Bloomberg Línea — O iFood, maior app de delivery do país, está lançando uma linha de financiamento de motocicletas elétricas para entregadores. Por meio de uma parceria com a montadora brasileira Voltz e com o Banco BV, os entregadores poderão comprar motos elétricas por R$ 10 mil, com pagamento em parcelas.
A parceria tem o potencial de aumentar a escala de produção e vendas da startup de motos elétricas, ao mesmo tempo em que reduz o impacto ambiental da plataforma de entregas.
O novo projeto está sendo implementado em São Paulo, em um primeiro momento, e contará com 100 estações de bateria espalhadas pela cidade. O BV oferecerá um subsídio de R$ 2 mil para os primeiros 300 entregadores que fizerem financiamento.
A motocicleta da Voltz vem com carregador, mas o projeto do iFood também tem um sistema de troca de baterias.
O modelo funciona com uma assinatura em que os usuários não possuem a bateria, mas a utilizam como serviço (Battery as a Service), de forma compartilhada. No momento, já existem 33 postos de câmbio de bateria instalados em 19 postos de gasolina na capital paulista.
Os planos de assinatura de bateria variam de R$ 129 por mês para quem dirige até 2.000 km a R$ 319 para quilometragem e trocas ilimitadas.
Voltz: pé no acelerador
A autonomia da motocicleta da Voltz com duas baterias é de 100 a 180 quilômetros. As motos alcançam 85km/h e têm dois anos de garantia.
Na segunda-feira (30), a Voltz iniciou a operação de uma nova fábrica de motos elétricas na Zona Franca de Manaus, no Amazonas.
No ano passado, a montadora recebeu um investimento de R$ 100 milhões da fintech Creditas e agora está investindo R$ 12 milhões na nova fábrica.
O espaço tem 11 mil m² e a startup brasileira pretende produzir 15 mil motos por mês em um primeiro momento.
“A planta de Manaus é de extrema importância, uma vez que nos permite dar um passo à estabilização da cadeia de suprimentos com a China. Além de garantir um melhor controle de qualidade, permite ainda uma oportunidade de obter melhores custos dos produtos”, disse o CEO da Voltz, Renato Villar, em comunicado à imprensa.
Com a nova fábrica, a Voltz disse que terá uma infraestrutura completa para produção de motos e scooters elétricas e vai gerar 200 novas vagas de trabalho.
Para o iFood, as motos elétricas fazem parte de um projeto maior para reduzir emissões de carbono.
“A iniciativa se baseia em pensar nas vantagens para os entregadores e para o meio ambiente”, disse André Borges, chefe de sustentabilidade do iFood, em comunicado à imprensa.
Além de apoiar o uso de motos elétricas, a foodtech realiza o iFood Pedal, projeto que tem como foco fornecer aos entregadores planos acessíveis para a utilização de bicicletas e bikes elétricas nas entregas.
“A meta é garantir que 50% das entregas do iFood sejam feitas por veículos que não usem combustíveis fósseis até 2025. É um ganho para o entregador, para o meio ambiente e para a sociedade”, disse Borges.
Mas a imagem de sustentabilidade pode estar distante dos entregadores cadastrados na plataforma, de acordo com as conclusões de um estudo da USP (Universidade de São Paulo).
O pesquisador Eduardo Souza acompanhou por seis meses a rotina de cinco entregadores que usam bicicleta na cidade de São Paulo. Com um monitor cardíaco e um equipamento colocado na bicicleta, foi registrado que esse tipo de trabalho pode ser prejudicial à saúde dos entregadores. Isso porque, além dos riscos de lesões e das condições de trabalho consideradas precárias, os entregadores de bicicleta chegam a inalar cinco vezes mais poluentes do que quem se desloca de carro ou ônibus.
“Particularmente na cidade de São Paulo, a ausência de infraestrutura cicloviária, a baixa qualidade socioterritorial e os elevados níveis de poluição atmosférica podem mitigar os supostos benefícios que os serviços de entrega por bicicleta promovem à cidade e à saúde dos ciclistas entregadores”, escreve o autor da tese de doutorado.
O iFood tem mais de 200 mil entregadores ativos em sua plataforma. Souza cita a manifestação de junho de 2020 ocorrida em São Paulo conhecida como Breque dos Apps, quando entregadores suspenderam suas atividades para protestar por melhores condições laborais. Na última sexta-feira (27), entregadores de São Paulo voltaram a protestar por melhores condições de trabalho e aumento nas taxas.
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