Bloomberg Línea — A estratégia do presidente Jair Bolsonaro (PL) para se esquivar da responsabilidade pela alta dos combustíveis parece funcionar. Segundo pesquisa da XP/Ipespe divulgada nesta sexta-feira (20), 64% dos eleitores disseram que a Petrobras (PETR4;PETR3) tem “muita responsabilidade” pelo aumento do preço dos combustíveis.
Bolsonaro foi apontado como principal culpado por 45% dos entrevistados, percentual que se mantém desde março.
Em contrapartida, a responsabilização da guerra na Ucrânia caiu de 45% em março para 40%, em maio. Já o percentual de eleitores que culpam os governadores, as gestões petistas e o Supremo Tribunal Federal aumentou.
Os governadores foram apontados por 39% em março e passaram a ser apontados por 40%. As gestões petistas saíram de 35% para 27%. Já o Supremo saiu de 29% em março para 32% na pesquisa divulgada nesta sexta.
Foram saltos dentro da margem de erro da pesquisa, de 3,2 pontos percentuais para mais ou para menos. Mas mostram que a estratégia de Bolsonaro tem funcionado “no sentido de redistribuir os danos de imagem associados ao problema”, conforme a avaliação feita pelo cientista político Antônio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco, no Twitter.
Segundo ele, a estratégia do presidente consiste em “críticas contundentes” à Petrobras, bem como a troca de seu presidente e do ministro de Minas e Energia, e em uma ação apresentada ao STF pela Advocacia-Geral da União para tentar obrigar os estados a reduzir a alíquota do ICMS cobrada sobre o diesel.
Na ação, o governo argumenta que a nova lei do ICMS estabelecia um período de transição em que os estados deveriam estabelecer uma alíquota única para o diesel. Mas o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne as secretarias de Fazenda dos estados para definir políticas sobre o ICMS, estabeleceram um valor único de R$ 1 por litro de diesel, o que Bolsonaro chamou de “estupro”.
Já a ideia de privatizar a Petrobras não tem apoio da maioria dos eleitores. Segundo a pesquisa XP/Ipespe, 49% dos entrevistados são contra a venda da estatal e 38%, a favor. E 44% dos pesquisados acreditam que a desestatização vai aumentar os preços dos combustíveis, enquanto só 19% acreditam que os preços vão diminuir.
Caso a privatização leve à redução dos preços, 67% dos pesquisados passam a ser favoráveis à venda. E só 27% se mantêm contrários.
A economia parece continuar dando a tônica para as eleições deste ano: 62% dos eleitores acham que a economia está no caminho errado e 95% acreditam que os preços das coisas aumentaram — 72% acham que “aumentaram muito” e 23%, que “aumentaram”.
As intenções de voto continuaram estáveis desde a última pesquisa. O ex-presidente Lula (PT) continua em primeiro lugar, com 44%, seguido por Bolsonaro, com 32%.
Ciro Gomes (PDT) aparece em terceiro, com 8% das intenções. João Doria (PSDB) vem em seguida, com 4%, e depois vêm Simone Tebet (MDB) e André Janones (Avante), ambos com 2%.
Entretanto, a presença de Doria nas urnas em outubro voltou a ser dúvida. Nesta semana, as cúpulas do PSDB, MDB e Cidadania se reuniram para decidir apoiar em conjunto um único candidato da chamada “terceira via” — uma alternativa a Lula e a Bolsonaro. Tomaram a “decisão provisória” de se aglutinar em torno de Simone Tebet.
De acordo com a pesquisa XP/Ipespe, 38% dos eleitores consideram o voto em Doria (5% disseram que “votarão com certeza” e 33%, que “poderiam votar). Em relação a Simone Tebet, a cifra é de 17%.
As cifras já foram usadas pela campanha de Doria para criticar o consenso em torno de Tebet. Em nota divulgada à imprensa, a campanha do tucano disse que a pesquisa “vai na contramão da interpretação da cúpula do PSDB, MDB e Cidadania”.
No entanto, 53% dos eleitores disseram que não votariam “de jeito nenhum” no tucano. Enquanto a rejeição da emedebista é de 37% — ao mesmo tempo, só 8% dos eleitores disseram desconhecer Doria, e 45% afirmaram não conhecer Tebet.
A pesquisa ouviu mil pessoas por telefone entre os dias 16 e 18 de maio. A margem de erro é de 3,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, e o índice de confiança é de 95%. O registro no TSE é BR-08011/2022.
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