Bloomberg — O ex-secretário do Tesouro americano Lawrence Summers expressou forte apoio à mais recente postura do Federal Reserve, depois de criticar por muito tempo o banco central dos Estados Unidos por ser lento em lutar contra a inflação mais alta em quatro décadas.
“Achei que a postura do Fed finalmente está amplamente apropriada”, disse Summers ao programa “Wall Street Week” da Bloomberg Television com David Westin. “Agora a questão vai ser o desenrolar.”
As autoridades do Fed apoiaram o aumento das taxas de juros em meio ponto percentual nas próximas reuniões de junho e julho após uma elevação anterior em 4 de maio, de acordo com as atas da reunião deste mês, publicadas na quarta-feira (25). “Muitos” oficiais pensaram que estariam bem posicionados para “avaliar os efeitos” de suas ações e até que ponto os ajustes de políticas eram necessários, indicaram as atas. A taxa está atualmente no intervalo entre 0,75% e 1%.
Summers, professor da Universidade de Harvard e colaborador remunerado da Bloomberg Television, sugeriu que o aperto nas condições financeiras dos EUA poderia moldar o quão alto o Fed precisaria elevar as taxas de juros.
“Eu não tenho certeza para onde as taxas de juros terão de ir” para chegar a uma desaceleração econômica que eleve o desemprego – condição necessária para derrubar a inflação. “Particularmente tudo o que está acontecendo tem sido adverso para as condições financeiras, no mercado de ações e nos mercados de crédito.”
Inflação transitória? Não mais
O índice S&P 500 caiu cerca de 14% em relação à alta do início de janeiro, enquanto os rendimentos dos títulos corporativos com grau de investimento aumentaram quase dois pontos percentuais desde o final do ano passado.
Summers criticou separadamente o Departamento de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), um braço apartidário da legislatura federal, por causa do que ele classificou como projeções econômicas imprecisas em seu último comunicado nesta semana.
“Sempre pensei no CBO como um bastião de credibilidade” em relação às suas projeções, disse Summers. Mas “este é o menos plausível do que tenho visto em 40 anos”.
Embora as previsões tenham sido preparadas meses atrás, parece que o CBO insiste no “transitório”, disse Summers, se referindo aos que previam que a alta inflação seria apenas um ponto passageiro à medida que os problemas da cadeia de suprimentos fossem resolvidos e os ganhos de preços voltassem a cair.
O CBO previu que a taxa de inflação anual cairá para 4% no quarto trimestre de 2022 e para 2,3% um ano depois, conforme medido pelo índice de preços para despesas de consumo pessoal. Esse indicador registrou um salto anual de 6,3% em abril, segundo um comunicado divulgado nesta sexta-feira (27). Em março, o PCE chegou a 6,6% na base anual.
É “concebível” que mudanças no lado da oferta ajudem a reduzir a inflação apesar da economia “superaquecida”, disse Summers. “Como eles poderiam considerar isso como o resultado mais provável não é algo que eu consigo entender.”
Uma boa regra sobre previsões é garantir que os riscos de alta e baixa sejam igualmente plausíveis, disse Summers. Ele disse que a inflação de 4% é “muito, muito mais plausível” do que a inflação de 0% daqui a dois anos - o que significa que uma estimativa de cerca de 2% “não é realmente a melhor estimativa”.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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