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Ideias Bloomberg Línea

Guilherme Assis: O futuro dos escritórios de investimento

Uma das principais conclusões das análises de investimentos é que investir é um ato social, pois somos seres sociais

Tempo de leitura: 3 minutos

Quando começamos a olhar as oportunidades que o uso de tecnologia traria para o mercado de distribuição de investimentos, em 2015, tínhamos a visão de que “robô-advisors” e plataformas de investimento “self-service” dominariam o mercado. Talvez um pouco de ingenuidade nossa, e a crença de que a tecnologia dominaria a vertical, como aconteceu em outras indústrias, nos levaram a nutrir essa convicção.

Nada como testar hipóteses e observar mercados análogos em geografias diferentes para matar uma convicção rapidamente. E, apesar de acreditar no nicho em questão, ficou claro que a “oportunidade grande” não estava na desintermediação total do mercado de distribuição de investimentos.

A pergunta de como a tecnologia iria mudar esse mercado continuava sem resposta. Resolvemos, então, utilizar alguns conceitos que aprendemos ao longo de anos envolvidos nesse mundo, sendo o principal deles: tecnologia é um meio, e não o fim em si.

Uma das principais conclusões que tiramos dessas análises foi que investir é um ato social, pois somos seres sociais. Procuramos validações nas nossas redes, sofremos pressões de nossos pares, investimos por ganância ou por medo. Isso ajuda a explicar por que racionalidade, disciplina e organização - características importantes para tomada de decisão de investimento - são muito difíceis de serem encontradas no investidor médio, e mais difíceis ainda de serem aplicadas por quem não está totalmente dedicado ao processo.

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Nesse contexto, ficou claro o que os escritórios de investimento geram de valor para seus clientes. Quando falamos de escritórios de investimento, nos referimos a empresas de assessores, consultores e/ou gestores (Multi Family Offices) que ajudam pessoas a investir. A combinação de relacionamento e expertise desses profissionais, são únicas, e endereçam muitas das motivações, comportamentos e anseios de seu público. Portanto, mesmo com tecnologias incríveis sendo desenvolvidas, esses profissionais têm papel essencial e insubstituível: o papel humano.

Esse exercício nos levou a olhar a indústria sob uma outra ótica, que nos permite enxergar com um pouco mais de clareza a direção do mercado de distribuição de investimentos e o papel dos escritórios nele.

A tecnologia e a regulação estão criando um ambiente de mais competição entre plataformas, bancos e corretoras. Os investidores hoje não têm conta em apenas um lugar. Ou seja, o cliente hoje é do mercado, e a briga entre as instituições financeiras é pelo share of wallet, pela conta mais ativa.

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Essa dinâmica leva a uma melhora no nível de serviço e preços em toda a indústria, mas mais especificamente, devido à natureza social dos investimentos. À medida que os escritórios de investimento têm mais informações e ferramentas para entender seus clientes, eles conseguem alavancar o relacionamento que cultivam, entregando uma experiência única, que vai além dos investimentos.

Isso significa que, conforme essa transformação vai acontecendo, aqueles escritórios que souberem se posicionar e alavancar a tecnologia e a experiência em favor do relacionamento, irão conseguir escalar, reter e encantar mais clientes, tendo mais poder dentro da cadeia de distribuição. Eles também conseguirão atrair os melhores profissionais, combinando o posicionamento e a tecnologia com modelos de partnership bem estruturados e construídos com alinhamento de interesse, colocando efetivamente o cliente no centro da experiência.

Estamos vendo uma confluência de forças que irão acelerar a transformação do mercado de distribuição de investimentos no Brasil em poucos anos. A padronização da informação aliada à troca dessa informação via APIs, resultado do Open Finance, permitirá que escritórios de investimento tenham uma visão muito mais completa de quem são e do perfil de seus clientes. Isso permitirá que a experiência de investir melhore e seja muito mais personalizada e escalável, alavancando o relacionamento existente. Além disso, veremos o processo da portabilidade de investimentos melhorar significativamente, e isso será um grande catalisador de crescimento para esses escritórios.

Quem se adaptar a essas mudanças e se posicionar corretamente, sem muitas amarras, irá capturar a “oportunidade grande” nessa nova estrutura de mercado.

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Guilherme Assis é cofundador e CEO do Gorila. Para saber mais sobre o autor, clique aqui.

--Esta coluna não reflete necessariamente a opinião dos conselhos editoriais da Bloomberg Línea, da Falic Media ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Guilherme Assis

Formado em Engenharia e com mestrado em Matemática Financeira pela USP, Guilherme Assis tem 20 anos de experiência no mercado financeiro, acumulando passagens por instituições como Morgan Stanley e Goldman Sachs.