Bloomberg — Diante do consenso de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) elevará a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% na quarta-feira (15), as dúvidas estão centradas na sinalização de continuidade ou fim do ciclo de aperto monetário.
Com as incertezas elevadas, o BC poderia inclusive deixar a porta aberta para qualquer uma das possibilidades.
A deterioração das expectativas de inflação e dos riscos fiscais embutidos nas medidas do governo para desonerar os combustíveis jogam a favor de uma alta adicional em agosto -- esse passou a ser o cenário do JPMorgan. A disparada do dólar diante das apostas em um Fed mais agressivo também pesa às vésperas do Copom.
Por outro lado, uma parada na alta de juros poderia ser necessária em razão dos efeitos defasados do aperto já promovido e da proximidade da entrada em cena do horizonte para 2024, na reunião de agosto.
Eventuais comentários do BC sobre os impactos dos projetos do governo sobre os combustíveis serão foco de observação, já que os economistas veem o forte alívio na inflação restrito a este ano, que não é mais o foco da política monetária.
Entre 35 economistas pesquisados pela Bloomberg, 33 esperam que a Selic suba 0,50 pp nesta semana e apenas dois projetam aumento de 0,75 pp. A curva de juros mostra um aumento na precificação de alta do juro na decisão desta quarta-feira, para acima de 60 pontos básicos, alimentado pela aversão ao risco disparada pela inflação acima do previsto nos EUA. Aposta de altas para agosto subiu para 38 pontos, conforme precificação da curva.
Veja os comentários dos analistas:
Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú (ITUB4)
- Copom deve elevar Selic em 0,50 ponto percentual e manter sinalização de perseverança em sua estratégia até que se consolide o processo de desinflação e ancoragem das expectativas
- Apesar do aperto monetário já avançado, a inflação elevada, persistente e disseminada, com uma nova rodada de piora das expectativas, levará o Copom a sinalizar ajuste moderado para a reunião de agosto, mas mantendo "postura de cautela"
- Comitê também deve considerar a possibilidade de reduções de impostos que, se implementadas, podem ter impacto baixista significativo na inflação projetada para este ano
- "Acreditamos que, no momento, esta possibilidade deverá ser tratada como um risco, o que limita sua influência sobre a decisão de juros a ser tomada nesta reunião"
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco (BBDC4)
- Copom deve elevar Selic para 13,25% nesta reunião e sinalizar que está próximo ao final do ciclo de alta de juros, dadas as defasagens e o nível de juro real já elevado
- Mas, como de praxe nos encerramentos de ciclo, o Copom deve deixar a porta aberta para avaliar os dados até agosto, e então decidir os próximos passos
Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan (JPM)
- Dado o núcleo de inflação muito alto e crescimento ainda sólido do PIB, além do recente ativismo fiscal, JPMorgan mudou sua previsão de que o ciclo terminaria neste Copom para a projeção de nova alta de 0,50pp em agosto
- Recente ativismo fiscal, com o governo propondo políticas expansionistas para reduzir os preços de energia, foi particularmente decisivo para adicionar uma alta final em agosto
- Estratégia ótima de comunicação parece ser o Copom manter todas as opções na mesa
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs (GS)
- Copom deve deixar porta aberta para outra alta moderada em agosto, mas não se descarta a orientação de fim de ciclo nesta reunião juntamente com um aumento acima do 0,50pp esperado
- BC deve oferecer uma orientação aberta na reunião de junho, ao mesmo tempo em que insinua uma possível alta no final do ciclo em agosto
- Mas há alguma probabilidade de o Copom vir com "surpresa hawkish" com aumento de 0,75pp e sugerindo que pretende manter a taxa básica em um nível significativamente restritivo no futuro próximo
Mansueto Almeida, Claudio Ferraz e outros economistas do BTG Pactual (BPAC11)
- Copom deve reduzir o ritmo de alta da Selic para 0,50 pp e manter a porta aberta a novo aumento em agosto
- Apesar da surpresa favorável do IPCA de maio, inflação permanece muito alta
Maurício Oreng, economista do Santander (SANB11)
- Comunicado pode sinalizar que o ciclo está perto do fim, reforçando a mensagem de que o aperto monetário até agora já foi forte, rápido e está já em estágio avançado
- Porém, diante das "incertezas tremendas", BC pode buscar algum grau de liberdade para os próximos passos
Caio Megale, economista da XP (XP)
- Espera alta de 0,50pp e que Copom deixe a porta aberta a aumento igual em agosto
- "Acho mais razoável fazer duas de 0,50pp porque estende o efeito contracionista"
- Copom pode dizer que antevê a possibilidade da continuação do aperto monetário, mas deve deixar o sinal "um pouco mais aguado, menos certeiro"
Roberto Secemski, economista do Barclays
- BC deve elevar juro para 13,25% à medida que o foco permanece no núcleo persistentemente alto da inflação
- Embora este possa ser o último aumento de taxa este ano, BC não deve explicitamente fechar a porta para ajustes adicionais diante dos riscos vindos das expectativas de inflação para 2023
- Como o horizonte relevante da política monetária vai gradualmente se mover para 2024 a partir de agosto, BC pode ver razões para interromper o ciclo para observar a transmissão do aperto monetário já promovido e também para evitar o risco de ter um “undershooting” na meta de 2024
Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV
- BC deveria elevar a Selic em 0,75pp, mas a tendência é que suba a taxa em 0,50pp, como o mercado precifica hoje
- Seria necessário um pouco mais de juros para reforçar a trajetória de convergência da inflação às metas e ancorar as expectativas
Gustavo Pessoa, gestor da Legacy Capital
- Espera alta de 0,25pp nesta semana
- "Cenário externo e do câmbio estão mais desafiadores para o Copom, mas continuamos acreditando que essa será a última alta"
- "Alguns esperam que essa seja a última alta e outros que haverá mais uma. Mas no geral todos concordam que o fim do ciclo está muito próximo"
- "Acredito que em breve o Copom vai contemplar o ano de 2024 no seu horizonte relevante. Isso fará diferença para a condução da política monetária"
Carlos Menezes, gestor da Gauss Capital
- BC deve elevar juro em 0,50pp nesta reunião e deixar a porta em aberto, sem cravar alta igual na próxima
- "O câmbio mais uma vez está indo para as máximas na semana do Copom. Isso acaba deixando menor a chance de o BC indicar fim de ciclo"
(Atualiza precificação de alta da Selic no trecho sobre curva às 13h31)
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