Fintech global de US$ 15 bi negocia compra de empresa no Brasil

Rapyd, startup mais valiosa de Israel e concorrente da Stripe, quer se estabelecer na América Latina para competir com players de pagamento locais

Por

Bloomberg Línea — Uma das empresas de tecnologia de mais rápido crescimento de Israel, a Rapyd está buscando estabelecer sua presença na maior economia da América Latina, o Brasil, por meio de uma aquisição. A fintech é a startup mais valiosa de Israel e tem um dos maiores valuations para empresas privadas no mundo: US$ 15 bilhões. A Rapyd tem entre seus investidores a maior gestora do mundo, a BlackRock, e a gigante americana de investimentos Fidelity - que tem capital na Creditas -, além de General Catalyst, Target Global e Spark Capital.

No início deste ano, a empresa de pagamentos digitais disse à Bloomberg News que esperava que os Estados Unidos respondessem por 20% de sua receita estimada de até US$ 620 milhões em 2022 e que estava em negociações para adquirir uma empresa americana antes de seu IPO.

A ideia era comprar uma empresa no país como uma forma de atrair investidores para sua estreia das ações nas bolsas americanas e evitar um “viés doméstico”, de acordo com o que o CEO Arik Shtilman disse à Bloomberg News em fevereiro. “Não quero explicar a um fundo de pensão que pretende investir no meu IPO o que estou fazendo no Brasil”, disse Shtilman na época. “Só explicar aos americanos onde o Brasil está no mapa já é complicado demais.”

Agora, como a janela do IPO parece mais difícil e as condições macroeconômicas - leia-se taxas de juros mais altas - estão derrubando as avaliações das fintechs em todo o mundo, o provedor de pagamentos internacionais está olhando para o Brasil como uma “maior prioridade”, de acordo com Ximena Azcuy, diretora de parcerias de rede e desenvolvimento de negócios nas Américas da Rapyd. “A aquisição é nossa maior prioridade no Brasil, que está entre os três principais mercados na cabeça da liderança sênior”, disse ela, em entrevista à Bloomberg Línea.

“Neste momento, o corredor da América Latina está contribuindo muito com o volume de transações da Rapyd em geral. Vemos a região como um dos corredores mais relevantes para a empresa”, disse, embora não tenha divulgado o percentual que a América Latina deve contabilizar na receita da fintech.

A Rapyd se define como uma provedora global de fintech as a service que unifica cerca de 900 métodos de pagamento em todo o mundo e pagamentos locais em mais de 200 países.

“A diferença é que a Rapyd não apenas incorpora métodos de pagamento globais, mas também implementamos métodos de pagamento locais em cada país”, explica Azcuy. Esse também é o negócio da fintech brasileira Ebanx, investida da Advent, em um mercado em que não apenas players globais como a Stripe estão olhando, mas também locais, como o recém-listado unicórnio uruguaio dLocal.

Com sede em Tel Aviv, Azcuy diz que as expansões globais da Rapyd começaram em 2015, quando a empresa iniciou sua presença na região conhecida como EMEA (Europa, Oriente Médio e África) e nas Américas, em 2018. “Estamos nessa região há vários anos. Obviamente, a diferença é que em 2022 nossa rede cresceu muito. Incorporamos muitos tipos de pagamentos.”

A empresa diz que há quatro anos tinha quase 30 funcionários. Em 2020, a equipe cresceu para mais de 250 pessoas nos EUA, no Reino Unido, na Austrália, no Brasil e na Islândia. Agora, a empresa tem mais de 600 funcionários nos mercados da EMEA, da Ásia e do Pacífico e nas Américas, onde a Rapyd tem um escritório no México. A maior parte da equipe está sediada nos EUA. A fintech pretende ter um escritório no Brasil por meio da aquisição.

A empresa atua em todos os países da região, exceto a Venezuela.

“Quando se trata de M&A [fusões e aquisições], há muitos critérios: o tamanho da empresa, o custo potencial, se é algo que se sobrepõe à Rapyd. Estamos analisando M&A além de pensar se o tamanho é pequeno, médio ou grande. A parte mais interessante é o que essa empresa adiciona à plataforma da Rapyd.”

Além do M&A, a Rapyd também tem um braço de investimentos criado no ano passado, o Rapyd Ventures, por meio do qual pretende investir em empresas em estágio inicial no Brasil.

Interesse em fintechs na América Latina

O interesse de empresas estrangeiras que buscam adquirir e investir na América Latina não recuou diante de questões macro como o aumento das taxas de juros. Além da Rapyd, na semana passada, a exchange de criptomoedas Huobi Global, com sede em Seychelles, anunciou a aquisição da Bitex, uma exchange regional de criptomoedas na América Latina, para expandir sua presença na região. Os termos do acordo não foram revelados.

Fundada em 2014, a Bitex, rival do Mercado Bitcoin, tem presença na Argentina, no Chile, no Paraguai e no Uruguai. A Huobi planeja integrar as operações da Bitex com a plataforma Huobi Global, permitindo que usuários na América Latina negociem ativos digitais na Huobi Global para competir com a Binance, considerada a maior exchange de criptoativos do mundo.

O Grupo Huobi marcou sua primeira incursão na América Latina com o lançamento do Huobi Argentina em 2019, atraído pela crescente demanda por produtos e serviços relacionados a criptomoedas no mercado. Em 2020, a Huobi Argentina lançou o emparelhamento fiat-cripto entre o peso argentino e o Bitcoin (BTC) e o Tether (USDT).

Leia também:

Pioneiro das criptos diz que a maioria dos NFTs vai falhar