Opinión - Bloomberg

Está contratando? Veja qual é a melhor pergunta para fazer ao candidato

Para receber respostas genuínas e espontâneas em vez de um texto decorado, é necessário fazer uma pergunta inesperada

Utilizando as respostas concretas do candidato, é possível observar traços de sua personalidade
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Qual é a melhor pergunta a se fazer em uma entrevista de emprego? Embora a resposta exata dependa do contexto, estabeleci uma única pergunta adequada para muitas situações:

Quais abas estão abertas em seu navegador neste exato momento?

Devo a sugestão ao capitalista de risco Daniel Gross, com quem escrevi o livro Talent: How to Identify Energizers, Creators, and Winners Around the World. Daniel e eu usamos essa pergunta regularmente quando entrevistamos candidatos na área de capital de risco (no caso dele) e para bolsas de estudo (no meu).

Em primeiro lugar, a questão mede o que uma pessoa faz com seu tempo livre, bem como o tempo de trabalho. Se você deixar uma aba do navegador aberta, provavelmente ela tem certa importância para você, e você também espera retornar à página. É uma métrica de seus interesses e de seu fluxo de trabalho.

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Não é balela. Alguns candidatos podem dizer que estão interessados em C++ como linguagem de programação, mas se você realmente tiver uma página aberta no Reddit e em fóruns sobre esse tópico, essa é uma preferência demonstrada.

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Gosto do ditado: “a personalidade é revelada nos fins de semana”. A pergunta sobre as abas abertas no navegador permite indagar sobre isso sem ser muito intrometido, porque se um candidato consideram algumas abas muito pessoais, ele pode simplesmente não querer falar sobre elas.

Também é difícil dar uma resposta ensaiada para essa pergunta. Quase nenhum candidato está preparado para falar sobre as abas abertas em seus navegadores. Então você terá respostas espontâneas e em grande parte verdadeiras e não avaliará apenas a preparação do candidato para a entrevista. Se você não sabe muito sobre C++, não vai fingir que tem uma aba sobre o assunto aberta em seu navegador porque o entrevistador pode insistir no assunto. A melhor estratégia é de fato falar sobre as abas abertas em seu navegador.

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A mentira mais provável é uma pessoa dizer que não consegue se lembrar de todas as suas abas abertas atuais e citar algumas abas abertas de alguns dias atrás para fazer a resposta parecer completa. Até mesmo essa resposta é reveladora.

Como entrevistador, não procure necessariamente as respostas mais intelectuais. Quando perguntei à personalidade da mídia Megyn Kelly sobre suas abas abertas durante um programa de rádio, várias delas tinham a ver com a solução de problemas com o cachorro da família. Uma mentalidade de resolução de problemas é um bom sinal.

A pergunta sobre as abas abertas no navegador também informa o quanto a pessoa pode ser nativa da internet. Conheço pessoas com dezenas ou até centenas de abas abertas em um determinado momento. Isso é um sinal de curiosidade e fluência na Internet – mas talvez também priorização insuficiente e desorganização. Dependendo da vaga, esse pode ser um traço positivo ou negativo.

A pergunta também pode suscitar uma resposta e uma discussão subsequente sobre os hábitos de uma pessoa para trabalhar e organizar informações. Ouvi muitas respostas sobre como o candidato aprendeu a manter algumas abas abertas e abandonar outras, dando assim uma noção de como ele toma decisões. Concentrando-se em informações concretas – as abas abertas – você geralmente obterá informações mais úteis do que se simplesmente perguntasse sobre os hábitos de trabalho.

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A pergunta também avalia o entusiasmo do candidato. Se a pessoa não parece empolgada com nenhuma dessas abas, isso pode ser um sinal de que ela também é indiferente a outras coisas. Mas se você entrar em uma discussão acalorada sobre por que um determinado site é o melhor guia para pesquisar sobre a mitologia de O Senhor dos Anéis, você pode ter encontrado um verdadeiro nerd que adora detalhes. Isso será uma vantagem para muitos empregos, embora não todos.

Você está se perguntando quais abas estão abertas em meu navegador? Eu conto: um software de blog; o Twitter; meu calendário; uma palestra no YouTube sobre criação de mercado e criptomoedas; duas contas de e-mail; dois leilões de arte no Invaluable (devo dar um lance?); meu feed RSS; dezenas de conversas do WhatsApp; a Amazon; e um artigo da Nature sobre covid na China.

Com essas respostas, você tem uma boa noção dos meus interesses e projetos e da minha capacidade de processar rapidamente muitas informações. Acima de tudo, sou um escritor que está em contato constante com muitas pessoas, e as abas do meu navegador refletem isso.

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Então, da próxima vez que você abrir ou fechar uma guia, lembre-se: isso faz parte de sua própria identidade.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion. Professor de economia na George Mason University, ele escreve o blog Marginal Revolution e é coautor de “Talent: How to Identify Energizers, Creatives and Winners Around the World”.

--Este texto foi traduzido por Bianca Carlos, localization specialist da Bloomberg Línea.

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