Third Point: é hora de captar a mensagem que o mercado passa, diz gestora

Para casa do investidor ativista Daniel Loeb, que tem US$ 17,3 bilhões sob gestão, momento desafiador exige adaptar o portfólio

Daniel Loeb, CEO e fundador da Third Point, uma das maiores gestoras de fundos hedge do mercado americano
25 de Maio, 2022 | 07:17 PM

Bloomberg Línea — O ambiente mais desafiador para investimento tem levado experientes gestores a colocar o pé no freio na alocação de recursos em ativos de risco e a mudar de estratégias para se adaptar ao cenário mais complexo, de alta inflação e juros em elevação.

“Não há um barulho de sino quando as regras do jogo estão mudando, mas, se você ouvir atentamente, poderá escutar o apito do cachorro. Este parece ser um momento para ouvir esse som mais agudo”, escreve Daniel Loeb, fundador e CEO da gestora Third Point, em carta trimestral enviada aos cotistas.

O famoso investidor ativista faz referência a uma expressão em inglês - dog whistle - que significa passar ou captar uma mensagem sutil que só pode ser compreendida por determinado grupo.

Fundada em 1995 em Nova York, a Third Point é uma das maiores gestoras de hedge funds dos Estados Unidos, com mais de US$ 17,3 bilhões em ativos sob gestão. Os hedge funds guardam semelhança com os fundos multimercados no Brasil e podem investir em diferentes classes de ativos.

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No documento, o conhecido gestor afirma que, desde que começou a Third Point, há 27 anos, testemunhou muitos investidores (inclusive ele) tropeçarem após anos de sucesso porque não adaptaram seus modelos e estruturas com rapidez suficiente à medida que as condições mudaram.

Dito isso, diante do contexto atual, o gestor diz ter adotado uma postura significativamente mais defensiva na carteira durante o primeiro trimestre e em abril, refletindo as preocupações da casa sobre valuations no atual ambiente de subida de taxas de juros, incerteza geopolítica e fraqueza em importantes economias globais.

Hoje, a exposição líquida da Third Point é menor, e o poder de compra, maior do que em qualquer momento nos últimos 10 anos, segundo a carta. A exposição do patrimônio líquido ajustada pelo beta - que mede o risco do ativo em relação ao mercado - caiu de 75% no início do ano para 41% no final do primeiro trimestre e para 23% desde o início de maio.

Como parte dessa mudança na carteira, a casa saiu de várias grandes posições de ações e reduziu a exposição, de forma a proteger as mais voláteis. “Acreditamos também que a melhor defesa é um ataque forte. O caminho para eliminar os excessos no sistema financeiro será acidentado e criará claros vencedores e perdedores antes de atingirmos a ‘normalização’ (o que quer que isso signifique no ambiente de hoje)”, escreve Loeb.

“Isso o torna atraente para ações vendidas e, por isso, adicionamos nossos shorts de nome único durante o primeiro trimestre, substituindo algumas de nossas cestas e hedges de mercado”, completa o gestor.

No primeiro trimestre de 2022, o fundo Third Point Offshore Fund apresentou perdas de 11,5%, ante queda de 4,6% do índice S&P 500 e baixa de 5% do índice MSCI World.

Aposta em energia

Uma das principais apostas da Third Point na bolsa recai sobre empresas de energia e outras ações cíclicas - ou seja, ligadas à atividade econômica. No primeiro trimestre, a gestora iniciou posições em empresas de petróleo e gás natural, bem como em outras companhias de materiais que acredita que se beneficiarão da inflação, da escassez de oferta e da adoção de EV (veículos elétricos) e fontes renováveis de energia. Um dos grandes investimentos da gestora em 2021, por exemplo, foi a Shell (SHEL).

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Com relação ao setor de tecnologia, Loeb reconhece que, mesmo após grandes declínios das ações, é difícil definir um fundo no segmento de alto crescimento e de altos valuations que é o de “tech”, principalmente porque “muitas dessas empresas contavam com remuneração baseada em ações e técnicas controversas de contabilidade e relatórios”.

“Parece que muitas das empresas que usaram esse tipo de remuneração para atrair funcionários podem ter dificuldades de retenção, levando a uma maior diluição para futuras concessões de ações ou aumento de salários em dinheiro. Isso pode pesar nas margens para analistas que confiam em medidas ajustadas. Tememos que a teoria da reflexividade de Soros entre em jogo se tal espiral acontecer”, conclui o fundador da Third Point.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.