BC eleva Selic para 12,75%, o décimo aumento consecutivo

Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude

Copom eleva juros
04 de Maio, 2022 | 07:54 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu elevar a taxa Selic, em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, o maior patamar desde janeiro de 2017. O aumento desta quarta-feira (4), o décimo seguido, vem em linha com o esperado pelo mercado financeiro. Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude.

“Diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista”, diz o texto.

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No comunicado, o BC ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. “O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.”

Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, o comunicado destaca a maior persistência de pressões inflacionárias globais e incerteza sobre o futuro do arcabouço do país. Já entre os riscos de baixa, o Comitê pontua a possibilidade de reversão da alta das commodities internacionais e uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada.

O BC reforça que “inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente”. “Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente.”

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As projeções de inflação do Copom são de 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023. No entanto, o Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

Confira a avaliação de economistas do mercado financeiro sobre a decisão desta quarta:

  • Fernando Fenolio, economista-chefe da WHG: “A decisão do Banco Central de deixar a porta aberta para um ajuste de menor magnitude no futuro está correta. A partir de agora, dado que [o BC] já subiu bastante a taxa de juros e a política monetária tem um efeito defasado, acho que vale ser mais cauteloso no aperto, também deixando espaço para parar de subir a Selic”. A casa estima uma alta de 75 pontos-base antes do fim do ciclo. “É possível que o BC faça um ajuste extra de 50 pontos-base e depois reavalie”, completa.
  • Eduarda Korzenowski, economista-chefe da Somma Investimentos: “Percebemos uma mudança na postura do BC: na reunião passado, a autoridade monetária disse que 12,75% ao ano era um nível apropriado para encerrar o ciclo de alta da Selic e agora deixaram aberto para a próxima reunião, com provável extensão do ciclo com ajuste de menor magnitude. A gente acredita que possa vir mais uma alta de 0,5 ponto percentual ou de 0,75 ponto. Nossa perspectiva é de pelo menos 0,5 na proxima reunião e não descartamos mais uma alta de 0,75 pp ou mais duas de 0,5 pp”, diz.
  • Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos: “Acredito que o tom do Copom foi até mais hawkish do que o mercado esperava, porque ele não sinalizou apenas a próxima reunião, mas deixou as portas abertas para ir além. Quando ele fala que o Comitê ‘enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas’, entendo como se ele deixasse a porta aberta para uma especulação além de junho diante das pressões inflacionárias. Isso talvez tenha um impacto na curva de juros, dado que várias casas não imaginavam que o BC subiria a Selic além de hoje, enquanto outras pensavam que poderia ser possível cortar juros no fim do ano.”

Forte pressão inflacionária

O rápido movimento de aperto monetário do BC vem de forma a conter o forte aumento dos preços, com alta de 3,20% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) até março e de 11,30%, em 12 meses.

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Para 2022, o relatório Focus, do BC, mais recente, aponta para alta de 7,89% da inflação. A estimativa está em sua 16ª elevação consecutiva. Já para o próximo ano, a expectativa é de IPCA a 4,10%.

Entre os fatores que contribuíem para a pressão inflacionária estão o comportamento das commodities com a guerra na Ucrânia, a queda do dólar e o surto de covid-19 na China, que tem levado a novos lockdowns.

O aumento dos juros tem sido uma tendência no mundo todo. Mais cedo, o Federal Reserve também elevou os juros básicos nos Estados Unidos pela segunda vez consecutiva. O aumento foi de 0,5 ponto percentual – o primeiro desta magnitude desde 2000 –, levando os juros para o intervalo entre 0,75% e 1%. A decisão foi unânime.

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O comunicado do Fed repetiu a linguagem anterior que dizia “com a firmeza adequada na postura da política monetária, o Comitê espera que a inflação retorne à meta de 2% e o mercado de trabalho permaneça forte”. Além disso, reiterou que o Fed “antecipa que os aumentos contínuos no intervalo da meta serão apropriados”.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.

Kariny Leal

Jornalista carioca, formada pela UFRJ, especializada em cobertura econômica e em tempo real, com passagens pela Bloomberg News e Forbes Brasil. Kariny cobre o mercado financeiro e a economia brasileira para a Bloomberg Línea.