tal, mas é um profundo conhecedor do setor de telecom há mais de duas décadas: foi fundador e CEO da GVT, uma das provedoras de internet pioneiras no país, ainda no fim dos anos 90, vendida posteriormente à gigante francesa Vivendi; mais tarde, foi CEO da Telefônica Vivo no Brasil e da Telecom Italia no mundo. Mais recentemente, a partir de 2019, comandou a unidade de Digital Retail do BTG Pactual, liderando a ofensiva do banco junto ao consumidor de varejo.

O CEO e presidente executivo do conselho de administração da V.tal disse que os investimentos devem alcançar R$ 30 bilhões até 2025, com previsão de R$ 5 bilhões em receitas já neste ano, posicionando-se como a maior empresa de infraestrutura de fibra ótica de país. Para ajudar a financiar os projetos de expansão, uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) está no radar no médio prazo.

Controlada pelo maior banco de investimento da América Latina, a V.tal levou cerca de dois anos para virar realidade. Genish descreveu esse processo como “complexo” e “difícil”.

“O BTG foi o único com competência para chegar até o fim, superando obstáculos jurídicos, regulatórios e financeiros. Foi um negócio ‘game changer’ [para mudar de patamar]” para o setor de telecom brasileiro, para o país e para o consumidor final”, diz Genish, em referência à novela da venda dos ativos da Oi dentro do processo de recuperação judicial, marcado por disputas e questionamentos de concorrentes e entidades do consumidor na Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), órgão antitruste.

A ambição da companhia é criar a maior infraestrutura digital do país, com expansão de data centers pelas diferentes regiões, do Nordeste (Ceará) ao Sul (Rio Grande do Sul), de olho nas necessidades de conexões mais rápidas decorrentes da implantação de tecnologias como o 5G e a metaverso.

A nova companhia dispõe atualmente de um rede neutra de fibra ótica com cerca de 400 mil quilômetros de extensão, com presença em mais de 2.300 cidades do país e cobertura para contratação em mais de 16 milhões de endereços (home passed). Genish revela que a companhia pretende investir para dobrar a cobertura de FTTH (Fiber To The Home, que significa a instalação da fibra até a casa dos consumidores), atingindo 34 milhões de endereços em quatro anos.

O futuro é a fibra com a conexão do wireless do 5G. Isso vai demandar mais antenas, de 5 até 10 vezes mais. Hoje no 4G são 100 mil antenas. Vamos precisar de 500 mil até 1 milhão de antenas para o 5G”, estima o CEO.

A V.tal nasceu com a conclusão do processo de transferência de participação de controle para a GlobeNet e os fundos de investimento do BTG Pactual, que assumem a responsabilidade pela gestão. Com isso, a Oi passa a ser um cliente relevante e acionista minoritário, porém sem participação na gestão direta da companhia e com as mesmas condições comerciais dos demais clientes, segundo a V.tal.

O modelo de negócio da V.tal consiste no compartilhamento de sua rede neutra para operadoras e provedores de internet, de todos os tamanhos e regiões, que não precisam investir na construção, na manutenção e na expansão de sua própria infraestrutura, explicou Genish.

Segundo o executivo, essas empresas podem se concentrar no atendimento ao cliente e na oferta de serviços, enquanto conseguem se expandir rapidamente para mais cidades e regiões do que aquelas onde já atuam. Na sua avaliação, é um modelo também que favorece a entrada de novos players no mercado, aumentando a competição e oferecendo mais opções para os consumidores.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista com Amos Genish, com a divisão por temas para facilitar a compreensão:

Demanda

“É um projeto de longo prazo. Olhamos para os próximos 7, 10 anos, não para o momento atual. Estou otimista de que sempre vai haverá demanda por fibra ótica no Brasil O brasileiro é o maior consumidor de internet do mundo, passa 4 horas do dia, em média, usando a internet. E o Brasil só tem 20% de conexão com fibra ótica. Há muito potencial de crescimento. A banda larga é hoje um serviço básico, essencial, como a luz e a água.”

Cenário macro

“O atual cenário macroeconômico [com inflação e juros elevados] não afeta nossos planos de investimento. Nós entendemos que o momento é delicado, mas não é diferente do mundo. O Brasil está até um pouco melhor do que países europeus e até dos Estados Unidos. O Brasil pode sair primeiro dessas dificuldades do que outros países”.

Diferenciais vs. concorrência

“Diferentemente das redes abertas, controladas pelas operadoras [de telecomunicações], nossa rede neutra deixa os clientes tranquilos, pois não compartilhamos os dados estratégicos deles com outras operadoras. Temos um “chinese wall” [barreira para segregar os dados]. Só eles podem enxergar suas informações, sem ter que compartilhá-las com competidores sobre onde estão seus clientes, qual o share, qual o tíquete, qual a qualidade da rede. Além disso, temos uma rede mais completa fim a fim.”

Preços

“O Brasil nunca teve tanto investimento em fibra como neste momento. Vamos criar a maior infraestrutura digital do Brasil. Olhamos para a expansão de data centers. Estamos construindo em Fortaleza, Porto Alegre e vamos construir outro no futuro. Nossos preços vão ser mais competitivos. Temos mais escala e mais vantagens econômicas, além de uma rede mais eficiente, com menor custo de acesso.”

IPO

“Acessar o mercado de capital é uma etapa natural de uma empresa do nosso tamanho. Um IPO é possível, mas isso será considerado apenas no médio prazo.”

M&A

“Vamos atingir 34 milhões de hp [home passed, endereços de instalação de fibra] até 2025 por meio de crescimento orgânico ou inorgânico. Se houver boas oportunidades para a compra de infraestrutura de operadoras, vamos avaliar o preço justo. Mas não vamos entrar no B2C: queremos comprar infraestrutura, não a base de clientes das operadoras.”

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