Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — O volume de negócios com tokens não-fungíveis, os NFTs, caiu nas últimas quatro semanas. Após movimentar US$ 369,8 milhões entre os dias 17 e 23 de abril, o total negociado entre 29 de maio e 4 de junho recuou para US$ 48,62 milhões. Uma queda de 87%, indicam dados do The Block. O volume menor está associado às duras correções vistas nos preços dos criptoativos recentemente.
Mesmo diante desse cenário, analistas acreditam que, diferentemente do ciclo de alta visto entre 2017 e 2018, os NFTs não desaparecerão. A expectativa é de que mais casos de uso surjam e esse setor continue a crescer, mesmo durante o ‘inverno cripto’.
Queda produtiva
Os NFTs tomaram a mídia mainstream em 2021, a ponto do termo ser considerado a palavra do ano na avaliação do dicionário Collins. Para Juanu Haedo, desenvolvedor que participou do lançamento dos NFTs do filme inspirado no livro The Infinite Machine, o mercado ainda não viu todo potencial desses tokens.
“Quando você menciona NFTs, o termo é diretamente associado à arte visual. Eles são, porém, muito mais que isso. Os tokens não-fungíveis são a representação digital da posse de um ativo real”, diz Haedo. “Esses tokens podem ser o certificado de propriedade de um bem, como uma casa ou um carro”, completa.
Por outro lado, NFTs também podem ser “muito menos”, como bilhetes de entrada para shows ou eventos no geral, avalia o desenvolvedor. Embora o mercado conheça esses tokens pelos seus casos de uso mais simples, Haedo Haedo acredita que as próximas aplicações serão descobertas durante o ‘inverno’ do mercado de criptoativos.
“Acredito bastante que os NFTs evoluirão durante essa queda de preços para aplicações mais avançadas e úteis, que terão impactos em mais indústrias. A adoção maior no mainstream partirá das empresas, assim que elas entenderem o potencial que esses ativos têm para comprovar e verificar, sendo imutáveis e não possíveis de serem falsificados.”
Web3, produção de filmes e fracionamento
O primeiro caso de uso geral de NFTs é considerado por Leonardo Carvalho, CEO da NFTFY, como um “Cavalo de Tróia para a Web3″. Ele afirma que os tokens não-fungíveis serão a porta de entrada para mais pessoas do mainstream à internet descentralizada, fazendo com que o desejo de possuir o criptoativo esteja vinculado à vontade de interagir com aplicações e não apenas com foco no preço.
Além disso, o famoso diretor Spike Lee disse em recente entrevista que o uso de NFTs para financiar a produção de filmes é “um cavalo que deixou o estábulo”. Ou seja, para o diretor, a venda de tokens para angariar fundos destinados a uma produção audiovisual será cada vez mais comum. Niels Juul, produtor de filmes do diretor Martin Scorcese, também mostrou ter opinião favorável ao uso de NFTs para financiamento de filmes.
Carvalho compartilha dessa visão, acrescentando ainda o uso desses ativos digitais para captação de royalties em vendas secundárias. “Por exemplo, sempre que o NFT é negociado, os produtores do filme recebem um percentual pela movimentação.”
Até mesmo a forma de investimento em NFTs pode passar por alterações durante a baixa nos volumes. Carvalho menciona o modelo de fracionamento, já usado pela NFTFY, onde diferentes investidores adquirem frações de um NFT – a tokenização. Esse novo arranjo pode se somar aos casos de uso listados.
“O modelo de financiamento coletivo tende a ser facilitado por meio de tokens não-fungíveis fracionados, onde uma pessoa coloca um NFT à venda e diversos compradores se juntam para adquirir”, explica o executivo da NFTFY.
Utilidade na exclusividade
Outra indústria que deve enxergar grande utilidade nos tokens não-fungíveis com espaço para crescer durante o período de baixa especulação com criptoativos é a área de eventos. Os NFTs com “valores agregados” estão entre aqueles com maior chance de prosperar no mercado, avalia Nathaly Diniz, advogada e programadora de contratos inteligentes.
“São tokens únicos que conferem ao detentor acesso a um clube VIP, vantagens ou benefícios exclusivos aos adquirentes. Essa provavelmente será uma tendência cada vez mais forte no uso de NFTs.”
Nathaly menciona também os Protocolos de Prova de Comparecimento, onde um certificado é gerado na blockchain por meio de um token não-fungível. Certificados dos mais diversos tipos podem ser registrados, de forma imutável, através desse caso de uso.
Jogos seguirão fortes
A aplicação de NFTs em jogos eletrônicos não é um caso de uso novo, mas esse modelo de utilização de ativos digitais não-fungíveis continuará forte. A opinião dos especialistas consultados foi unânime em relação a isso. Quanto às aplicações dentro desse ecossistema, Nathaly Diniz define que a relação entre NFTs e jogos apresenta “combinações ilimitadas”.
Aparentemente, fundos de capital de risco, como o Andreessen Horowitz, compartilham dessa visão. A alocação massiva de bilhões de dólares nesse mercado pode, de fato, ampliar de forma ilimitada o uso de tokens não-fungíveis no mercado de NFTs.