Bloomberg — O presidente chinês, Xi Jinping, realizou uma reunião incomum com uma chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), destacando a importância que seu governo atribui à visita histórica da funcionária das Nações Unidas, Michelle Bachelet, à China.
Pequim está disposta a discutir questões de direitos e cooperar com todas as partes com base no respeito mútuo, disse Xi em uma videochamada com Bachelet nesta quarta-feira (25), informou a emissora estatal China Central Television. Xi acrescentou que cada país deve seguir um caminho de desenvolvimento de direitos humanos que melhor se adapte a sua situação e às necessidades de seu povo.
Bachelet disse a Xi que a Comissão de Direitos Humanos da ONU que ela chefia está disposta a intensificar as comunicações e discutir a cooperação com a China. “Admiro os esforços e conquistas que a China fez nas áreas de eliminação da pobreza, proteção dos direitos humanos, bem como na realização do desenvolvimento econômico e social”, disse ela, segundo a CCTV.
A comissão da ONU ainda não forneceu seu relato da conversa.
A ligação é surpreendente porque Xi geralmente se reúne apenas com outros chefes de estado e líderes de alto escalão, como o secretário-geral da ONU. Mas seu governo foi duramente criticado por seu histórico de direitos humanos, com as acusações genocídio na remota região de Xinjiang, que Bachelet visitará, se tornando uma grande tensão nas relações com os Estados Unidos.
Pequim nega veementemente a acusação, dizendo que está combatendo o extremismo religioso e trazendo prosperidade para a região ocidental, que abriga o povo uigur, majoritariamente muçulmano.
“Vamos discutir questões sensíveis e importantes de direitos humanos, e espero que esta visita nos ajude a trabalhar juntos para promover os direitos humanos na China e globalmente.”
A viagem de Bachelet foi criticada por não ter garantias da China de que ela teria acesso irrestrito a pessoas e lugares, especialmente os campos em Xinjiang, onde uma avaliação das Nações Unidas de 2019 estimou que 1 milhão de pessoas foram mantidas. Pequim diz que as instalações são centros de treinamento vocacional que ensinam habilidades valiosas aos participantes.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, em coletiva de imprensa em Pequim nesta quarta-feira, evitou perguntas sobre Xinjiang ter sido abordada na ligação entre Xi e Bachelet, mencionando, em vez disso, a declaração do ministério que não falava sobre Xinjiang.
Reuniões com o presidente Xi e altos funcionários foram valiosas para discutir diretamente questões e preocupações de direitos humanos na China e no mundo. Para que o desenvolvimento, a paz e a segurança sejam sustentáveis, os direitos humanos, a justiça e inclusão de todos, sem exceção, devem estar em foco.
William Nee, coordenador de pesquisa e defesa da Chinese Human Rights Defenders, disse anteriormente que Bachelet será “quase inevitavelmente forçada a se envolver em uma visita altamente acompanhada e coreografada”. O embaixador dos EUA, Nicholas Burns, expressou a Bachelet “profundas preocupações” sobre as tentativas de Pequim de manipular a viagem, de acordo com várias pessoas na chamada que pediram anonimato porque não estavam autorizadas a falar.
Bachelet, ex-presidente de dois mandatos do Chile, disse a diplomatas na ligação que sua visita não era uma investigação, mas uma oportunidade para promover os direitos humanos, em um aparente esforço para diminuir temores – o primeiro feito por alguém em seu cargo desde 2005.
O governo chinês publicou uma declaração em chinês que incluía uma foto tirada do ministro das Relações Exteriores Wang Yi mostrando a Bachelet um livro intitulado Excertos de Xi Jinping sobre o respeito e a proteção dos direitos humanos, embora uma declaração semelhante em inglês não explicasse o conteúdo do livro.
A videochamada de Xi com Bachelet ocorreu um dia depois que dezenas de milhares de arquivos aparentemente hackeados forneceram novas evidências do abuso de uigures em campos de detenção em massa em Xinjiang, incluindo documentos detalhando uma política de atirar para matar fugitivos.
Os Arquivos da Polícia de Xinjiang, publicados pela Fundação Memorial das Vítimas do Comunismo, com sede em Washington, e compartilhados com diversos meios de comunicação globais, também continham milhares de fotos de detentos a parir de 15 anos de idade.
Bachelet também visitará Kashgar e Urumqi em Xinjiang, depois realizará uma entrevista coletiva para encerrar a viagem.
--Com assistência de Jing Li.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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