Bloomberg — A China denunciou as críticas do chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) à sua estratégia de tolerância zero à covid no país, que vem defendendo uma política deixa a China cada vez mais isolada no cenário mundial e sob pressão de seus próprios cidadãos, confinados em suas casas.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Zhao Lijian, elogiou os méritos da abordagem covid zero da China nesta quarta-feira (11), em resposta às críticas do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. No dia anterior, Tedros disse que a estratégia não era mais sustentável, dizendo que uma “mudança seria muito importante”.
“Esperamos que ele tenha visões objetivas e razoáveis do protocolo e da política epidêmica da China e tente entender melhor os fatos e se abstenha de fazer comentários irresponsáveis”, disse Zhao a repórteres durante um encontro regular em Pequim.
A disputa é notável porque a OMS, e Tedros em particular, forneceu uma fonte de apoio ao presidente Xi Jinping desde que o coronavírus foi descoberto pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan. O elogio inicial de Tedros à resposta da China levou o então presidente dos EUA, Donald Trump, a acusar a OMS de ceder a Pequim. Ele também ameaçou retirar os EUA do organismo mundial de saúde.
Tedros estava entre os líderes mundiais que participaram dos Jogos de Inverno de Pequim no início deste ano, mesmo enquanto os EUA e outros países ocidentais travaram boicotes diplomáticos por questões de direitos humanos. A decisão da OMS de pular a letra “xi” no alfabeto grego ao nomear a variante ômicron também alimentou alegações de que a autoridade estava tentando proteger o presidente chinês.
As observações estimularam um novo debate sobre a estratégia de covid zero nas redes sociais - fortemente censuradas da China - onde vídeos dos comentários de Tedros foram compartilhados e rapidamente excluídos. O órgão político supremo da China, o Comitê Permanente do Politburo, prometeu na semana passada “combater resolutamente qualquer tentativa de distorcer, questionar ou negar” sua política, em um possível sinal de divisões internas sobre o assunto.
O ex-editor-chefe do Global Times, Hu Xijin, rejeitou as críticas de Tedros em postagens nas mídias sociais nesta quarta-feira (11), dizendo que “não importa” o que o órgão da ONU diz. “O Ocidente acha que essa doença se foi, mas ela se foi? Se os outros não sabem, a OMS é quem deveria saber melhor?” disse Hu.
Ainda assim, Hu, um comentarista influente, sugeriu um debate sobre como a covid deve ser tratada. “Atualmente há alguns desentendimentos na China. Esta é a razão pela qual os comentários da OMS causaram agitação”, escreveu ele, acrescentando que “precisamos superar essas divergências e formar um novo consenso”.
Na semana passada, o próprio Hu lançou dúvidas sobre a estratégia da China em um artigo inicialmente postado em sua conta oficial do WeChat. Ele disse que a capital chinesa está enfrentando uma batalha decisiva contra a ômicron e a política de covid zero só vale a pena enquanto seu custo for gerenciável. A postagem foi excluída na sequência.
Em maio de 2020, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, defendeu Tedros das críticas de Trump dizendo que a OMS, sob sua liderança, “fez um bom trabalho”, e que os países que “ignoraram ou rejeitaram seus conselhos estão pagando um preço alto”.
No mês passado, Zhao, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que a estratégia covid zero da China era “consistente com suas realidades nacionais e os princípios orientados pela OMS”.
A OMS critica há muito os bloqueios, defendendo uma abordagem mais moderada que equilibre o controle de surtos com seus impactos sociais e econômicos. As observações de Tedros foram perceptíveis porque questionaram especificamente a política associada a Xi.
Alguns nas mídias sociais chinesas disseram sarcasticamente que Tedros havia passado de “secretário do partido” – em um aceno ao seu apoio inicial à linha do Partido Comunista – a “traidor”. Uma piada em circulação ofereceu uma brincadeira com o nome da OMS dizendo: “Quem diz à China que é hora de se afastar de sua estratégia covid zero?!” A resposta implícita era “ninguém”.
Nesta quarta, Zhao ofereceu uma longa defesa da abordagem da China ao vírus, contrastando-a com o número de mortes em lugares como os EUA. Ele citou um estudo da Universidade de Fudan que descobriu que o país corre o risco de um “tsunami” de infecções por coronavírus, resultando em 1,6 milhão de mortes se o governo abandonar a atual política de restrições.
“Gostaria de dizer explicitamente que não importa o quão difícil seja, o povo e o governo chinês tem toda a confiança em vencer a batalha crítica e difícil contra a covid-19”, disse Zhao. “E temos base e capacidade para tal”, completou.
– Esta notícia foi traduzida por Melina Flynn, Content Producer da Bloomberg Línea.
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