Caso Luna: O que acontece quando um criptoativo cai a zero

Especialistas em cripto comentam os últimos acontecimentos no mercado e explicam o que pode acontecer daqui em diante

Bitcoin, principal criptomoeda do mundo, recuperou o fôlego nesta sexta (13), acima dos US$ 30.000, depois de uma semana de pânico no mercado de cripto
14 de Maio, 2022 | 07:19 AM

Bloomberg Línea — Tempestade perfeita. No mercado financeiro, o termo caracteriza uma combinação rara de fatores ou circunstâncias que geram efeitos indesejados - e nenhum outro termo poderia descrever melhor o que aconteceu nos últimos dias no mercado de criptomoedas.

Depois do colapso no ecossistema da rede terra, a blockchain anunciou ainda na quinta-feira (12) que interrompeu sua produção de novos blocos para evitar mais danos depois que o valor dos tokens TerraUSD e Luna despencaram abruptamente. Nesta sexta-feira (13), a Luna caiu para US$ 0, de acordo com a CoinGecko, cimentando um colapso impressionante para o ativo.

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O desenrolar afetou todo o mercado de cripto, causando perdas drásticas antes que o sentimento se estabilizasse. Dados da CoinMarketCap mostram que foram perdidos, em valor de mercado de criptoativos, US$ 270 bilhões nos últimos dias, nesta que foi a semana mais volátil para o bitcoin (BTUSD) desde outubro, segundo informações da Bloomberg News.

Embora a situação pareça ter se abrandado hoje (13), com muitas criptomoedas registrando saltos consideráveis e revertendo queda lado a lado aos índices americanos, que encerraram o dia em alta, o saldo da semana foi negativo, após dias de perdas nos mercados.

Conforme especialistas consultados pela Bloomberg Línea, a luna ainda pode recuperar seu valor, já que não há como operar em campo negativo, mas o mais provável é que haja uma reestruturação do ecossistema.

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Teste de estresse

“Foi quase como um acidente de avião”. É assim que Caio Villa, CIO da Uniera, plataforma e gestora de investimentos em cripto, classifica a queda substancial dos criptoativos desta semana. Villa cita um “conjunto de fatores” como motor do sell-off - termo usado para descrever o movimento de venda rápida de ativos por investidores em determinado momento, geralmente após uma notícia negativa.

“A médio prazo o impacto deve ser revertido, inclusive já começamos a ver isso. Porém, no curto prazo, o impacto obviamente é grande por conta da perda de confiança do investidor. É preciso entender que cada stablecoin é diferente e tem uma história própria”, diz.

Na avaliação de Safiri Felix, diretor de Produtos e Parcerias da Transfero, companhia de soluções financeiras baseadas em tecnologia blockchain e emissora do BRZ Token, stablecoin atrelada ao real, este foi um verdadeiro teste de estresse para o mercado de criptoativos.

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“Foi um importante teste de estresse, mas vejo o mercado já reagindo bem. O investidor deve entender que o mercado cripto, ao longo das últimas semanas, foi aumentando a correlação em relação a performance de outros ativos de risco. E esta semana teve uma agenda especialmente carregada. Na próxima semana, isso já será notícia velha”, garante.

“Agora é muito mais importante olhar para outros fatores para determinar o que será do mercado de cripto do que se atentar ao fenômeno relacionado ao terra”, diz Villa.

Respirando por aparelhos

Villa, da Uniera, explica que cada criptoativo é único, e que “o que acontece após chegar perto de zero” depende também do que levou o ativo a perder seu valor. Porém, neste caso específico, o que se sabe até o momento é que acontecerá um “plano de reestruturação para seu ecossistema”.

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Já Fabio Louzada, economista, analista e fundador da escola Eu Me Banco, não acredita numa recuperação da luna, e diz que as exchanges também irão contribuir para o seu fim, embora cada uma tenha autonomia para acionar seu próprio plano de contingência.

“Como uma cripto não pode ficar negativa, ela ficará respirando por aparelhos e esperando algum dia a recuperação do ecossistema, mas acredito que será muito difícil. Quem irá confiar nesta stablecoin - que foi justamente criado com o intuito de dar segurança e parear a moeda? Além disso, tem outras stablecoins que cumprem essa função, por isso não faz sentido o investidor correr ainda mais riscos nesse momento”, diz. “Tudo se sustenta por confiança”.

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Melina Flynn

Melina Flynn é jornalista naturalizada brasileira, estudou Artes Cênicas e Comunicação Social, e passou por veículos como G1, RBS TV e TC, plataforma de inteligência de mercado, onde se especializou em política e economia, e hoje coordena a operação multimídia da Bloomberg Linea no Brasil.