Bloomberg — Enquanto a Coreia do Norte está relatando centenas de milhares de “casos de febre” por dia, várias organizações internacionais de ajuda dizem que não tiveram notícias de Pyongyang buscando auxílio no combate da covid-19, de forma a enfrentar uma das piores crises do país em anos.
O líder norte-coreano Kim Jong Un declarou estado de emergência e mobilizou tropas para impedir a propagação do que o estado chama de epidemia “maliciosa”, mas não há sinais de que seu regime tenha ou chegará ao mundo exterior em busca de ajuda, de acordo com seis organizações internacionais que no passado prestaram assistência humanitária e médica.
Pyongyang, no entanto, parece ter enviado aviões para a China, seu maior benfeitor, nos últimos dias para buscar suprimentos médicos, informaram NK News e Yonhap News Agency, mas não há sinais de que agências das Nações Unidas, que estiveram no país por décadas, como a Organização Mundial da Saúde e o Programa Alimentar Mundial, estejam prestes a retomar suas operações.
Lee Jusung, secretário-geral do Conselho de ONGs da Coreia para Cooperação com a Coreia do Norte, uma coalizão de 65 organizações não governamentais locais, disse que Pyongyang ainda não solicitou ajuda, vacinas contra a covid-19, nem tratamentos medicamentosos. Hong Sang-young, secretário-geral do Korea Sharing Movement, uma ONG com sede em Seul que forneceu ajuda humanitária, disse que a Coreia do Norte não solicitou nenhuma assistência, seja por rotas diretas ou indiretas.
Permitir que trabalhadores humanitários estrangeiros entrem no país traz riscos para Kim, porque sua chegada pode ser vista como um sinal de que seu governo perdeu o controle do gerenciamento do vírus, o que pode levantar questões internas sobre seu governo.
A Coreia do Norte também ficou “silenciosa” quando recebeu ajuda dos Estados Unidos para combater a covid-19, disse Kim Tae-hyo, primeiro vice-conselheiro de segurança nacional da Coreia do Sul, em um briefing na quarta-feira (18). Pyongyang ainda não respondeu a uma carta oferecendo assistência enviada na segunda-feira, de acordo com o Ministério da Unificação, que supervisiona questões intercoreanas.
A mídia estatal da Coreia do Norte informou na quarta-feira (18) que a “febre” infectou cerca de 1,7 milhão de pessoas e matou 62 nas últimas semanas. O país evitou usar a palavra “covid” para descrever a crescente onda de infecções, provavelmente porque o estado não possui kits de teste suficientes para confirmar que os casos foram causados pelo coronavírus.
Para acalmar os medos
A Coreia do Norte relatou desastres naturais no passado, o que ajudou a estimular a ajuda humanitária, mesmo quando sua economia enfrentava punição internacional por suas provocações militares.
Mas Choi Jung-hun, que trabalhou como especialista em doenças infecciosas na Coreia do Norte e desertou para a Coreia do Sul em 2012, diz que Pyongyang só agora está divulgando os casos para acalmar os temores de uma onda notável de infecções e solidificar a liderança de Kim.
“É um propósito interno para aliviar as tensões”, disse Choi. “Eles continuarão, durante a próxima semana a 10 dias, lançando um número crescente de casos e, em seguida, começarão a relatar números mais baixos para parecer que foi a conquista de Kim”.
Kim também culpou autoridades “irresponsáveis” por não cumprirem suas ordens de saúde pública e realizou reuniões diárias de emergência, que foram transmitidas pela TV estatal.
Falta de pedidos formais
A falta de pedidos de assistência é preocupante para as autoridades de saúde que dizem que os casos em expansão indicam que o país pode estar enfrentando uma crise de saúde pública que pode sobrecarregar seu sistema médico antiquado. O país está ainda mais vulnerável depois de ter rejeitado consistentemente as ofertas de vacinas. Estimativas da agência de ajuda alimentar das Nações Unidas disseram que cerca de 40% de sua população está desnutrida, o que pode ampliar o impacto do vírus.
O Covax, da Gavi, grupo apoiado pela Organização Mundial da Saúde que fornece vacinas a países com base na necessidade, já alocou doses para a Coreia do Norte, que as rejeitou, disse um porta-voz da Gavi por e-mail.
O Covax “sempre esteve pronto para apoiar Pyongyang caso solicitasse nossa assistência”, disse o porta-voz, acrescentando que “até agora, nenhum pedido formal de vacinas covid-19 foi recebido”.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também:
Alívio nas sanções dos EUA à Venezuela beneficiaria empresas brasileiras
Presidente do Panamá quer controles rígidos para criptomoedas
©2022 Bloomberg L.P.