‘Vamos aplicar o caixa’, diz CEO da BR Properties após venda de 80% da carteira

Diante de cenário de juros elevados no Brasil, companhia decidiu correr menos riscos e zerar dívida líquida de R$ 2,1 bilhões com venda

Transação permitirá “equacionar a estrutura de capital em um cenário de juros crescentes”
20 de Maio, 2022 | 05:25 PM

Bloomberg Línea — A BR Properties (BRPR3) e a Brookfield, fundo de investimentos canadense, assinaram na quarta-feira (18) uma transação no valor de R$ 5,922 bilhões, que inclui a venda pela BR Properties de 12 propriedades comerciais, o equivalente a 385.412 m² de Área Bruta Locável (ABL) em edifícios comerciais, além de dois terrenos com ABL potencial de 9.312 m², o que corresponde a 80% do portfólio da companhia.

O pagamento está previsto para acontecer em 70% (R$ 4,145 bilhões) no ato da assinatura do contrato, e os 30% restantes (ou R$ 1,776 bilhões) em até 12 meses após o fechamento do acordo, ajustados pelo IPCA até dezembro de 2022 e CDI a partir de 2023.

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Em entrevista à Bloomberg Línea, Martin Andres Jaco, CEO da BR Properties, disse que a venda permitirá “equacionar a estrutura de capital em um cenário de juros crescentes”.

“Num cenário onde os juros seguem aumentando muito rápido, ainda com perspectiva de incremento e sem certeza de por quanto tempo essa situação pode durar, carregar uma dívida dentro da companhia é um custo muito alto”, disse.

“Nosso objetivo é comprar, vender e trazer resultados para a empresa - mas, mais do que isso, aliar a estratégia à redução do endividamento. Viramos caixa positivo e esse dinheiro vai ser aplicado, e aplicado com uma taxa de juros muito boa e atrelada ao que podemos gerar com o restante da nossa operação”.

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Andre Bergstein, CFO e diretor de relação com investidores da BR Properties, acrescenta que a operação acontece em meio a um momento “extremamente difícil de ler o futuro”, e que a venda traz uma situação de “reconforto” para a companhia em meio a incertezas no cenário macro, e que ”é preciso ver como o Brasil e o mundo vão se comportar nos próximos meses para, com isso, tomar as decisões certas de uma maneira muito mais confortável”.

Com a transação, a BR Properties vai transformar sua posição de dívida líquida, de R$ 2,1 bilhões, em caixa líquido, passando a ser geradora de receita financeira líquida. Sobre isso, Bergstein diz que “o ponto agora é olhar para frente e ver os investimento já temos em andamento, ver a questão de distribuição de capital via dividendos e o quanto mais pode ser pago em dívidas”.

Pés no chão e olhar atento ao cenário macro

Olhando para frente

Para Martin, CEO da companhia, o mercado de escritórios segue bastante desafiador, com um “cenário bastante ruim em termos de precificação de locação”, o que também contribuiu para uma maior cautela da companhia.

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“A gente ainda está saindo de uma pandemia, ou seja, as empresas estão bastante relutantes em pegar novos espaços (...). Ainda temos um ajuste muito grande para ser feito, do ponto de vista de valor, e embora tenhamos muito crescimento para acontecer, esse crescimento não vai ser rápido. Então, vamos sim permanecer como uma empresa menor, que aliás ao longo dos 15 anos de existência da companhia foi algo que a gente sempre fez e no timing correto, a depender de um mercado mais desafiador ou não”, explica.

Sobre investimentos e expansão, Martin afirma que é hora de olhar as cartas que estão sobre a mesa. Ou seja, aproveitar o “timing correto” e não fazer nenhum planejamento a curto prazo além dos que já estão previstos para o setor logístico.

Agora o foco é total em assinar e concluir a transação, e justamente discutir como a gente vai fazer uso dos recursos. Não estamos pensando agora em expansão e, de qualquer maneira, nosso viés é sempre oportunístico. Nossos próximos investimentos são logísticos, e isso já está no radar do mercado”, diz.

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Os investimentos que Martin se refere são dois condomínios logísticos em Cajamar, intitulados de “Projeto Cajamar I” e “Projeto Cajamar II”, além de uma possível expansão para a cidade de Jarinu, na região de Jundiaí, também no interior de São Paulo, onde a empresa já possui quase 100% de ocupação.

As ações da BR Properties acumulam alta de 26,68% nos últimos 12 meses, e de 7,18% nos últimos 7 dias.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.