Unicórnios da América Latina não estão imunes à queda de Wall Street

Oito das startups da região que chegaram a ser avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais estão entre as ações que mais caíram no ano

Os preços das ações de alguns dos maiores unicórnios latino-americanos, como o Mercado Livre, estão caindo neste ano
17 de Maio, 2022 | 10:19 AM

Bloomberg Línea — As ações de “crescimento” (growth stocks), chamadas assim devido ao seu elevado potencial futuro, ganharam a preferência entre investidores entre 2020 e 2021, mas o cenário foi revertido neste ano, em um contexto de menor liquidez global com o aumento dos juros nos Estados Unidos. E os unicórnios latino-americanos listados em bolsas não ficaram imunes aos ventos contrários que sopram neste ano nos mercados.

Algumas dessas empresas inovadoras cujo valor ultrapassa US$ 1 bilhão (após o qual uma empresa é classificada como unicórnio) apresentaram quedas de até 50% até agora neste ano em seus American Depositary Receipts (ADRs), os recibos de ações negociadas em bolsas americanas.

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A Bloomberg Línea fez um levantamento de como se saíram as ações de oito unicórnios emblemáticos entre 31 de dezembro de 2021 e 13 de maio de 2022.

Mercado Livre

O Mercado Livre, da Argentina, foi o primeiro unicórnio latino-americano a ser listado em Wall Street, abrindo seu capital em 2007. Seu crescimento desde então tem sido significativo. Quinze anos atrás, cada uma de suas ações valia US$ 28,50, e hoje o preço está em US$ 794,96. No entanto este ano não tem sido positivo para os papéis.

De 31 de dezembro de 2021 até esta terça, as ações do Mercado Livre (MELI) perderam mais de 41% em valor, uma vez que começaram 2022 com a cotação de US$ 1.348,40 por ação.

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Desempenho do preço das ações do Mercado Livre em 2022

O valor da empresa fundada por Marcos Galperin subiu quase 193% em 2020, em linha com o desempenho de outras empresas de e-commerce. No entanto, em 2021 suas ações fecharam com queda de 19,5%.

Globant

A gigante da tecnologia argentina Globant (GLOB) tinha sido outra das grandes vencedoras da pandemia. Em 2020, o preço de suas ações subiu mais de 105% e em 2021 teve um aumento de mais de 44%.

Desempenho do preço das ações da Globant este ano

No entanto, como o Mercado Livre, a Globant não escapou da correção sofrida pelas ações de crescimento e em 2022 acumula queda de 40,5%, o que a coloca em US$ 186,73 por ação. Em 31 de dezembro de 2021, suas ações valiam US$ 314,09.

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No entanto, e também como as do Mercado Livre, as ações da Globant ainda estão bem acima do preço que estavam antes do início dos lockdowns em março de 2020.

Nubank

O banco digital brasileiro Nubank (NU) está listado na NYSE, a Bolsa de Nova York, desde dezembro do ano passado, abrindo o capital em um momento difícil para empresas de tecnologia.

Cotação das ações do Nubank em 2022

Do último dia de 2021 até o presente, as ações do Nubank caíram mais de 48,6% e seu preço está em US$ 4,82, tendo iniciado o ano com um valor de US$ 9,38 por ação.

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O Nubank começou a ser negociado na NYSE em 9 de dezembro com um preço de US$ 11 por ação.

dLocal

A uruguaia dLocal (DLO), que oferece a capacidade de fazer pagamentos internacionais conectando comerciantes globais com mercados emergentes, é a primeira startup uruguaia a se tornar um unicórnio e teve sua oferta pública inicial em Wall Street em junho de 2021.

Desempenho da dLocal até agora este ano

Naquela época, a fintech tinha um preço de mais de US$ 31 por ação.

Em 2022, suas ações caíram mais de 41,8% em relação ao valor no final de 2021, e os papéis hoje giram em torno de US$ 20,77.

PagSeguro

A PagSeguro (PAGS) é uma empresa de serviços financeiros e pagamentos digitais fundada em 2006 e de capital aberto nos Estados Unidos desde o final de janeiro de 2018.

Em fevereiro de 2021, as ações da empresa atingiram um valor superior a US$ 61,92 e desse preço ao preço de fechamento em 13 de maio (US$ 13,47), as ações perderam mais de 78%.

Stone

Outra empresa de tecnologia brasileira cujas ações vem sofrendo as intempéries em 2022 é a Stone (STNE). A empresa de maquininhas de cartões fornece soluções de tecnologia financeira e estreou em Wall Street em outubro de 2018, com um preço de ação acima de US$ 31.

StoneCo, outro dos unicórnios latino-americanos que teve uma jornada acidentada em Wall Street

Em fevereiro de 2021, suas ações ultrapassaram US$ 94, no calor do crescimento das empresas de tech durante a pandemia. Mas desse pico para o valor atual (US$ 8,72), as ações caíram 90,7%.

Enquanto isso, em 2022, seu preço caiu ainda mais, 48,3% em relação a 31 de dezembro de 2021.

VTEX

Outra startup brasileira que lista em Wall Street é a VTEX, especializada em e-commerce na nuvem.

Seu IPO em Wall Street ocorreu no final de julho do ano passado, com um preço inicial de mais de US$ 25 por ação, e que agora valem US$ 4,63.

Tal como acontece com as empresas acima mencionadas, a VTEX vem tropeçando fortemente este ano e sua perda de valor é de 56,8% até agora em 2022.

VTEX em 2022

Mas a perda de valor é muito mais acentuada quando comparada ao preço máximo que as ações atingiram: em agosto de 2021 elas haviam subido para US$ 32,35 e agora caíram 85,7% em relação a esse pico.

Decolar, o crash mais suave

Ações do unicórnio argentino de viagens Despegar (conhecida como Decolar em português) (DESP) caíram “apenas” 8% em dólares do final de 2021 até hoje. Os papéis estão atualmente em US$ 8,99, abaixo do patamar de US$ 9,79 no final do ano passado.

Por que a Decolar se separou do resto dos unicórnios? Segundo analistas, porque a empresa está inserida no setor de viagens, que foi um dos que mais sofreu durante a pandemia - e isso significa que as ações tiveram perdas em 2020 e 2021. A sua atuação, portanto, obedece a uma lógica diferente das empresas restantes desta lista.

E a queda é menos acentuada se levado em conta que, entre 2017 e 2018, quando as expectativas do mercado na Argentina eram favoráveis para esse tipo de empresa, as ações da Decolar caíram cerca de US$ 35.

Foi assim que as ações da Despegar.com se comportaram em Wall Street durante o ano

O contexto

Empresas que são consideradas de crescimento, incluindo unicórnios latino-americanos, saíram de um 2019 muito positivo e ainda dispararam fenomenalmente ao longo de 2020, apoiadas pela liquidez injetada durante a pandemia e pela atratividade extra de muitas dessas ações em um contexto de alta do mercado.

Os valores das ações desses unicórnios continuaram subindo durante parte de 2021, até que a correção atingiu a todos, como é o caso da VTEX, da PagSeguro e da Stone.

O Mercado Livre, embora tenha caído em 2021 e continue despencando em 2022, ainda está bem acima de seu valor antes da chegada do coronavírus. Em contraste, no entanto, as ações da Stone hoje custam um quinto do que custavam antes dos lockdowns e, portanto, não apenas perderam o valor que mantinham durante a pandemia mas agora estão muito piores do que antes do Covid-19.

As ações da StoneCo já foram cotadas a US$ 94,09 por ação e hoje estão em US$ 8,72

Por que elas estão caindo?

“Há definitivamente um movimento macro que atinge todas as ações com perfil de crescimento no momento, ou seja, não é uma questão geográfica que esteja afetando particularmente as empresas latino-americanas”, segundo Pablo Haro, gerente de finanças pessoais e distribuição do Grupo SBS.

Ele diz que o que teve o maior impacto foi o medo do mercado do aumento das taxas de juros e um corte nos fluxos de capital para negócios que não são rentáveis hoje, mas que devem ser no futuro.

“Para empresas que precisam de capital para continuar desenvolvendo seus negócios, a perspectiva é um pouco mais complicada”, alertou.

Semelhanças podem ser encontradas com o que aconteceu com o símbolo da aposta tecnológica na pandemia: o fundo negociado em bolsa ARKQ, da célebre gestora Cathie Wood, que perdeu mais de 30% neste ano e hoje vale 42% menos do que em seu pico em novembro de 2021.

Algo semelhante está acontecendo com o próprio índice Nasdaq, que caiu cerca de 25% até agora neste ano.

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Juan Pablo Álvarez

Biopic: Licenciado en Periodismo en la Universidad Nacional de Lomas de Zamora, con posgrado en Periodismo de Investigación en la Universidad Del Salvador. Especializado en finanzas. Trabajó en Diario Perfil, Ámbito Financiero y El Cronista