Bloomberg Línea — A inflação mais elevada em duas décadas no Brasil vai muito além dos preços dos combustíveis. Na cesta de consumo, por assim dizer, das classes de alta renda, a pressão inflacionária também se faz presente de forma cada vez mais perceptível, com reajustes da ordem de 30% a 50% para o fretamento de aeronaves e helicópteros em comparação com os valores praticados antes da pandemia. O início da alta temporada das férias de meio de ano deve pressionar ainda mais os preços por causa da demanda.
São aumentos relatados por companhias que atuam no segmento. A explicação: a equação que combina demanda aquecida e custos pressionados, principalmente a alta no preço do combustível. Na cidade de São Paulo, o maior mercado de aviação executiva do país, a procura pelo aluguel de jatinhos e helicópteros neste período do meio do ano, por exemplo, deve crescer 20% com decolagens para destinos como Campos do Jordão, tradicional reduto dos paulistas nos meses mais frios, a cerca de 170 km da capital. A estimativa é da Flapper, que opera uma plataforma de aluguel de jatos com voos na América Latina.
É uma expansão de demanda que tem sido registrada desde momentos mais agudos da pandemia, causando até uma escassez de aeronaves. “Apenas 2,5% de todos os aviões estão disponíveis para venda, enquanto o preço de fretamento subiu até 50% na comparação com o valor que era cobrado no período pré-pandemia. O mercado está em alta”, disse o CEO da Flapper, Paul Malicki, à Bloomberg Línea.
Diante da procura elevada, a Flapper lançou uma ponte aérea Rio-São Paulo de aviação executiva e irá anunciar mais uma rota, ainda não revelada, que será operada a partir de agosto. A empresa planeja pelo menos dobrar o faturamento neste ano na comparação com 2021, segundo o executivo.
“Quando começamos a empresa em 2016, o voo São Paulo-Rio em um turbo-hélice King Air custava R$ 11 mil. Hoje custa R$ 19 mil. Voos compartilhados entre São Paulo-Angra dos Reis custava R$ 700 em um Grand Caravan. Hoje custa R$ 1.500″, disse o CEO da Flapper citando a pressão de custos.
Os destinos de inverno mais demandados são: Campos do Jordão, litoral do Sudeste (como Angra dos Reis), Nordeste e Miami. Há voos para cidades do agronegócio, como Sinop (Mato Grosso).
A demanda por aeronaves também está aquecida para destinos internacionais. “Voamos muito entre cidades do México e Miami, além de Miami e Caribe também”, afirmou o executivo.
Voos panorâmicos
A inflação também é percebida nos chamados voos panorâmicos, seja em destinos turísticos como Foz do Iguaçu, na divisa com a Argentina, ou dentro de cidades como Rio e São Paulo - neste caso, como os que partem do aeroporto do Campo de Marte, na zona norte, e sobrevoam cartões-postais da cidade.
Em dezembro do ano passado, um voo de 30 minutos para três pessoas em um helicóptero da marca Robinson custava R$ 1.500. Hoje, o mesmo serviço está 26% mais caro, saindo por R$ 1.890. Os dados foram levantados com a empresa High Class, que opera no Campo de Marte.
A demanda por aeronaves privadas aumentou com o maior interesse de passageiros que buscam evitar aglomerações e inconvenientes decorrentes da redução da malha aérea por causa da pandemia, como horários restritos para os voos, segundo Marcus Matta, CEO e fundador da Prime You, empresa de compartilhamento de jatos executivos e helicópteros, entre outros bens de luxo.
“Estamos ampliando a oferta de aeronaves dado que a demanda continua aquecida”, disse Matta, que citou um Learjet 60 e um helicóptero EC 155 B1 como novos modelos da frota da companhia, que foi autorizada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) no ano passado para atuar também com táxi aéreo.
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