Mercado já prevê Selic a 14% ao ano diante de inflação persistente

Alguns economistas sustentam que o Banco Central será obrigado a mudar os planos mais uma vez

Inflación
Por Maria Eloisa Capurro e Josue Leonel
03 de Junho, 2022 | 11:03 AM

Bloomberg — A inflação no Brasil está tão alta que um número expressivo de economistas espera que o Banco Central aumente as taxas de juros muito além do que os diretores da instituição consideravam necessário alguns meses atrás.

Economistas do Credit Suisse e do BNP Paribas estão entre aqueles que esperam que a taxa básica de juros, atualmente em 12,75% ao ano, encerre o atual ciclo de aperto monetário em 14,25% ou próximo disso, igualando seu último pico em 2016. A maioria dos economistas consultados pela Bloomberg ainda prevê que a taxa termine o ano em 13,25%, como sinaliza o Banco Central.

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“A inflação corrente continuará surpreendendo os banqueiros centrais, assim como as expectativas de inflação”, disse Lucas Vilela, economista do Credit Suisse. O plano de voo, que seria entregar um aumento final na próxima reunião daqui a duas semanas, nos dias 14 e 15, “terá que mudar”, disse ele.

Alguns analistas veem pelo menos mais dois aumentos nas taxas de juros pela frente

As apostas em juros mais altos mostram o quão difícil será para a instituição liderada por Roberto Campos Neto ajustar a política monetária em tempos de guerra e rupturas na cadeia de suprimentos. Os diretores do BC sinalizaram que gostariam de parar de subir o juro em 12,75%, mas tiveram que apontar outro aumento de 50 pontos-base como “provável” após indicadores de preços acima do que se esperava.

Os integrantes do Copom já aumentaram a taxa básica em 10,75 pontos percentuais desde o ano passado – um dos ciclos de aperto monetário mais agressivos do mundo no pós-pandemia. A taxa Selic estava em 2% ao ano em março de 2021.

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Apesar dos esforços da autarquia, os preços continuaram a subir mais do que o esperado e levaram as estimativas de inflação para ainda mais acima da meta - que é de 3,5%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual -, o que prejudica as chances de o presidente Jair Bolsonaro ser reeleito em outubro.

Quase um terço de seus apoiadores disse que pode mudar de voto se a inflação continuar acelerada nos próximos meses, de acordo com uma pesquisa Datafolha da semana passada, que também mostrou a ampliação da vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O aumento dos preços ao consumidor é uma dor de cabeça para quase todos os líderes mundiais atualmente, mas o impacto é desproporcional sobre os mais pobres no Brasil, que compõem a maior parte da população.

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Campos Neto, tentando um difícil equilíbrio entre conter os aumentos de preços e proteger o crescimento econômico, disse na terça-feira (31) que fará “o possível” para cumprir a meta de inflação com “custo mínimo” para a economia. Operadores interpretaram suas observações como mais um sinal de que o BC tentará encerrar o aperto neste mês, reduzindo as taxas de juros futuras.

Mas a inflação ainda não deu ao BC uma razão para uma pausa. Os preços ao consumidor medidos pelo IPCA-15 subiram 12,20% ao ano até meados de maio, acima das expectativas dos economistas, com aumentos generalizados em quase todas as cestas de bens e serviços monitoradas pelo IBGE.

“Não são só eles. Todos os banqueiros centrais estão errando sobre esse choque inflacionário”, disse o ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, atualmente professor da Fundação Getulio Vargas.

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Erros passados

O próprio Campos Neto reconhece o alto custo de ancorar expectativas de inflação desequilibradas. “Nas duas últimas vezes que isso aconteceu no Brasil, tivemos que mergulhar em uma recessão”, disse na terça-feira (30).

Os economistas com as estimativas de taxas de juros mais altas temem que um remédio tão amargo, incluindo uma desaceleração econômica em 2023, seja inevitável agora.

  Preços ao consumidor no Brasil aumentaram tanto quanto o visto em 2016

“Aprendemos quanto tempo leva e quão difícil pode ser” reduzir as expectativas de inflação, disse Gustavo Arruda, head de pesquisas para a América Latina no BNP Paribas. Ele citou a última crise inflacionária que se formou durante o governo de Dilma Rousseff e que acabou forçando o BC a manter a Selic em 14,25% ao ano entre 2015 e 2016.

Embora as causas para a alta dos preços fossem diferentes naquela época, a inflação já está “muito pior agora”, disse Vilela, do Credit Suisse.

“Já está mais alta e mais difundida, até o núcleo da inflação está mais alto.”

©2022 Bloomberg L.P.

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