Inflação tornou-se principal vidraça da campanha de Bolsonaro, indica pesquisa

Pesquisa BTG/FSB: 77% dos eleitores consideram “pouco eficazes” as medidas do governo federal para conter alta de preços

preços em alta influenciam humor do eleitor, segundo pesquisa
30 de Maio, 2022 | 01:16 PM

Bloomberg Línea — A inflação anualizada de dois dígitos tornou-se o principal obstáculo às pretensões do presidente Jair Bolsonaro de obter, nas urnas, mais quatro anos de mandato.

Segundo dados da pesquisa FSB encomendada pelo banco BTG Pactual (BPAC11), divulgada nesta segunda (30), 85% dos eleitores têm a percepção que os preços “aumentaram muito” nos últimos três meses. Para 10%, aumentaram “um pouco”.

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Olhando para a frente, 45% dos entrevistados acreditam que os preços ainda vão “aumentar muito” nos próximos três meses, 25% que vão “aumentar um pouco”, enquanto apenas 25% do eleitorado creem em estabilização (para 17% vão ficar “iguais”) ou queda (8% responderam que os preços “vão diminuir”. Em abril, o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), principal índice que mede a inflação no país, fechou em 12,13% no acumulado de 12 meses.

Segundo o levantamento BTG/FSB, 77% dos eleitores consideram “pouco eficazes” as medidas que o governo federal vem tomando até agora para combater a inflação.

“A escalada da inflação, mas principalmente a expectativa da maioria do eleitorado de que os preços continuarão subindo nos próximos três meses, tem sido um limitador para os planos de reeleição de Bolsonaro”, afirma Marcelo Tokarski, sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa.

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POR QUE ISSO É IMPORTANTE: Esse diagnóstico é compartilhado pelo Palácio do Planalto. Os dois principais estrategistas da campanha presidencial – o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, ambos do PP – têm tratado o tema como a máxima prioridade.

Lira diz que vai levar a plenário o projeto que limita a 17% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é um tributo estadual, sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transportes coletivos. Hoje, em alguns Estados, a alíquota de ICMS sobre energia chega a 30%.

Há dúvidas sobre a viabilidade política de usar esse caminho para tentar controlar a inflação antes da eleição: 1) Se a proposta for aprovada na Câmara, ainda precisa passar pelo Senado, Casa sobre a qual os governadores, que perderiam receita, têm forte ascendência; 2) Como se trata tributo de competência estadual, é possível que, uma vez aprovada, a proposta seja judicializada por Estados.

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Os movimentos recentes de troca de presidente da Petrobras (PETR3; PETR4) também refletem insatisfação do presidente e de seu entorno com os aumentos recentes dos preços de combustíveis pela companhia.

Lula ganha com saída de Doria

Embora feita com metodologia distinta, a pesquisa de hoje (feita por telefone) apresenta tendência similar à apresentada pelo Datafolha (dados colhidos presencialmente) na semana passada, que é a do crescimento das intenções de voto em Lula (PT), após a desistência de João Doria (PSDB).

Segundo a pesquisa BTG/FSB, Lula aparece com 46% das intenções de voto (contra 41% em abril), Jair Bolsonaro (PL) tem 32% (mesmo percentual de abril), Ciro Gomes tem 9% (mesmo percentual de abril), e Simone Tebet (MDB) tem 2% (1% em abril).

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A pesquisa foi realizada pelo Instituto FSB Pesquisa, por telefone, entre os dias 27 e 29 de maio de 2022. Foram entrevistados 2.000 eleitores. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.