Alerta na bolsa: este indicador atingiu um patamar não visto desde 2010

S&P 500 vem de nove quedas em dez semanas no vermelho, em tendência liderada pela onda vendedora de ações de tecnologia

Medo da inflação contém apetite por risco
Por Kate Greifield
12 de Junho, 2022 | 10:31 AM

Bloomberg — O mercado de ações nos Estados Unidos retomou a trajetória de queda com a maior inflação desde 1981 e sofre com a tentativa agressiva do Federal Reserve para contê-la. Para piorar as coisas, os títulos de renda fixa também estão em queda.

As ações americanas tiveram a pior semana desde janeiro, depois que dados mostraram que as pressões de preços nos Estados Unidos atingiram uma nova alta de 40 anos em maio: isso acabou com as esperanças de que a inflação tivesse atingido seu pico.

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Os rendimentos (yields) do Tesouro americano chegaram aos níveis de 2008, enquanto investidores se preparam para a possibilidade de o banco central dos EUA aumentar as taxas de juros em 75 pontos-base (0,75 ponto percentual) no mês que vem, após executar a primeira alta de meio ponto desde 2000. A taxa está no intervalo entre 0,75% e 1% e deve subir para algo entre 1,25% e 1,5% na próxima semana.

Uma das consequências mais tangíveis da campanha da autoridade monetária foi tornar os investimentos de renda fixa cada vez mais atraentes em relação às ações. Há uma medida – uma versão do que é conhecido como o modelo do Fed no qual o valuation do S&P 500 (SPX) é traçado contra o dos títulos com grau de investimento – que acendeu um alerta mais preocupante para as ações.

O S&P 500 passou a “pagar” pouco menos de 5% em lucros em relação ao seu preço desde a quinta-feira (9), segundo dados compilados pela Bloomberg, contra 4,4% de rendimento médio dos títulos corporativos com grau de investimento. Essa diferença de 0,54 ponto percentual jamais esteve tão próxima da menor vantagem que as ações tiveram sobre o yield de crédito desde 2010.

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Relações como essa dificultam a escolha de ativos mais arriscados à medida que os investidores aumentam a fatia do portfólio capaz de suportar um banco central hawkish, isto é, disposto a aumentar os juros e a reduzir a liquidez dos mercados.

Diferença entre rendimentos dos Treasuries e do S&P 500

“Em uma retração, os ganhos serão afetados, o que terá impacto direto sobre as ações, mesmo que os múltiplos não mudem, enquanto a grande maioria das empresas com grau de investimento tem muito espaço para evitar a redução da classificação de crédito”, disse Peter Tchir, chefe de estratégia macroeconômica da Academy Securities. O rendimento dos títulos corporativos em relação ao rendimento dos dividendos do S&P 500 parece instantaneamente atraente, principalmente quando estou preocupado com a economia”.

O S&P 500 caiu 2,9% na sexta-feira (10), chegando a dez semanas de queda, liderada por um sell-off de ações de tecnologia muito valorizadas como resultado do consenso sobre o Fed ter de apertar a política ainda mais. Os Treasuries de dois anos ultrapassaram 3% pela primeira vez desde 2008, e economistas do Barclays e do Jefferies publicaram pedidos para que o Fed aumente as taxas em 75 pontos-base na reunião da próxima semana. Um aumento desse porte não acontece desde 1994.

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Embora o sell-off tenha afetado todo o mercado de ações e títulos, os valuations de renda fixa já precificaram a maioria do risco, segundo Max Gokhman, da AlphaTrAI. Com títulos de alto rendimento no nível mais alto desde 2020, é uma aposta melhor que as ações, que provavelmente passarão por outra reprecificação, disse.

“Há mais espaço para a queda das ações, já que os investidores de bolsa ainda estão em negação sobre o fim do ‘Powell Put’ – a política monetária do presidente do Fed – e a inflação ser um choque tanto de demanda quanto de oferta”, disse Gokhman. “Por outro lado, os investidores de renda fixa estão entre os estágios de depressão e aceitação. Por mais triste que isso pareça, é uma etapa melhor”.

S&P 500 teve pior semana desde janeiro

Nem tudo na renda fixa incentiva a compra. Os junk bonds dos EUA comandam rendimentos de 7,5%, também próximos dos níveis mais altos desde 2020, segundo dados da Bloomberg. Entretanto, ainda não é suficiente para compensar o risco de que o ciclo de aumentos do Fed pode levar a economia a uma recessão, de acordo com Sameer Samana, do Wells Fargo Investment Institute.

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“É um pouco cedo para pesar na exposição de alto rendimento devido à sua sensibilidade econômica”, disse Samana, o estrategista sênior de mercado global da empresa. “No momento, esperamos uma recessão leve e curta como base, sendo 10% provavelmente a estimativa correta para descontar esse cenário. Mas se o Fed cometer um erro na política, e uma recessão mais profunda e prolongada vier, então 10% pode não compensar os níveis mais altos de inadimplência”.

É claro que as versões do modelo do Fed não são ferramentas infalíveis de marcação do timing do mercado. Quando as ações perderam sua vantagem de rendimento em relação ao lucro sobre a dívida com grau de investimento em 2009, o S&P 500 avançou 23,5% naquele ano, seguido por um aumento de 12,8% em 2010.

Além disso, a alocação de ativos não é preto no branco. Para a diretora de investimentos Morningstar Marta Norton, a magnitude da queda das ações com o S&P 500 perto de 18% das perdas no acumulado do ano abriu oportunidades para a busca por barganhas. Mas os rendimentos não vistos em anos faz com que todas as partes de alta qualidade do mercado de títulos também pareçam atraentes, disse ela.

“Quando vemos as ações no nível em que estão, temos preferido o dólar marginal às ações”, disse Norton para a Bloomberg. “Também estamos vendo altos rendimentos na parte de maior qualidade do mercado de títulos, e isso também é algo que estamos acrescentando à nossa carteira”.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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