Por Gino Matos para Mercado Bitcoin
São Paulo — Com os preços dos criptoativos em queda, o restante do mercado de ativos digitais também foi afetado. O volume de negociações de NFTs entrou em declínio, o entusiasmo com protocolos de finanças descentralizadas esfriou e propostas começaram a ser questionadas. A indústria de jogos na Web3 está entre as inovações colocadas em xeque pelo varejo.
O recuo visto nos tokens dos jogos play to earn e semelhantes, como o SLP, do Axie Infinity, e o GMT, do STEPN, ressaltou pontos negativos antes ignorados. A jogabilidade limitada e os gráficos amadores em comparação aos jogos tradicionais são geralmente as características mais criticadas. A crença nesse mercado, contudo, não foi abalada, ao menos quando falamos das grandes instituições.
Jogos em Web3 seguem recebendo capital
Antes de falar sobre o cenário dos jogos para Web3, é preciso entender o que são. Todo jogo criado com tokens e/ou NFTs que recompensam de alguma forma o jogador pode ser considerado da Web3. O objetivo da estratégia é elevar a interação com a aplicação compensando o usuário.
O volume de recursos alocados por fundos de capital de risco nesse segmento indica uma forte confiança nesse mercado. Entre os dias 25 de maio e 1º de junho, cerca de dez rodadas de captação de investimentos foram realizadas por empresas relacionadas a jogos desenvolvidos para a Web3. Ao todo, a arrecadação somou US$ 61 milhões, apontam dados da Dove Metrics.
Além disso, desenvolvedoras renomadas do segmento tradicional de jogos, como Ubisoft e Square Enix, já se aventuram nesse novo mundo. Mesmo que os preços dos criptoativos estejam acompanhando o cenário macroeconômico, o interesse de empresas segue forte.
Mercado promissor, mas com dificuldades
Para Robson Harada, Diretor de Marketing e Growth do Mercado Bitcoin, o setor de jogos na Web3 é “extremamente promissor e ainda está no início”. Ele diz que a entrada de grandes players tradicionais “apenas provam o potencial da Web3, e o quanto é uma evolução natural eles se ancorarem nesse novo ecossistema”.

O cenário, no entanto, está longe de ser perfeito. Harada aponta a limitada capacidade das redes blockchain como uma das principais barreiras para o crescimento desse novo negócio. Embora essa questão esteja em constante melhoria por meio das soluções de escalabilidade em desenvolvimento, faltam profissionais capacitados para agilizar o processo.
“Estou confiante que esses temas [jogos em Web3 e escalabilidade] evoluirão em conjunto. A adoção em massa seguirá um caminho paralelo a eles.”
Próximos jogos
Leo Murakami, porta-voz do estúdio brasileiro Take4Games, comenta que os primeiros jogos voltados para a Web3 se aproveitaram do entusiasmo dos jogadores em ganhar dinheiro, sem se preocupar com a sustentabilidade econômica do projeto. A próxima interação de aplicações nesse segmento, entretanto, usará os erros da primeira geração como forma de aprendizado, avalia.
“Um conceito importante para as desenvolvedoras hoje é o equilíbrio entre o que se entrega como produto de investimento e a diversão”, diz. Nesta nova fase, os desenvolvedores possuem mais informações e comunidades já formadas, onde podem aprender e discutir sobre ferramentas com maior estabilidade e transparência. Ao mesmo tempo, o público está mais educado sobre o tema, e demanda soluções mais arrojadas e duradouras”, completa.
Compartilhando a visão de Harada, Murakami afirma que existem poucos profissionais com experiência em Web3 no mercado. O motivo, destaca, está no fato de o segmento ser muito novo. Também é necessário conhecimento prévio no desenvolvimento de jogos tradicionais, o que dificulta ainda mais a seleção de mão de obra qualificada, aponta.
A Take4Games é uma das desenvolvedoras que, com base nos erros anteriores, quer criar um jogo play to earn (ou ganhe para jogar), que seja divertido. O Universus é o projeto da empresa que reúne diferentes jogos play to earn, todos relacionados a uma temática de exploração espacial. O lançamento está previsto para o terceiro trimestre de 2022.
Murakami destaca que os aspectos econômicos do jogo levaram em consideração aplicações anteriores da Web3, que fracassaram por dar recompensas demais aos jogadores, inflacionando os tokens relacionados. Dessa forma, além do foco na diversão, o Universus terá uma abordagem em um ecossistema sustentável.