Bloomberg Opinion — Para resolver a falta de mão-de-obra, os empregadores estão se voltando para os mais de 1,3 milhões de trabalhadores mais velhos que foram expulsos ou deixaram voluntariamente a força de trabalho durante a pandemia.
Mas não espere que todos voltem correndo. Alguns estão voltando, mas são a exceção à regra. Os trabalhadores mais velhos deslocados enfrentam desafios para voltar à força de trabalho e não voltarão até que o governo federal tome medidas significativas para acabar com a discriminação por idade e ajudar com os custos de saúde.
Enquanto isso, é possível fazer algumas coisas caso queiram voltar a trabalhar.
Primeiro, é melhor esclarecer que não há evidências de que o número de pessoas que se aposentaram durante a pandemia além do caso típico são, em sua maioria, abastados que estavam fartos de trabalhar.
A maioria desse excedente de aposentados foi obrigada a deixar seus empregos. Se observarmos o histórico, 55% dos trabalhadores de baixa renda com 55 anos ou mais foram forçados a deixar a força de trabalho de 2010 a 2018, ao passo que 32% dos trabalhadores de renda média enfrentaram o mesmo destino, de acordo com minha pesquisa. Mesmo entre os trabalhadores de alta renda no topo da pirâmide de distribuição de renda, 30% foram obrigados a se aposentar antes do planejado.
Como a maioria das pessoas pensa que afirmar que se aposentaram é mais aceitável socialmente do que admitir que foram expulsos de um emprego, acredito que há muitos trabalhadores mais velhos desanimados que não acham que serão recontratados.
Vale ressaltar que a taxa de retorno de aposentadoria, ou o número de aposentados que estão trabalhando novamente, aumentou e está próxima dos níveis pré-pandemia. Ainda assim, tudo isso está acontecendo na margem – o percentual vem aumentando, mas o número de pessoas que voltam a trabalhar não passa nem perto do número de trabalhadores mais velhos que perderam seus empregos.
Outro sinal de que a aposentadoria pode não ser uma escolha dos trabalhadores, mas resultado da preferência dos empregadores pelos mais jovens é que o aumento salarial dos mais velhos ficou substancialmente abaixo da inflação e continua atrás dos ganhos salariais de trabalhadores no meio de suas carreiras.
Os salários dos trabalhadores mais velhos aumentaram 3,7% em abril em comparação com um ano antes, e os de trabalhadores entre 35 e 54 anos de idade aumentaram 4,9%. Se os mais velhos vão preencher algumas das lacunas trabalhistas, o salário e/ou as condições de trabalho terão de melhorar a fim de seduzi-los a deixar a aposentadoria.
A discriminação por idade impede que muitos aposentados voltem a trabalhar. Para os aposentados, o retorno ao trabalho depende da vontade dos empregadores em contratá-los. E o governo federal poderia ajudar.
A discriminação por idade carrega crenças não comprovadas de que os trabalhadores mais velhos não são capazes de se capacitar, são mais lentos, adoecem com frequência e são muito caros. Sem leis rigorosas contra a discriminação, os trabalhadores mais velhos não conseguem competir por empregos. A Associação Americana de Aposentados (AARP, na sigla em inglês), relatou que a preocupação dos trabalhadores mais velhos com a discriminação por idade atingiu seu nível mais alto em décadas. A boa notícia é que quando o mercado de trabalho está apertado, a discriminação diminui.
O governo federal poderia ajudar diminuindo a idade de elegibilidade para o Medicare – sistema de saúde para idosos – para 50 anos. Dessa forma, o Medicare cobriria certos custos de assistência médica antes que o plano de saúde do empregador entrasse em vigor. Isso reduziria significativamente as despesas das empresas para contratar trabalhadores mais velhos, que agora estão em desvantagem porque o plano de saúde para trabalhadores mais velhos é bem mais caro do que para trabalhadores mais jovens.
Funcionários mais velhos também precisam de mais poder de barganha para conseguir ofertas atrativas. Em geral, a sindicalização melhora muito o acesso dos trabalhadores a planos de saúde e previdência e aumenta os resultados em termos de segurança, incluindo licença médica e férias remuneradas. Além disso, os funcionários sindicalizados ganham muito mais do que seus colegas não sindicalizados nos mesmos empregos.
O governo federal também poderia ajudar os trabalhadores mais velhos ao prestar mais atenção aos problemas incomuns enfrentados por idosos. Por exemplo, os programas de capacitação de trabalhadores não são incentivados a aceitar trabalhadores mais velhos porque demoram mais para encontrar novos empregos e isso faz com que os índices de sucesso dos programas pareçam ruins.
A representante democrata do estado de Illinois, Marie Newman, e outros legisladores apresentaram um projeto de lei que criaria um Bureau de Trabalhadores Idosos para melhor coordenar os recursos governamentais e modernizar as leis de discriminação por idade e capacitação de trabalhadores.
Enquanto isso, o que as pessoas podem fazer? Primeiro, continuar empregadas – trabalhar por mais tempo ajuda a postergar o uso de suas economias. Em vez de investir na capacitação demorada e incerta, preste atenção às habilidades que você possui. Você usa a Internet para fazer compras online e conversar com amigos e familiares? Então você está familiarizado com a tecnologia. Se seu currículo precisa de uma repaginada, busque ajuda de uma agência local ou online.
Tome como exemplo o JEVS Human Services, do estado da Filadélfia, que oferece sessões virtuais de treinamento para residentes com 55 anos ou mais. Às vezes existe um programa semelhante perto de você. A AARP oferece dicas atualizadas para os trabalhadores mais velhos que procuram emprego. Além disso, o Conselho Nacional sobre Envelhecimento conta com Conselhos para Trabalho Maduro além de programas dedicados para idosos de baixa renda que procuram trabalho.
Infelizmente, a maioria das pessoas mais velhas não está nem perto de estar financeiramente pronta para a aposentadoria. Se o mercado de trabalho fosse mais amigável, eles poderiam ter uma chance. Até lá, a maioria das vagas no mercado não será preenchida por idosos.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Teresa Ghilarducci é professora de economia Schwartz na New School for Social Research. Ela é co-autora de “Rescuing Retirement” e membro do conselho de diretores do Economic Policy Institute.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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