Grandes empresas seguem investindo em startups da América Latina

Duas empresas de software internacionais compraram as startups Mandu e Everflow, do Peru e Brasil, nesta semana

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Bloomberg Línea — Com as taxas de juros em alta no mundo, o investimento de risco se retraiu. Mas, para grandes empresas, a estratégia de comprar participações em startups menores parece não ter desacelerado da mesma forma. O M&A (fusões e aquisições) e o Corporate Venture Capital (CVC, que são fundos criados por empresas para investir em outros negócios) têm aparecido como soluções para startups se capitalizarem durante a crise. Somente nesta semana, a Pegasystems (PEGA) e a Visma, empresas de software dos Estados Unidos e da Noruega, respectivamente, foram às compras de startups da América Latina.

Dados da plataforma de inovação Sling Hub mostram que a América Latina teve 26 transações de M&A em abril. A Pegasystems - concorrente do Salesforce e do ServiceNow - anunciou na segunda-feira (23) que comprou a Everflow, startup brasileira de software especializada em mineração de processos, em negócio que ajudará a empresa de Nova York a otimizar processos. O CEO da Everflow, Kleber Stroeh, agora é o vice-presidente de mineração de produtos na Pegasystems.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Maurício Prado Silva, diretor geral da Pegasystems na América Latina, explicou que empresas usam o software oferecido pela companhia para integrar processos com menor dependência de terceiros para códigos de programação (low-code).

“Temos um processo de aquisição global. Estamos sempre procurando ver o que existe de melhor e moderno no mercado para complementar de uma forma inteligente e que tenha um bom encaixe com o nosso portfólio de soluções”, disse.

Já a Visma, empresa norueguesa de software que já operava com Recursos Humanos na América Latina desde 2018, quer se consolidar na região com a compra da startup peruana Mandü. A startup do Peru desenvolveu um software para gestão de talentos.

A Visma tem operações na Argentina, Peru, Chile, Colômbia e México. Com a compra da Mandü, a empresa disse ter atingido mais de 5 mil clientes na América Latina.

Corporate Venture Capital

“Os aportes não vão deixar de acontecer, mas acredito que serão realizados com mais apuração do que o que vimos nos últimos anos”, disse Leonardo Monte, líder do Torq, núcleo de inovação da Sinqia, em entrevista à Bloomberg Línea. O Torq conta com um programa de corporate venture capital desde o ano passado, por meio do qual investiu em empresas como Celcoin, Data Rudder e CashWay.

Segundo Monte, as crises não afetam o negócio principal da Sinqia, o licenciamento de software para o mercado financeiro. Por isso, ele conta que do lado de corporate venture capital não houve retração. “Muito pelo contrário, temos aqui uma demanda dentro da estratégia da empresa para justamente continuar acelerando os investimentos. Claro que carrega um certo risco, mas é diferente do venture capital. Nosso objetivo não é a rentabilidade daquele ativo, mas olhamos para o estratégico atrelado com a nossa tese.”

Monte afirma que a Sinqia tem caixa disponível de cerca de R$ 200 milhões para M&As e novos aportes. Mas o plano é não ficar limitado a esse montante. “Entendemos que esse caixa pode crescer e podemos ter acesso à totalidade. Hoje nós temos mapeadas mais de 500 startups dentro da nossa tese”, disse.

Dentro do portfólio de investidas já existem 70 startups. “Fazemos uma coleta de sinergias, de apoio para que elas sigam crescendo. Somos parceiros de algumas dessas empresas até para conseguir entender as tendências do mercado. E, do nosso lado, temos muito mais que dinheiro. Oferecemos acesso a mais de 700 clientes do mercado financeiro de todos os tamanhos, os principais atores dentro desse universo: ‘bancões’, entidades de previdência, administradoras de consórcio até bancos digitais.”

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