Nova área de defensivos agrícolas no Brasil tem o tamanho da Venezuela e Colômbia

Dados levam em consideração a área total cultivada no país multiplicada pelas aplicações realizadas em cada cultura e o número de produtos

Área tratada em 2021 cresceu 12% em comparação a 2020 e deve registrar novo crescimento neste ano
11 de Maio, 2022 | 02:05 PM

Bloomberg Línea — Os agricultores brasileiros trataram com defensivos no ano passado uma área equivalente a 1,883 bilhão de hectares. O resultado representa um crescimento de 12,1% em comparação aos 1,679 bilhão de hectares tratados em 2020.

Os dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) levam em consideração a área total cultivada no Brasil multiplicada pelo número de aplicações realizadas em cada cultura e o número de produtos formulados em cada uma das aplicações. O conceito é aplicado desde 2020 e utiliza dados encomendados à Spark Consultoria Estratégica.

Assim, a área agrícola tratada com defensivos no Brasil no ano passado é equivalente ao território da Rússia, maior país do mundo em extensão territorial, com pouco mais de 17 milhões de quilômetros quadrados, ou, 1,7 bilhão de hectares.

O crescimento de 12% sobre a área de 2020 significa que 204 milhões de hectares a mais receberam aplicações dos produtos utilizados no combate a pragas na agricultura. Na prática, o Brasil incorporou ao tratamento com defensivos uma área equivalente aos territórios da Venezuela (912,05 mil quilômetros quadrados) e da Colômbia (1,141 milhão de quilômetros quadrados) juntos.

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“O agricultor usa defensivos porque ele precisa, não porque ele deseja. O aumento da área tratada é reflexo do aumento da área plantada, que é consequência do crescimento da demanda por alimentos no mundo”, afirma Júlio Borges, presidente do Sindiveg.

O executivo explica que o Brasil tem aumentado o número de aplicações para o controle de algumas pragas, resultado de uma característica única do Brasil, que consegue produzir até três safras por ano em uma mesma área e pela demora na aprovação de novas tecnologias para combater essas pragas que se tornam mais resistentes a determinados produtos.

Além da área tratada, o volume total de defensivos utilizado no Brasil também cresceu. No ano passado, foram utilizadas 1,183 milhão de toneladas de defensivos, resultado 9,4% maior do que as 1,081 milhão de toneladas aplicadas em 2020. Com isso, a indústria de defensivos no Brasil registrou vendas de US$ 14,65 bilhões, 17,4% a mais do que os US$ 12,48 bilhões do ano anterior.

O aumento registrado no tratamento das lavouras, em dólar seguiu o mesmo ritmo registrado na média dos últimos anos. Agora, em real, esse aumento foi maior por conta da variação cambial do período. Em alguns segmentos, o repasse do câmbio ainda não aconteceu”, afirma Borges.

Principais culturas

A soja foi a cultura que representou a maior área tratada no ano passado. Cerca de 56% da área tratada foi referente à soja, o que representa um crescimento de 15,5% sobre o ano passado. Em segundo lugar aparece o milho, que teve pouco mais de 305 milhões de hectares tratados, representando 16,2% do total em 2021 e crescimento de 23,82%.

Outras culturas que apresentam crescimento na área tratada foram o trigo, com 47,9 milhões de hectares tratados e crescimento de 16%, as pastagens (+8%), café e citrus (+6% cada) e a cana, com avanço de 5%. Em sentido oposto, a área tratada com hortifrutis recuou 1,5%, assim como feijão (-4,5%), arroz (-8%) e algodão (-12%).

Cadeia de suprimentos

Segundo Borges, a cadeia de suprimentos, “aparentemente”, está voltando ao seu estado normal, depois de ameaçar o abastecimento das indústrias no ano passado. Embora os fornecedores de matérias-primas como China deem sinais de normalidade, as indústrias brasileiras estão antecipando suas compras. Entre 60% e 65% dos insumos necessários para a próxima safra já foram recebidos no Brasil ou serão embarcados até o fim de maio. No mesmo período do ano passado, o percentual variava entre 50% e 55% da necessidade.

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“O agricultor não tem sentido falta do produto. Tivemos atrasos pontuais no ano passado, mas que não foram capazes de afetar a produção. Este ano estamos nos antecipando, mas o que ainda nos preocupa é a situação dos portos, onde os navios estão parados e provocando atrasos em alguns embarques, como o ocorrido nos meses de março e abril”, conta Borges

Perspectiva para 2022

O crescimento registrado no ano passado deve se manter em 2022. A expectativa das indústrias é que ocorra um novo crescimento, entre 9% e 10%, neste ano. A justificativa é por conta da do aumento da área plantada esperada para o Brasil, especialmente para a soja e o milho.

“A seca ocorrida no fim do ano passado e início desse ano deve atenuar a demanda por fungicidas, mas o aumento da área de trigo e de soja deve favorecer o aumento da demanda por defensivos”, afirma Borges.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.