Bloomberg — Xangai encontrou os primeiros casos de covid-19 fora da quarentena em seis dias, levantando questões sobre a flexibilização do lockdown.
O total de infecções no centro financeiro chinês subiu para 858 na quinta-feira (19), ante 719 na quarta-feira (18) – e três foram encontrados fora da quarentena do governo. As autoridades começaram a aliviar o lockdown – que havia confinado os moradores em suas casas e reduzido a atividade comercial – no início desta semana, depois que a cidade atingiu um marco de três dias sem transmissão comunitária.
As autoridades também reconheceram a “enorme pressão” para evitar novas infecções durante um briefing diário sobre o surto, embora tenham anunciado novas etapas de reabertura mesmo depois que os casos foram descobertos. Os pacientes em uma vila no distrito suburbano de Qingpu foram rapidamente colocados em isolamento e seus contatos próximos foram testados, disse Zhao Dandan, vice-chefe da comissão de saúde da cidade.
O fim do lockdown de Xangai está alimentando os ativos chineses, com o mercado de ações superando os pares globais este mês, apesar do lento progresso na cidade.
Restrições continuam
Mesmo em áreas sem novos casos, muitas restrições continuam em vigor. Boa parte da população da cidade ainda está presa dentro de seus condomínios. Os moradores devem apresentar um passe para sair e só podem fazê-lo de bicicleta ou a pé. Os passes são distribuídos a cada apartamento por comitês residenciais, permitindo que uma pessoa por família saia durante o horário marcado para fazer compras no supermercado.
As vendas no varejo em abril caíram 48%, chegando a 71,7 bilhões de yuans, em comparação com os números do ano anterior, segundo dados do departamento de estatísticas local. Há também poucos sinais de qualquer reabertura generalizada para as empresas.
As empresas financeiras devem limitar o número de funcionários que retornam ao escritório a 40% de sua força de trabalho, informou o Shanghai Securities News. As instituições financeiras devem retomar o trabalho e a produção em circuito fechado e em estrita conformidade com os requisitos de prevenção de epidemias.
Lar de mais de 1,6 mil bancos e gestores de ativos, bem como um quarto da população expatriada da China, a situação da cidade prejudicou sua imagem e levantou dúvidas sobre suas ambições como centro financeiro global.
Havia 1.115 casos nacionalmente na quinta-feira, mais que os 1.016 da quarta-feira. A província de Sichuan registrou 122 casos ontem e 149 na quarta-feira.
A abordagem de tolerância zero está enfraquecendo devido à variante ômicron, com as autoridades recorrendo à implantação de medidas severas com mais frequência e extensão. Os surtos contínuos ressaltam os desafios que a China enfrenta na busca de sua estratégia Covid Zero, bem como o risco sempre presente de interrupções que já cobraram um enorme preço econômico e social. O impacto vem se espalhando pelo mundo.
A escassez de um corante usado em exames médicos – normalmente produzido em uma fábrica da GE Healthcare em Xangai que foi impactada pelo lockdown – se espalhou para a Austrália. As autoridades de saúde do estado de Queensland estão adiando alguns procedimentos médicos não urgentes até que os estoques possam ser reabastecidos.
Pequim registrou 54 novos casos na tarde de sexta-feira (20), ante 64 na quinta-feira, com dois encontrados fora das áreas em quarentena. Isso indica que o surto ainda é grave e ações adicionais devem ser tomadas para combatê-lo, disseram autoridades.
Eles ordenaram que os moradores do distrito de Fengtai, onde 30 dos casos foram encontrados, permanecessem em seus alojamentos, se possível. A maioria das estações de ônibus e metrô foi fechada, assim como escolas e restaurantes. No início da semana, algumas partes do distrito foram fechadas por sete dias, enquanto começaram três rodadas de testes em massa em quatro distritos.
Já se passaram quatro semanas desde o início do último surto de Pequim, mas há poucos sinais de que o vírus está desaparecendo. As restrições persistentes apenas conseguiram manter as infecções na casa das dezenas por dia em vez de eliminar a transmissão. Embora as autoridades de saúde tenham conseguido interromper a propagação da ômicron na parte leste da cidade, o vírus gerou novos surtos no oeste, levando a mais restrições.
Enquanto isso, a maioria das restrições continua em vigor. As pessoas em muitos distritos começaram a trabalhar em casa, as escolas permanecem fechadas, os restaurantes ainda podem servir apenas para viagem, e locais não essenciais, como academias e shoppings, museus e cinemas permanecem fechados. O trânsito está tranquilo em vias que normalmente ficam engarrafadas, e muitas estações da ampla rede de metrô da cidade seguem fechadas.
--Com a colaboração de Li Liu, Daniela Wei e Dong Lyu.
--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.
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