Bloomberg — O Banco Central Europeu (BCE) se comprometeu na manhã desta quinta-feira (9) com um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros em julho e abriu as portas para uma alta ainda maior em setembro, enquanto a zona do euro enfrenta uma inflação em níveis recordes.
Confirmando um aumento nos custos de empréstimos em mais de uma década, o BCE descreveu hoje uma série de movimentos de política monetária que estão por vir. Com as novas previsões indicando um caminho mais rápido para os preços da zona do euro do que anteriormente, a autarquia vai interromper as compras de ativos do mercado em grande escala a partir de julho.
A autoridade monetária liderada pela francesa Christine Lagarde se vê pressionada a reduzir os estímulos diante da maior inflação desde a criação da zona do euro, que abrange 19 países, e apesar da desaceleração prevista para este ano e dos riscos de recessão no horizonte.
“Se a perspectiva de inflação de médio prazo persistir ou se deteriorar, um incremento maior será apropriado para a reunião de setembro”, disse a autarquia em um comunicado. Além disso, “com base na avaliação atual, o Conselho do BCE antecipa que será apropriado um caminho gradual, mas sustentado, de novos aumentos das taxas de juros”.
Isso elevaria a taxa sobre depósitos para pelo menos zero no final do terceiro trimestre de 2022, ante -0,5% no momento, encerrando um período de oito anos de custos de empréstimos negativos e confirmando o plano previamente estabelecido pela presidente do BCE, Christine Lagarde.
O BCE prevê inflação média de 2,1% em 2024 - superando a meta anterior de 2%.
O euro subiu 0,5% em relação ao dólar, para US$ 1,0767, ou mais desde 31 de maio. Traders devem aumentar suas apostas para as taxas, seguindo a previsão de 150 pontos-base até dezembro.
As decisões desta quinta-feira cimentam a saída do BCE de uma política de anos de estímulos e sugerem uma trajetória mais agressiva do que o previsto por economistas consultados pela Bloomberg. O BCE acabou ficando pra trás diante de seus pares, já que mais de 60 outros bancos centrais em todo o mundo já elevaram suas taxas de juros neste ano.
“O BCE finalmente está percebendo que precisam entrar em um modo de ‘recuperação’ com os aumentos de taxas”, disseram economistas liderados por James Rossiter, da TD Securities, em relatório. “Quando as taxas atingirem um território positivo, o ritmo de aperto pode desacelerar”, escreveram.
Os anúncios seguem outro aumento inesperadamente acentuado da inflação na zona do euro, que ficou em 8,1% em maio na taxa anual - quatro vezes a meta. O aumento dos preços pressiona famílias e consumidores em todo o continente, enquanto os governos gastam bilhões de euros para proteger as pessoas de um aumento nos custos de energia ampliado pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
A inflação alimentou também um debate acirrado entre as autoridades do BCE sobre quão agressiva a resposta deveria ser, com um grupo considerável pressionando para que o aumento de meio ponto correspondente ao movimento mais recente do Federal Reserve, nos EUA, fosse considerado.
Destacando a incerteza atual, investidores precificaram nesta semana a chance de uma alta de meio ponto em julho em 50%. À medida que as pressões sobre os preços persistem e a economia perde força, a nova perspectiva do BCE indicou um rumo para a inflação de médio prazo acima ou na meta.
Nesta semana, as previsões do Banco Mundial e da OCDE reforçaram os temores de estagflação, à medida que a guerra na Ucrânia diminui a confiança e as interrupções na cadeia de suprimentos na Ásia restringem a capacidade das fábricas. Embora o pico da inflação global pareça ter passado, o Barclays prevê uma recessão leve na zona do euro depois que as férias de verão no Hemisfério Norte acabarem.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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