Eletrobras: é hora de comprar a ação antes da privatização?

Venda de controle da União fica mais próxima com aval dado pelo TCU na última quarta; analistas apontam as perspectivas na bolsa

Pela proposta aprovada pelo TCU, a União fará uma capitalização para reduzir sua participação no capital votante da estatal
20 de Maio, 2022 | 04:20 AM

Bloomberg Línea — Uma das empresas com melhor desempenho do Ibovespa (IBOV) no difícil ano de 2022 pode se valorizar ainda mais. Trata-se da Eletrobras (ELET3; ELET6), cujas ações no acumulado do ano sobem mais de 30%, enquanto o principal índice da Bolsa brasileira avança 2,08% até a última quinta (19).

As perspectivas se tornaram mais positivas nesta semana, quando o Tribunal de Contas da União (TCU) deu o seu aval para que o governo prossiga com o processo de capitalização da maior companhia de energia elétrica do país. A decisão na noite de quarta-feira (18) fez avançar um processo iniciado em 2018.

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Pela proposta aprovada, a União fará uma capitalização - por meio da emissão de novas ações - que deve reduzir sua participação no capital votante da estatal dos atuais 72% para 45%. Ou seja, a empresa deixaria de ter controle do governo. A expectativa é tornar a empresa mais capitalizada, com maior governança e mais capacidade de investir para atender a demanda crescente por energia.

Para especialistas consultados pela Bloomberg Línea, a notícia da aprovação do TCU é positiva para as ações da companhia e abre oportunidade de compra, em especial para investidores com foco no fundamento da empresa e com visão de longo prazo.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, avalia que, apesar do forte desempenho das ações no ano, puxado tanto pela expectativa de privatização quanto pelo fato de a empresa pertencer a um setor considerado defensivo no cenário atual, o processo de venda tende a levar a companhia a ter um “desempenho interessante” adiante, o que justifica a compra do papel.

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“A Eletrobras pode destravar investimento nela mesma, de forma a se mostrar uma empresa mais atual na próxima década. Ela já estava ficando para trás, dado o aparelhamento público, sofrendo com o risco político”, afirma. Segundo ele, a privatização tende a elevar o patamar de operação da estatal elétrica, tornando-a mais eficiente, como aconteceu com a Vale (VALE3) a partir de 1997, o que é benéfico para o investidor com foco no longo prazo.

A avaliação é compartilhada pela Guide Investimentos. Em breve comentário sobre a decisão, a corretora escreve que a capitalização significa um novo caminho para a Eletrobras, sem grandes interferências governamentais na sua administração e dando mais flexibilidade às suas operações.

Gigante adormecida

O que está em jogo para a Eletrobras, destaca Ilan Arbetman, analista de equity research da Ativa Investimentos, é o futuro da companhia. “É uma gigante adormecida do setor que não ganha um leilão de transmissão desde 2014, por não ser competitiva o suficiente”, diz.

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Com a esperada privatização, o analista avalia que a companhia retomará sua capacidade de investimento e poderá dar o salto que falta para se equiparar operacionalmente, financeiramente e em termos de governança com os pares no setor.

Segundo Arbetman, há oportunidade de compra para as ações da Eletrobras para o investidor de olho no fundamento de valor da empresa, mas não para aquele que busca uma posição tática de preço, isto é, que quer comprar na baixa e vender na alta. Ele destaca que ainda não foram detalhadas informações como o preço da ação na oferta, por exemplo.

“Agora, existe uma desconexão do preço atual do papel versus a capacidade de valor que pode ser criada pela frente dados os múltiplos vetores que a capitalização proporciona”, diz o analista, destacando a oportunidade para aqueles com viés de longo prazo.

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Ariane Benedito, economista da CM Capital, também diz que o momento é favorável para a entrada do investidor na tese da empresa. Ela aponta que a estatal tende a se valorizar tanto pelo ganho de eficiência, pela melhora de balanço e pela política de desinvestimento como também pelo fato de a companhia pertencer a um setor defensivo – o de utilities, empresas que prestam serviços públicos –, que sempre compõe a carteira da casa.

Em relatório publicado na quinta (19), o banco de investimento UBS BB estima que a privatização da companhia seja concluída em junho. O banco tem recomendação de compra para as ações preferenciais da Eletrobras (ELET6), com preço-alvo estimado em R$ 70 para os próximos 12 meses, o que implica um potencial de alta de 66,2% ante o fechamento do pregão de quarta (18).

Para a casa de análise Levante Investimentos, quem definirá o sucesso da privatização serão os investidores internacionais. “Só eles têm bolsos fundos o suficiente para saciar a fome de capital do setor. O Brasil tem pontos positivos a oferecer: a geração de energia hidrelétrica, mais ‘limpa’ que a térmica em termos de pegada de carbono, pode ser um atrativo. As contingências e o histórico de decisões não-republicanas do setor (o exemplo mais recente é a obrigatoriedade de construir usinas térmicas onde não há gás) podem assustar”, escreve a casa em relatório divulgado na quinta (19).

“O setor privado tende a ser mais eficiente do que o estatal. Em teoria, privatizar a Eletrobras pode tornar a energia mais abundante e barata para brasileiras e brasileiros. Na prática, só o resultado desse processo dirá.”

Em relatório em abril, analistas do Goldman Sachs apontaram que a privatização poderia destravar entre R$ 65 bilhões e R$ 70 bilhões em valor para a Eletrobras, praticamente dobrando o valor da empresa naquele momento.

Na quinta-feira (19), as ações ELET3 e ELET6 fecharam em alta de 3,03% e 2,54%, respectivamente, negociadas a R$ 43,88 e R$ 43,20 na B3.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.